terça-feira, 23/04/2024
Hernan Centurion Sobral: "O câncer colorretal é uma doença muito prevalente, pode ser prevenida"

Março Azul: câncer colorretal é a segunda causa de doença entre homens e mulheres; médico Hernan Centurion Sobral diz que “o diagnóstico precoce é fundamental para a cura”

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Março Azul
Nos 31 dias do mês de março há muitas comemorações. Hoje, 20, é o Dia Internacional da Felicidade. E durante todo este mês, a Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva (Sobed) e a Sociedade Brasileira de Proctologia também o escolheram para conscientizar e chamar a atenção das pessoas para a importância do exame de colonoscopia – o Março Azul -, a fim de evitar o câncer colorretal que, no Brasil, atinge mais de 40 mil pessoas por ano. Mas, o que tem a ver o Março Azul com o Dia Internacional da Felicidade?  Tudo, afinal cuidar da saúde é uma das maneiras para ser mais feliz.

Médico Hernan Centurion Sobral, da Sociedade Brasileira de Proctologia
O médico proctologista Hernan Centurion Sobral, da Sociedade Brasileira de Proctologia, diz que o “diagnóstico precoce é fundamental para que a cura seja maior”.  O principal exame para evitar o câncer colorretal é a colonoscopia. De acordo com Hernan, “o exame é altamente tranquilo, com aparelhos cada vez mais modernos, feito com anestesia, com o acompanhamento de um médico anestesiologista que vai monitorar todos os sinais vitais do paciente. É um exame seguro, indolor, rápido e relativamente acessível, não só na rede pública como privada”. O especialista destaca a necessidade de fazer o exame, pois é possível detectar a existência de pólipos no intestino grosso e retirá-los no exame. A idade ideal para se submeter à colonoscopia é a partir dos 45 anos, caso não haja nenhum histórico na família de câncer colorretal.

O médico recomenda que as pessoas façam dieta rica em fibras, pobre em gordura de origem animal; evitem alimentos muito processados, o tabagismo e o alcoolismo, além de fazerem atividade física, “que contribuem nesse processo de prevenção da doença”, observou.

Hernan Centurion Sobral formou-se em Medicina na Universidade Federal de Sergipe (UFS) em 2003, em seguida fez residência em cirurgia geral no Hospital Heliópolis, em São Paulo, durante dois anos. Logo depois, ingressou na residência de Proctologia, concluindo a formação em 2007. Em 2008, prestou prova de título da Sociedade Brasileira de Proctologia, sendo titular desta entidade desde essa época. Depois, retornou para Aracaju, onde trabalha.

 

Confira a entrevista com Hernan Sobral e não esqueça: “cuide-se, e seja feliz todos os dias”.

 

SÓ SERGIPE – Estamos no mês de março, dedicado à conscientização e prevenção do câncer colorretal. Por favor, o senhor pode explicar o que é o câncer colorretal?

HERNAN CENTURION SOBRAL – O câncer colorretal é um tumor maligno que acomete o intestino grosso e o reto. Todo tumor maligno que acomete uma parte do intestino grosso, que é o cólon e o reto, nós consideramos o câncer colorretal.

Sangramento: sintoma principal do câncer colorretal

SÓ SERGIPE – Quais são os principais sintomas dessa doença? Como a pessoa percebe que, digamos, há algo errado com ela?

HERNAN CENTURION SOBRAL – O principal sintoma do câncer colorretal é, inicialmente, o sangramento. Então todo sangramento, sobretudo, o vivo, chama atenção e eu diria que seria o sintoma principal. Além disso, nós podemos identificar alteração do ritmo intestinal, ou seja, a pessoa acaba ficando com o intestino desregulado, quer funcionando demais, com diarreia, ou ficando mais preso, constipado. Além disso, identificamos massa abdominal palpável, um caroço na barriga; e ainda um quadro de perda de peso inexplicado. Ou seja, o paciente tem um emagrecimento rápido e importante, além de dor abdominal difusa e constante. Esses seriam os principais sintomas do câncer colorretal.

SÓ SERGIPE – Com qual idade as pessoas devem começar a fazer o exame de colonoscopia? E com qual periodicidade?

