Prof. Dr. Claudefranklin Monteiro Santos (*)
É sempre uma alegria renovada voltar a Simão Dias, cidade do interior sergipano de quem sou admirador e entusiasta, não somente pelo seu legado cultural, político e intelectual, mas também por sua graciosa arquitetura patrimonial, cuidadosamente protegida, de modo particular a região da Praça Barão de Santa Rosa e adjacentes.

Na última quarta-feira, 8, pela manhã, estive por lá, mais de perto nas dependências do seu belíssimo Centro de Memória Digital de Simão Dias. Na oportunidade, fui recepcionado pela psicóloga Renata Dantas do Amaral, responsável pela gestão do espaço. Fui com a missão de deixar dois livros para o acervo do CMDSD, a pedido do escritor Josué da Silva Mello: A Vida Merece um Sim, de sua autoria; e outro intitulado Harildo Déda: a matéria dos sonhos, de Raimundo Matos de Leão, Marcos Uzel e Luiz Marfuz.
Uma outra missão foi a de conceder uma entrevista para os alunos da Terceira Série “A”, do Colégio Estadual Fausto Cardoso: Ana Clara, Camila, Deisiane, Erica, Déborah, Maria Eduarda, Dafne e Jefferson Kauã. Trata-se de um trabalho de pesquisa da disciplina Português, ministrada pelo professor Dênisson Déda de Aquino, prefeito da cidade de Simão Dias, entre os anos 2009 e 2012. A ideia é celebrar e fazer memória ao patrono da escola e também ao seu centenário de fundação.

Além de ter ficado lisonjeado com a lembrança, aceitei o desafio de falar sobre Fausto Cardoso, dado que não sou especialista no assunto, a exemplo da Profª Drª Terezinha Oliva e do médico Dr. Francisco Rollemberg. Por outro lado, a experiência de dividir a autoria do livro As Exéquias de Monsenhor Olympio Campos, com Ana Medina Fonseca, em 2024, me deixou mais encorajado e à vontade. Além, claro, de ter algum conhecimento do processo de implantação de grupos escolares ocorrido no início do século XX, em Sergipe.
No que se refere à figura de Fausto Cardoso, sabe-se que nasceu no Engenho São Félix, em Divina Pastora, no dia 22 de dezembro de 1864. Por essa razão, a exemplo de alguns poucos sergipanos nascidos em berço de ouro, teve a condição, na juventude, de deslocar-se para Pernambuco e graduar-se bacharel pela Faculdade de Direito do Recife, quando foi aluno de Tobias Barreto, de quem certamente bebera da fonte para se tornar um grande jurista, orador, jornalista, filósofo e político.
Tendo sido eleito deputado federal por Sergipe em dois mandatos (1900-1903 / 1903-1900), abraçou a política e alguns ideais republicanos com afinco e radicalidade. Arvorando-se de senhor das liberdades democráticas, enfrentou, de volta à terra natal, inimigos poderosos da chamada classe dominante da agropecuária sergipana, a exemplo de Monsenhor Olympio Campos, senador, cujo sobrinho governava o Estado. Em meio a um movimento revoltoso, conhecido como Revolta de Fausto Cardoso, foi assassinado no Palácio do Governo no dia 28 de agosto de 1906.
O trágico episódio foi o estopim para que os ânimos políticos ficassem ainda mais acirrados, levando ao assassinato de Monsenhor Olympio Campos, no dia 9 de novembro de 1906. A polaridade entre faustistas e olimpistas foi uma das mais tristes e controversas páginas da política sergipana, que, em grande medida refletia o contexto belicoso nacional, de uma república implantada ao sabor de grupos conflitantes, que levou anos para conhecer estabilidade, se é que ela ainda não siga sendo um desejo de nosso tempo.
Fato é que Fausto Cardoso entrou para a história da intelectualidade sergipana como tendo sido um dos mais carismáticos, competentes e preparados oradores da vida política, que também teve seu nome marcado em outros campos do fazer cultural e histórico da gente sergipana, qualidades que lhe conferiram uma justa homenagem no ano de 1925, pelo Governador Graccho Cardoso (1922-1926), dando a um dos grupos escolares o seu nome, mais precisamente na cidade de Simão Dias.
Além de Simão Dias, todos durante a gestão de Graccho, vale destacar também os escolares Gumersindo Bessa (Estância), Vigário Barroso (São Cristóvão), General Valladão (Aracaju), Sylvio Romero (Lagarto), Dr. Manuel Luiz (Aracaju), José Augusto Ferraz (Aracaju), Coronel João Fernandes (Propriá), Olympio Campos (Vila Nova), Coelho e Campos (Capela) e Severiano Cardoso (Boquim). Todos eles marcados por uma época de grandes investimentos no chamado processo civilizador brasileiro.
A propósito de um maior conhecimento a respeito da importância deste grupo para Sergipe, recomendo a leitura de trabalhos dos historiadores Maria Thétis Nunes, Jorge Carvalho do Nascimento, Magno Francisco de Jesus Santos, João Paulo de Oliveira Gama, Crislane Barbosa de Azevedo e Degenal de Jesus da Silva. Estudiosos que se dedicaram a explicitar os diversos impactos daqueles lugares de saber na formação intelectual do povo sergipano.
No que se refere, especificamente ao Grupo Escolar Fausto Cardoso, trata-se de um suntuoso prédio localizado na Praça Barão de Santa Rosa, tendo custado aos cofres públicos à época de sua fundação, cerca de 120:000$000 contos de Réis. Em 2024, mereceu dois capítulos no livro Educação Primária – Instituições e prática educativas em Sergipe no início do século XX, organizado por João Paulo Gama Oliveira, Roselusia Teresa de Morais Oliveira e Rosemeire Marcedo Costa. O primeiro, intitulado “O Grupo Escolar Fausto Cardoso”, de João Paulo Gama e Roselusia Teresa de Morais Oliveira; e o segundo, “O Ideal iluminará nossa inteligência no caminho do saber: jornal do Grupo Escolar Fausto Cardoso (1934-1942)”, de Simone Paixão Rodrigues e Rosemeire Marcedo Costa. Textos que lançam luzes sobre a história centenária da instituição.
Meus cumprimentos ao professor Dênisson Déda, conhecido pelo zelo para com a memória da gente simão-diense, e aos seus alunos, pela iniciativa do trabalho e da pesquisa em torno do antigo Grupo Escolar Fausto Cardoso (hoje, colégio estadual), que reforçam os laços de pertença identitária e escolar, tão importantes em nosso tempo e para a formação de uma juventude que sofre, sem medida, o peso da era digital e da relativização, desvalorização e desqualificação do conhecimento, particularmente, o histórico e o patrimonial cultural.
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