sexta-feira, 19/04/2024
Dona Júlia, da Casa do Pão: “Gosto do que faço, de estar à frente da padaria. Tenho força, energia e estou bem" Fotos: Jorge Henrique

Sergipe tem mais de 9 mil empreendedores na terceira idade, diz pesquisa do Sebrae

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Cerca de 9 mil pessoas em Sergipe são empreendedoras da terceira idade e estão comandando um negócio. A informação é do Sebrae, que analisou dados da mais recente Pesquisa Nacional por Amostragem Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em todo o Brasil, no final de 2021, quando a pesquisa foi divulgada, havia cerca de 1,8 milhão de empreendedores da terceira idade, o que equivale a 7,3% do total do país.

Ivaldo Mesquita: “Psicólogo orientou que não devíamos parar de trabalhar”

De acordo com o estudo do Sebrae, a grande maioria dos empreendedores tem 65 anos ou mais e 73% deles são homens, sendo que 36% deles atuam no setor de serviços. O engenheiro de petróleo Ivaldo Mesquita Ferreira, 73 anos, é um deles. Ele fundou a Wellcon, em 1998, que presta serviços de consultoria e treinamento em Aracaju e em outros Estados. “Trabalhei mais de 30 anos na Petrobras e era para estar aposentado. Havia um treinamento na Petrobras que apelidávamos de ‘pé na cova’, pois dizia que a sobrevida após a aposentadoria era de somente cinco anos. O psicólogo orientou que não deveríamos parar”, afirmou.

Ivaldo seguiu o conselho e hoje a Wellcon (Well, poço; con, controle) é a única empresa sergipana, até agora, com certificação de controle de poço IADC (International Association of Drilling Contractors). “Estou feliz com a empresa”, assegura, ao lembrar, também, que foi a primeira a instalar energia solar. Atuamos com cursos online, mas podemos dar treinamentos presenciais”, destacou. A empresa, que gera 20 empregos diretos, tem cerca de 300 alunos por ano, e foi através do Sebrae que recebeu a certificação ISO, e ganhou prêmios.

“Não sei ficar parado”

José Américo: “Tudo tem a ver com tudo”

Outro exemplo de empreendedor é José Américo dos Santos, 68 anos, que depois de aderir ao plano de demissão do Sebare, em 2018, decidiu continuar trabalhando. Montou dois coworkings: o Eco Working, no bairro Jardins; e o Espaço Luz, na Coroa do Meio – ambos em Aracaju.  As duas empresas são familiares. Ele administra o Eco Working, enquanto o seu clã feminino cuida do Espaço Luz.

José Américo é um administrador, mas não se pode deixar de considerar a sua qualidade como estudioso. Ele é arquiteto, estatístico, economista, bacharel em Direito, engenheiro de segurança e atualmente estuda Psicanálise. “Tudo tem a ver com tudo”, garante.  Também é autor do livro “Análise Econômica do Direito no Ordenamento Jurídico Brasileiro, fruto de uma monografia feita na Universidade Federal da Bahia (UFBA), que sugeriu a publicação por lá. “Mas eu trouxe para Sergipe e a Universidade Federal de Sergipe (UFS) e o Sebrae fizeram uma parceira, assim o livro foi publicado”, completou.

José Américo trabalhou 40 anos como consultor do Sebrae, mas nesse período foi cedido a diversos órgãos estaduais para prestar serviços. “Fiz projetos para Secretaria de Estado da Educação, Deso, Prefeitura de Aracaju”, lembra.  Mas o que o motivou a continuar trabalhando e estudando? Primeiro que não sei ficar parado. Não consigo. Vejo o trabalho como a possibilidade de retribuir um pouco do que você aprendeu. Tem que passar isso para alguém, para renovar, para que este processo seja contínuo”, frisou.

