Luciano Correia (*)
A saída do ministro Márcio Macêdo deixa o pequenino Sergipe ainda mais encolhido nos espaços no governo Lula. Se já não tava bom com ele, pior sem ele. A presença de um ministro sergipano num governo federal é comemorada como final de campeonato. Mesmo os que não remam a favor concordam que é importante para o estado, independente das paixões partidárias. Foi assim quando João Alves Filho se tornou ministro de José Sarney, no chamado governo da Nova República. João foi um dissidente do governista PDS, partido de sustentação da ditadura, um dos fundadores da Frente Liberal, movimento que resultou no PFL e que, junto com o PMDB, formaram a Aliança Democrática que elegeu Tancredo Neves, após 20 anos de presidentes militares.
Antes disso tivemos o poderoso Lourival Fontes como ministro da Propaganda de Getúlio Vargas. Tivemos ainda a discreta passagem de Leonor Franco pelo ministério da Ação Social de Itamar Franco, nos anos 90. No caso de João Alves, tido como grande obreiro e planejador, sua gestão não legou ao nosso estado mais do que as obrigações protocolares de um ministério. Foi o que ocorreu com Márcio Macêdo. Sempre recebido festivamente quando vinha a Sergipe e também recebendo sergipanos em Brasília com deferência — quer dizer: sergipanos da esfera política — não deixou nenhuma realização marcante que fizesse crer que valeu a pena.
Ainda sobre João Alves, tinha fama de sonhador, e um desses sonhos era o famigerado Canal do Xingó. Eu mesmo, como jornalista, cobri inúmeras solenidades no palácio Olímpio Campos sobre “a retomada do canal do Xingó” ou o anúncio dos recursos para finalmente iniciar a redentora obra. Isso desde antes de João ser ministro. O sonho atravessou vários governos estaduais e federais e jamais se realizou: segue sendo uma quimera. Quando dizemos que Sergipe é muito pequeno para exigir benefícios dos governos federais, é o mesmo que dizer que nossos políticos não têm, nunca tiveram, prestígio nacional para trazer obras que representem mais que o ordinário contido nos orçamentos.
Se aqui ou ali tivemos o risonho João Alves gozando da intimidade de Sarney, ou o loquaz Déda encantando os salões da corte brasiliense, nada disso se traduziu em prestígio propriamente dito. Vejamos um exemplo. Nos quase cinco anos que vivi no Rio Grande do Sul, me impressionava a capacidade do governo gaúcho arrancar grandes obras da União. Na época era governadora a senhora Yeda Crusius, tucana de baixa plumagem, portanto oposição ao presidente Lula. Mas essa diferença jamais foi obstáculo para que ela conseguisse constantemente recursos para grandes obras. A BR-116, no trecho que liga o Vale do Rio dos Sinos a Porto Alegre, vivia em estado de obras permanentes, com tantos e novos viadutos a cada semestre.
Márcio é um bom rapaz, muito gentil e bom de papo, mas sai do Planalto menor do que entrou. Não conseguiu fazer as articulações necessárias para vitaminar politicamente o governo, sobretudo junto aos movimentos sociais, justamente o campo que deveria legitimá-lo. Levou quadros locais para Brasília que não conseguiram ir além do fato de serem seus amigos, salvo uma ou outra raríssima exceção. Aqui, manteve uma penca de nomeados que, da mesma forma, pareciam ser pagos pelo erário público para lacrar seus memes em redes sociais. No campo da cultura, onde atuei quando representava a Funcaju, despachou para um lugar de comando uma cabo eleitoral despreparada e ineficiente para exercer função pública.
Se viveu numa indesejável corda bamba nos anos em que esteve ministro, sempre fustigado por boatos e notas dando conta de que cairia a qualquer momento, sua volta à planície sergipana não lhe assegura céu de brigadeiro pela frente. Pelo contrário, já jogou por terra o desejo de tentar uma vaga ao Senado, convencido da superioridade eleitoral de seu adversário contumaz, o senador Rogério Carvalho. Rogério é meio bruto e grosso no trato, mas faz o que Márcio nunca conseguiu: liderar um partido e, porque lidera, manter seguidores fiéis. Mesmo uma cadeira de deputado não será fácil, com João Daniel pelo caminho e Eliane Aquino no horizonte. Márcio Macêdo, boa praça e amigueiro, é agradável companhia para um café. Já a política, esta segue outras lógicas. A ver pela sua longa convivência pessoal e afetiva com Lula, sempre renovada, mas que não vale a permanência no cargo.
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