Antônio Carlos Garcia (*)
Apesar de o tarifaço do governo Donald Trump não ter atingido as exportações brasileiras de suco de laranja, o que de fato preocupa produtores e autoridades em Sergipe é o efeito de uma supersafra histórica em 2025. Isso vem pressionando a capacidade de processamento das indústrias locais, derrubando preços e colocando em risco a rentabilidade, especialmente, de médios e pequenos produtores.
Diante do cenário, o secretário de Estado da Agricultura, Desenvolvimento Agrário e da Pesca, Zeca Ramos da Silva, se reunirá na manhã desta sexta-feira (1º de agosto) com representantes das indústrias Maratá Sucos e Tropfruit, principais exportadoras do suco concentrado de laranja, em busca de soluções para o escoamento da produção. A safra, inicialmente estimada em 420 mil toneladas, pode ultrapassar 500 mil toneladas, segundo projeções atualizadas da Emdagro. “Os produtores cuidaram melhor dos sítios e isso elevou a produtividade. É uma supersafra, com pico entre julho e setembro”, afirma o diretor técnico do órgão, Jean Carlos Nascimento Ferreira.

O aumento expressivo de mais de 20% em relação às 382 mil toneladas colhidas em 2024 tem gerado um verdadeiro gargalo logístico. Caminhões de municípios como Rio Real (BA), Lagarto, Itabaiana e Boquim enfrentam filas de até três dias para descarregar nas indústrias, como a Top Fruit, em Estância. O motorista Cássio Fonseca Silva relata transportar 20 toneladas por semana, enquanto Jeferson Maciel, que leva cascas da fruta para uso como ração animal, cobra R$ 50 por tonelada.
Capacidade máxima
Segundo a economista Paloma Gois, da Faese (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Sergipe), cerca de 85% da produção citrícola estadual — distribuída entre 14 mil propriedades — é destinada à indústria, que hoje opera em sua capacidade máxima. “A fila de caminhões é reflexo direto da produção que cresceu, mas infraestrutura não acompanhou esse crescimento. Em um ano, o volume de entrada de laranjas nas indústrias aumentou 30%, mas as plantas industriais continuam as mesmas”, destaca.
Além da saturação das indústrias, o colapso dos preços é outro fator de preocupação. Em um ano e meio, o valor da tonelada da laranja caiu de cerca de R$ 2.015 para apenas R$ 600, impactando diretamente o Valor Bruto da Produção (VBP), que recuou 4,4% no primeiro semestre de 2025. “É uma situação delicada. O produtor investiu em insumos e tecnologia para colher melhor, mas agora não consegue vender com margem. A crise afeta principalmente o médio e pequeno agricultor, muitos deles ligados à agricultura familiar”, afirma Paloma.

Nas feiras e mercados, o impacto também é evidente. Na Ceasa de Aracaju, o cento da laranja, que custava entre R$ 50 e R$ 60 em junho, agora é vendido entre R$ 40 e R$ 30. A redução de preços, embora seja uma boa notícia para os consumidores, reflete a pressão da superoferta. “Tem saído bem. O preço caiu, mas o consumidor está aproveitando”, diz João Honório, que há oito anos comercializa laranjas vindas de Umbaúba.
Já Fábio Souza, com 30 anos de experiência na Ceasa, lembra que essa é apenas a segunda vez que vê o cento da laranja a esse preço. “A outra foi há 10 anos, por conta de uma praga. Mas agora é excesso mesmo”, comenta.
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