Prof. Dr. Claudefranklin Monteiro Santos (*)
Não é a primeira vez que escrevo sobre Gonzaguinha. Já o fiz por ocasião da pandemia de COVID-19[1]. Revisitar o tema se faz necessário por dois motivos. Primeiramente, em razão da celebração da memória de seus 80 anos de nascimento (22 de setembro de 1945), momento sempre oportuno que a cultura nos oferece para manter vivo o legado de um artista ou personalidade. E, claro, por conta do momento político que estamos vivendo, em que à democracia brasileira têm sido impostos grandes desafios.
Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior, para além de ser filho de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, conseguiu imprimir uma carreira própria, e um estilo específico também, transitando entre a MPB e o Samba. Teve seu primeiro trabalho fonográfico publicado no momento mais duro do regime militar brasileiro, em 1968, com o LP “Luiz Gonzaga Jr (Gonzaguinha)”. O primeiro sucesso, entretanto, só veio no segundo trabalho, em 1973, com a canção “Comportamento Geral”. Um dos hits que procuraram dar recados para os autoritários que governavam o Brasil, com mãos de ferro. Veja este verso:
“Você deve aprender a baixar a cabeça / E dizer sempre muito obrigado / São palavras que ainda te deixam dizer / Por ser homem bem disciplinado”.
Em 1976, mais duas canções caíram no gosto popular e passaram a dar, cada vez mais, notoriedade a Gonzaguinha. A primeira, numa pegada mais romântica e regional, “Espere por mim morena”. Ainda assim, de alguma forma, também tem uma conotação política, se levarmos em consideração que pode ser um homem apaixonado (certamente exilado) pedindo para a sua amada pensar nele, que um dia ele vai chegar. A outra é “Começaria tudo outra vez”, famosa na voz de Maria Bethânia.
A partir de 1977, ele começa a assinar como Gonzaguinha, nos seus novos trabalhos. No ano seguinte, três mais novos sucessos: “De lá. Coração” / “O preto que satisfaz” (música tema da novela “Feijão Maravilha”, de 1979) / e “Explode Coração”, também famosa na voz de Maria Bethânia e música tema da novela de mesmo nome, em 1995). Há quem diga que a canção simula uma relação sexual, um orgasmo. Vale destacar que nesse mesmo ano, divide uma canção com o pai, no clássico “Vida de viajante”.
Do LP “Recado” (1978), destaque para canção “O que foi feito devera”, grande sucesso na voz de Elis Regina. No LP “De volta ao começo” ele já era um artista consagrado, superando, inclusive, a “sombra” do pai. Todo mundo queria gravar e interpretar suas canções, principalmente as mulheres. Deste trabalho, um dos melhores de sua carreira, destaco as canções: “Grito de alerta” (novamente famosa na voz de Bethânia); “Sangrando” (regravada por Ana Carolina); “De volta ao começo” (com participações originais de Milton Nascimento e Luiz Gonzaga e, também, famosa na voz de Nana Caymmi). Além, claro, de “E vamos à luta”, canção que foi um dos temas de um programa de rádio (Relicário Cultural) e de extensão universitária da UFS na rádio comunitária Juventude FM, que conduzi entre os anos 2010 e 2013, em Lagarto-SE.
Em 1982, ele emplacou aquele que foi, talvez, um dos seus maiores sucessos. Daquele que se tornam atemporais e marcantes: “O que é o que é”. Aquele ano, para Regina Echeverria (Gonzaguinha e Gonzagão – uma história brasileira, 2012), foi de grande virada artística e pessoal para Gonzaguinha. Depois de relações amorosas inconstantes, de um repensar na carreira e de reaproximação com o pai, que estava querendo se aposentar, ele se dedicou ao LP “Caminhos do coração”, um trabalho intimista que traz canções como “Maravida”, outra música famosa na voz de Bethânia e também regravada por Gal Costa, Caetano Veloso, Fagner e Daniel.
No LP “Alô, Alô Brasil” (1983), destaque para “Um homem também chora” e “Feliz”. Em “Grávido” (1984), outros dois sucessos icônicos: “Nunca pare de sonhar”, do qual se sobressaem os versos “Fé na vida, fé no homem, fé no que virá / Nós podemos tudo, nós podemos mais / Vamo’ lá fazer o que será”; e “Lindo lago do amor”, também interpretada por Tim Maia.
Antes do trágico acidente de carro que lhe tirou a vida no dia 29 de abril de 1991, aos 45 anos de idade, lançou ainda os LPs “Olho de lince – trabalho de parto” (1985), “Corações marginais” (1985) e “Luizinho de Gonzagão, Gonzaga Gonzaguinha” / “É”, ambos de 1990. Postumamente, destaque para o álbum “Cavaleiro Solitário” (1993), com destaque para a música tema do disco, que marca a sua trajetória artística.
Por fim, quero ainda destacar uma canção que passa despercebida de sua trajetória e que é muita oportuna para refletirmos nosso tempo. Refiro-me a “Amanhã ou depois/Achados e perdidos”, de 1980, em parceria com Marília Medalha e MPB4. Na verdade, é uma canção, originalmente conhecida como “Pequena memória para um tempo sem memória”, de 1974, cuja letra, faço especial menção aos versos:
“São cruzes sem nomes / Sem corpos, sem datas / Memória de um tempo / Onde lutar por seu direito / É um defeito que mata /
E tantos são os homens por debaixo das manchetes / São braços esquecidos que fizeram os heróis / São forças, são suores que levantam as vedetes / Do teatro de revistas, que é o país de todos nós”
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[1] SANTOS, Claudefranklin Monteiro. Gonzaguinha – um grito de alerta para o vazio da vida. Agência Jornal de Notícias. Aracaju-SE, 29 de janeiro de 2021. Disponível em https://api.ajn1.com.br/type_blogs/gonzaguinha-um-grito-de-alerta-para-o-vazio-da-vida/. Acessado em 23 de setembro de 2025.
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