Depois de cinco formaturas, José Américo estuda, agora, Psicanálise

Pioneirismo

Num ambiente eminentemente masculino, a empresária Júlia Moreira Prata, 63 anos, se destaca como a proprietária da Casa do Pão, um estabelecimento que tem 70 anos de fundado, e vem passando de pai para filho. Durante 29 anos, a padaria foi administrada pelo marido de Júlia, José Alves Filho, que se afastou há 15 anos, porém ela decidiu continuar com o empreendimento. “Gosto do que faço, de estar à frente da padaria. Tenho força, energia e estou bem. É uma questão de sentimento, de vontade, de querer ver a coisa ir para frente”, ressaltou.

Coordenando16 funcionários, Dona Júlia, como é mais conhecida, diz que a padaria, localizada na praça João XXIII, no centro de Aracaju, funciona de segunda a sábado, e, além de vender pães e bolos, tem um diferencial. Oferece café da manhã, das 6 às 10 da manhã, e almoço das 11 às 15 horas. “À noite temos caldos, sopas, mas só funcionamos até as 19 horas”, completa.

padaria
Dona Júlia trouxe um curso para Sergipe que revolucionou as padarias

Dona Júlia foi pioneira em trazer, pela primeira vez para Sergipe, o Propan (Programa de Desenvolvimento da Alimentação, Confeitaria e Panificação), que atua junto às empresas oferecendo treinamentos e consultorias. O Propan é um projeto realizado em parceria com a Associação Brasileira das Indústrias de Panificação e Confeitaria (Abip).

Ela estava no Rio de Janeiro num congresso de panificação, há uns 15 anos, ficou empolgada com o que assistiu, foi até um dos palestrantes e disse que gostaria de levar o Propan para Sergipe. Esse palestrante, cujo nome ela não se recorda, orientou-a a procurar o Sebrae. Quando chegou em Aracaju, ela foi até o Sebrae e o consultou que a atendeu explicou que ela precisava reunir 10 padarias para realizar o Propan. E assim ela o fez.

“Lembro que reuni a Karolmila (que já fechou), Good Pão, União, Casa do Pão, claro, dentre outras. E aí veio treinamento para todo mundo e nós nos desenvolvemos. Foi um ano de treinamento. Digo a você que foi um divisor de águas. Passamos a ver as pessoas como colegas e não como adversários. Foram surgindo novos Propans e todos que integraram se desenvolveram”, disse, orgulhosa Dona Júlia.

Dona Júlia é uma empreendedora nata. Ela conta que com 14 anos começou a vender produtos da Avon, porque queria ter seu próprio dinheiro.  “E sempre foi assim, quis trabalhar. Depois fiz biscoitos para vender, dentre outras. A família está arrumada. Minhas filhas já escolheram as profissões delas – uma dentista e outra advogada –, tenho dois netos e vou seguindo trabalhando”, disse.

Empreendedorismo mais presente

 

A Pesquisa Nacional por Amostragem Contínua do IBGE diz que o número de idosos no Brasil deve duplicar até 2042. Ou seja, um em cada quatro brasileiros terá mais de 60 anos e a probabilidade de o empreendedorismo fazer parte da vida dessas pessoas.   A Organização Mundial da Saúde (OMS) revela que em 2050 haverá igualdade entre o número de idosos e o de jovens até 15 anos.

Um levantamento do Sebrae mostra, também, que a maioria dos empreendedores acima de 60 anos está no setor de serviços (36%), seguido de Agropecuária (23%), Comércio (19%), Indústria (14%) e, por último, Construção (8%). As razões para empreender na aposentadoria são várias, desde a necessidade de obter uma renda extra para complementar o benefício até a vontade de permanecer produtivo, fazendo algo totalmente novo ou usando a experiência acumulada ao longo dos anos de trabalho.

O estudo do Sebrae revela que empreendedores com 65 anos ou mais são, em grande maioria, homens (73%), brancos (59%), chefes de família (73%), dedicando-se a um único trabalho (98,8%). Em termos de escolaridade, o empreendedor da 3ª idade é o que tem menos instrução quando comparado aos demais grupos. Em sua maioria, eles possuem nível fundamental (48%). Apesar disso são os que apresentaram o maior rendimento, com 10% e ganhos de mais de cinco salários-mínimos.

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