Por Luiz Thadeu Nunes e Silva (*)
Caro leitor, amiga leitora, você já viveu um grande e marcante amor?
Tempo atrás, em conversa com amigos fraternos, todos sessentões, a pergunta surgiu — feita por uma amiga, recentemente separada, em busca de um amor para chamar de seu. Espumante na mão, todos a falar, ela pediu a palavra, calando todos em meio a balbúrdia etílica.
— Caso vocês não saibam o que seja um grande amor, desses viscerais, como os vividos por Ângela Ro Ro, digo que também não conheço. — Todos riram.
Um amigo pediu a palavra para dizer:
— Acho que todos nós merecemos alguém que fale de nós como se fôssemos a melhor coisa que aconteceu nesta vida. Que nos queira até mesmo quando estivermos em pedaços. Que nos olhe sempre como se fosse a primeira vez. Que entenda os nossos conflitos, que pare e escute tudo o que temos pra dizer. Você merece alguém que quando te vir perder, te traga de volta para tentar novamente, até ganhá-lo. Você merece um amor que não deixe o hoje pelo incerto amanhã. Que te mostre o que, às vezes, você não consegue ver — que é justamente o teu valor. Você merece alguém que entenda que o teu passado é degrau para que você chegasse até aqui, e que só o que interessa é a felicidade de ambos agora. Que te faça dançar contente pela casa. Você merece compartilhar a vida com alguém que te ajude a dormir tranquilamente. Hoje em dia, as relações não precisam ser extremamente felizes — só precisam ser leves, verdadeiras e tranquilas.
A vida é uma sucessão de instantes que se devoram, um teatro onde os atos não se repetem. Talvez a única eternidade possível esteja no instante bem vivido, na chama breve que arde e ilumina, sem a arrogância de querer durar. O cedo, o tarde e o nunca são apenas gradações da mesma vertigem: a de que nada permanece, e de que tudo o que prometemos às vezes não passa de um eco que se dissolve no ar.
“Nada é suficiente para quem se devorou por dentro”, Pablo Neruda.
“Se a nossa vida é provisória, que seja linda e louca nossa história, pois o valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis,” cito Fernando Pessoa, meu poeta de cabeceira.
O tempo perdido não se encontra nunca mais.
Esta crônica é para um casal de queridos amigos — Mário Tullio e Margareth Ciscato — viúvos, sessentões, avôs, paulistas, que se reencontraram após 45 anos, e estão construindo uma nova caminhada, provando que não existe idade para recomeçar.
Esta semana, a convite do casal, fui tomar um café, regado a boas conversas e muitos planos de futuro. O café que se iniciou no início da noite, durou horas.
Vê-los felizes, narrando fatos pitorescos de viagens recentes e planejando novas aventuras é um bálsamo. Na serenidade da maturidade, quando o açodamento perde força, e não se quer impressionar ninguém, a mansidão de momentos únicos viram ensinamentos.
No outono da vida muitos ainda procuram um amor sem cobranças, que some e suavize a aridez da vida.
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