HERNAN CENTURION SOBRAL – Diante de estudos estatísticos, foi percebido que esses tumores malignos, na grande maioria, advêm de pequenas lesões chamadas pólipos, e eles aparecem por volta dos 40 a 45 anos de idade. Aqueles pacientes com histórico de câncer do intestino, na família, precisam antecipar a investigação por volta dos 40 anos ou menos, a depender da idade que o parente, em questão, foi diagnosticado com câncer. Por exemplo, se o parente foi diagnosticado com câncer aos 40 anos, o cidadão deve iniciar a prevenção 10 anos antes, por volta dos 30 anos. Mas na população em geral nós recomendamos a partir dos 45 anos para iniciar a prevenção na procura desses pólipos que podem, no futuro, virar câncer. Ou aqueles que têm histórico na família, de um modo geral, a partir dos 40.

“Câncer colorretal é o tumor que mais mata o homem, só perde para o câncer da próstata, e é o segundo que mais mata a mulher, só perde para o câncer de mama.”

Hernan: “As pessoas têm procurado mais o consultório”

SÓ SERGIPE – O senhor no seu dia a dia como médico, percebe que há um certo temor ou constrangimento das pessoas em fazer a colonoscopia?

HERNAN CENTURION SOBRAL – O constrangimento ainda existe, porém, nos dias de hoje tem diminuído esse pudor. As pessoas têm procurado mais o consultório e sempre buscamos conscientizar de que vale fazer um exame , pois é relativamente tranquilo, feito com sedação, ou seja, o paciente vai dormir e ao acordar não lembrará absolutamente de nada. Essa vantagem da prevenção sobrepõe qualquer pudor ou receio que o paciente venha a ter. É claro que a divulgação vai tirando também todas as dúvidas, por isso é que foi instituído o Março Azul, um mês dedicado à conscientização do câncer colorretal, que é o tumor que mais mata o homem, só perde para o câncer da próstata, e é o segundo que mais mata a mulher, só perde para o câncer de mama. Diante dessa incidência elevada é importante que nós façamos essa divulgação, não só do problema, mas que este problema pode ser prontamente prevenido com a retirada dos pólipos, destas lesões precursoras e que o exame é altamente tranquilo, com aparelhos cada vez mais modernos, feito com anestesia, com o acompanhamento de um médico anestesiologista que vai estar  monitorando todos os sinais vitais do paciente. É um exame seguro, indolor, rápido e relativamente acessível, não só na rede pública como privada.

SÓ SERGIPE – Se no exame de colonoscopia o médico detectar a existência de pólipos, o que fazer? E gostaria que o senhor detalhasse o que são pólipos, como eles surgem nos intestinos, por favor.

HERNAN CENTURION SOBRAL – Toda vez que fazemos a colonoscopia e nos deparamos com lesões polipóides, ou seja, com os pólipos, na grande maioria das vezes nós os retiramos de imediato, salvo aqueles pólipos que tecnicamente  não são factíveis de serem retirados, principalmente pelo tamanho da lesão.

“Esse pólipo vai surgir num certo período da vida e é por isso que é importante que se faça esse rastreamento para saber a existência ou não dessas lesões…”

A gente programa um outro tipo de abordagem terapêutica, outro tipo de ressecção, chamada mucosectomia, ou então, às vezes, o pólipo mesmo benigno é muito grande e inviabiliza a retirada pela colonoscopia,  e aí nós temos de fazer o procedimento cirúrgico. Mas, eu diria que na grande maioria dos exames detectamos esses pólipos e no mesmo momento já retiramos e enviamos para análise histopatológica, a conhecida biopsia. O exame de colonoscopia tem mais uma vantagem agregada. Além do diagnóstico, ele também tem o intuito terapêutico. Vê o pólipo e já o tira. Salvo, se for muito grande e tecnicamente arriscado se fazer essa retirada durante o procedimento. Mas isso é uma exceção, não é o nosso dia a dia. Os pólipos são pequenas alterações da mucosa intestinal, que é o revestimento do intestino, e surgem com a idade, através de uma alteração genética, predisposição genética da pessoa. Esse pólipo vai surgir num certo período da vida e é por isso que é importante que se faça esse rastreamento para saber a existência ou não dessas lesões que se assemelham a pequenas verrugas, pequenas elevações da mucosa do revestimento do intestino grosso.

SÓ SERGIPE – Esses pólipos se não forem retirados se transformarão num câncer?

