Por Thiago Santos (*)
O dia amanhecia tímido na Orla da Atalaia, em Aracaju. Eram 5h30 da manhã, e o céu começava a tingir-se em tons rosados enquanto uma brisa leve misturava o cheiro do mar ao perfume das árvores. Aos poucos, a orla se transformava: passos apressados, tênis batendo no asfalto, rostos iluminados pelo esforço e pela alegria. Foi nesse cenário que estava Lívia Fernandes Pires, uma educadora física apaixonada, com um sorriso largo que parecia acordar até quem ainda sonhava.
Entre abraços e cumprimentos calorosos, a entrevista com Lívia acontecia em meio ao movimento vivo da corrida. “Aqui é mais que treino, é tribo”, dizia ela, com os olhos brilhando. Lívia trocou o sonho das artes cênicas pela Educação Física, e foi no esporte que encontrou seu verdadeiro palco — onde a superação de cada aluno é a verdadeira cena aplaudida de pé.
Por que tanta gente procura grupos de corrida? Lívia é direta: “Porque o movimento cura.” Seja a dor do corpo ou da alma, correr em grupo é encontrar pertencimento, incentivo, conexão. Em um clube, o apoio mútuo transforma o desafio pessoal em festa coletiva — cada pequena vitória é celebrada como uma conquista do grupo.
“Se você estiver sozinho, entre num clube de corrida. Você vai encontrar sua energia nas conexões que criar”, aconselha Lívia, com a voz firme de quem já viu muitas transformações.
Preparação
Antes de se jogar nas pistas, o iniciante precisa cuidar da saúde. Um check-up médico é essencial, especialmente focando na capacidade cardiorrespiratória. Depois, é hora de procurar um profissional qualificado, que vai planejar o treino respeitando o ritmo de cada corpo.
Erro comum? “Querer melhorar todo dia”, alerta Lívia. O corpo precisa de tempo para evoluir. A pressa é inimiga do progresso.
E sobre a idade para começar? “Não existe uma idade ideal. Tenho alunos que começaram com 10 anos e outros que começaram aos 67 e hoje fazem meia maratona”, conta, com orgulho.
Para quem quer entrar nesse universo, a mensalidade de um grupo de corrida em Aracaju varia entre R$ 120 e R$ 250. Isso inclui o acompanhamento profissional, planilhas personalizadas e, muitas vezes, uma série de encontros sociais que fortalecem ainda mais a comunidade entre os corredores.
Participar de corridas oficiais também tem seu custo. As inscrições para provas de 5km a 10km variam entre R$ 80 e R$ 150; meias maratonas (21km) custam cerca de R$ 180 a R$ 300. Já maratonas completas e ultramaratonas podem ultrapassar os R$ 500, dependendo da estrutura oferecida (hidratação, medalhas, kits de corrida, atendimento médico).
Mas por que as corridas são tão caras? A organização de uma prova envolve muitos custos: fechamento de ruas, segurança, postos médicos, ambulâncias, hidratação a cada quilômetro, estrutura de largada e chegada, medalhas e camisetas. Tudo isso impacta no valor final.
Calendário Oficial de Corridas de Rua em Sergipe – 2025
- Corrida dos Advogados (CAASE/OAB-SE) – 25 de agosto
- Corrida Outubro Rosa (Grupo Mulheres de Peito) – 27 de outubro
- Meia Maratona de Aracaju (42k Assessoria) – 10 de novembro
- Corrida da Ponte (Aracaju/Barra) – 21k – 15 de dezembro
- Corrida da Virada (4K Assessoria) – 31 de dezembro
Para mais provas e o calendário completo de corridas de rua no estado, acesse o site oficial da Federação Sergipana de Atletismo.
A Visão do Treinador

Celso Rodrigo Santos Fernandes, 33 anos, tem mais de 12 anos de experiência como treinador e nove à frente de sua própria assessoria. Especialista em fisiologia e triathlon (Unicamp), ele carrega no currículo três classificações para o Mundial IRONMAN 70.3. A entrevista aconteceu no calçadão da 13 de Julho, onde o olhar sério e focado deixava evidente o amor pela corrida.
“Vejo o crescimento das assessorias como algo extremamente positivo. O número de praticantes tem aumentado, e é essencial que esse público seja acompanhado por profissionais capacitados”, afirma.
Para ele, um dos maiores atrativos das assessorias é o sentimento de pertencimento: “Treinar em grupo proporciona bem-estar. É um ambiente motivador, com inúmeras possibilidades de interação.”
Os planos oferecidos por sua equipe variam de R$ 200 a R$ 800, a depender dos objetivos e da personalização desejada. “Antes de iniciar, conversamos com o atleta, realizamos uma triagem e montamos a rotina de treinos para evitar interrupções desnecessárias”, explica.
Sobre a idade ideal para iniciar:
“A partir dos 18 anos, com mais intensidade. A partir dos 16, com cargas reduzidas. Abaixo disso, o ideal é apenas brincar de correr, sem rotina ou exigência.”
O corredor que nunca parou

David Ferreira, 30 anos, é empresário e corredor amador. Com um sorriso aberto e cercado de amigos na concentração para mais um treino, ele conta que começou a correr há cinco anos com um objetivo: perder peso.“Alcancei a meta, mas segui correndo porque fui descobrindo novos desafios.”
David escolheu correr com assessoria por um motivo claro: “Queria um profissional para me orientar. Queria treinar com mais objetividade.”
Entre os maiores aprendizados que a corrida trouxe, ele destaca disciplina e foco. “Nem sempre você está disposto a acordar às 4h da manhã. Mas me levanto e vou. Nunca me arrependi de um treino.”
E a estrutura? “Atende às expectativas. Tem aquecimento, hidratação durante o percurso e alongamento depois. Isso faz toda a diferença.”
Em meio a tantos relatos, um depoimento ecoou mais forte. Antônio Alves, professor de espanhol de 56 anos, suava sob o nascer do sol enquanto contava sua história. De 100kg e triglicerídeos altíssimos, hoje é um ultramaratonista que já correu 100 quilômetros em Salvador — 12 horas de corrida ininterruptas, da noite ao amanhecer.
“Você vê o sol nascendo e pensa: eu consegui”, disse ele, com olhos marejados. Para Antônio, a maior linha de chegada não é a fita final, mas a superação silenciosa dentro de si. Antônio resume o espírito da corrida: “Se está doendo, vai passar. É o corpo se adaptando. É preciso respeitar o tempo, treinar a mente junto com o corpo. E, acima de tudo, acreditar”.
Se existe um conselho que une todos os corredores, é este: Correr é sobre recomeçar. Sobre dar o próximo passo, mesmo cansado. Sobre acreditar, mesmo duvidando.
No final, seja cruzando a linha de chegada em primeiro lugar ou chegando sorrindo, entre aplausos e o próprio orgulho, o mais importante é ter ido.
Porque correr e coçar… é só começar.
(*) Estagiário sob a coordenação do jornalista Antônio Carlos Garcia.