HERNAN CENTURION SOBRAL – Existem vários tipos de pólipos.  De uma maneira genérica é toda elevação da mucosa. Os principais, que são os pólipos adenomatosos ou adenomas, têm uma relação mais direta. São os que mais se relacionam ao desenvolvimento do câncer. Eles vão crescendo e num certo momento, esse pólipo degenera, começa a se multiplicar de maneira aberrante, as células se multiplicam de maneira desordenada e o adenoma acaba virando adenocarcinoma. Essa seria a sequência de um pólipo adenomatoso em adenocarcinoma, que é o câncer. E isso não se dá num curto período, requer alguns anos. Estudos dizem que em torno de cinco anos para que esse pólipo se transforme num câncer.

SÓ SERGIPE –  O câncer colorretal acomete pessoa de qualquer idade? E qual maior incidência: homens ou mulheres?

HERNAN CENTURION SOBRAL – A distribuição dos casos de câncer do intestino é praticamente idêntico em ambos os gêneros. Então, tanto homens como mulheres devem, a partir dos 45 anos, se submeterem a colonoscopia, ao rastreamento do câncer.

O câncer colorretal, no início, as chances de cura com a cirurgia giram em torno de 90 a 95%

SÓ SERGIPE – Quais as chances de cura de um paciente com câncer colorretal?

HERNAN CENTURION SOBRAL – O câncer colorretal, quando diagnosticado em sua fase precoce, ou seja, a depender do grau de invasão do tumor na parede do intestino, que nós chamamos de estadiamento, se a gente conseguir detectar esse câncer  no início, as chances de cura com a cirurgia giram em torno de 90 a 95%. Claro que, quanto mais tempo se espera, mais tardio for o diagnóstico, o câncer vai estar mais profundo na parede do intestino, chegando até a enviar metástase para o fígado e o pulmão e nesse caso, quando há presença de metástase, a chance de cura cai consideravelmente. Por isso, o diagnóstico precoce do câncer é fundamental para que a cura seja maior.

“Fatores externos como alimentação rica em gordura de origem animal, alimentos multiprocessados, ou seja, aqueles industrializados, uma dieta pobre em fibras vegetais, o tabagismo, a ingestão de bebida alcoólica e a obesidade são fatores passíveis de serem modificados.”

SÓ SERGIPE – O que, digamos, provoca o aparecimento do câncer colorretal? A alimentação tem alguma contribuição?

HERNAN CENTURION SOBRAL – Além da predisposição genética da pessoa, que é um fator importante, que nós chamamos de intrínseco e não temos como mudar, sabemos, também, que fatores externos como alimentação rica em gordura de origem animal, alimentos multiprocessados, ou seja, aqueles industrializados, uma dieta pobre em fibras vegetais, o tabagismo, a ingestão de bebida alcoólica e a obesidade são fatores passíveis de serem modificados. E eles juntamente à predisposição genética das pessoas, vão contribuir para que as chances sejam maiores. De sorte que comer muita fibra, fazer atividade física, ter uma alimentação pobre em gordura de origem animal, pobre em alimentos muito processados, a não ingestão de bebida alcoólica e não tabagismo contribuem nesse processo de prevenção do câncer.

SÓ SERGIPE – É possível que pessoas veganas ou vegetarianas sejam acometidas com esse tipo de câncer?

HERNAN CENTURION SOBRAL -Pensando dessa maneira, as pessoas vegetarianas ou veganas têm um risco menor desse câncer. Mas não vão evitar a predisposição genética. A alimentação seria um fator complementar.

SÓ SERGIPE – Prevenção é primordial para que não tenhamos mortes por causa dessa doença.

HERNAN CENTURION SOBRAL – Sim, prevenção é importante. O câncer colorretal é uma doença muito prevalente, pode ser prevenida. O diagnóstico precoce aumenta a chance de cura, e as pessoas, com mais de 45 anos de idade, independente de gênero, devem iniciar a prevenção com a colonoscopia, um exame indolor, seguro e que, além do diagnóstico, já possibilita o tratamento das lesões precussoras que são os pólipos. Associada a essa prevenção, recomendamos dieta rica em fibras, pobre em gordura de origem animal, em alimentos industrializados, tabagismo, etilismo e obesidade.

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