Por Juliano César Souto (*)
Produtividade brasileira é apenas 20% da americana — mais do que procurar culpados, precisamos de mudanças estruturais
Muito se fala em uma “pretensa crise” entre Brasil e Estados Unidos, marcada por divergências políticas, comerciais e de interesses estratégicos. Mas, em vez de olharmos para os EUA como adversários, deveríamos enxergá-los como um espelho que revela nossas fragilidades e, ao mesmo tempo, aponta caminhos de superação.
Um exemplo emblemático é a produtividade do trabalho. Segundo o economista Samuel Pessôa, uma hora trabalhada no Brasil gera apenas 20% do que se produz nos EUA. A comparação assusta, mas é também uma oportunidade: em vez de confronto, precisamos de inspiração e aprendizado.
Não é “culpa” do trabalhador
Essa disparidade não significa que o brasileiro trabalhe menos ou se esforce menos. Tanto eu, em minha reflexão inicial, quanto Pessôa, em seu artigo, enfatizamos que o problema está nas estruturas que aprisionam recursos e talentos em baixa produtividade.
De um lado, temos os fatores individuais: lacunas educacionais, ausência de habilidades cognitivas e socioemocionais que aumentam a performance. De outro, as ineficiências do entorno:
Má alocação de recursos, que mantém vivas empresas ineficientes lado a lado com as mais produtivas.
Regimes tributários que distorcem a concorrência, subsidiando atividades de baixo valor agregado.
Gestão empresarial de qualidade média inferior à de países ricos.
Custo elevado de capital, reflexo direto da instabilidade fiscal.
Convergências e acréscimos
Em minha análise Baixa produtividade: de quem é a culpa? publicada aqui no portal Só Sergipe em 16 de maio de 2025, destaquei que o entrave brasileiro está no fato de continuarmos presos às etapas menos nobres das cadeias globais: extraímos, produzimos e embarcamos, mas não dominamos tecnologia, marca ou distribuição.
Pessôa reforça esse ponto ao mostrar que nossas melhores fábricas são tão eficientes quanto as dos países desenvolvidos. A diferença está no excesso de empresas improdutivas que não são substituídas, bloqueando o dinamismo natural da economia.
Além disso, ele traz contribuições valiosas:
Gestão importa: países de renda média, como o Brasil, sofrem com uma qualidade de gestão inferior, o que limita o crescimento das empresas.
Custo de capital: a insegurança fiscal mantém juros elevados, desestimulando investimentos de longo prazo.
Reforma tributária: depois de consolidada, deve avançar para a eliminação de regimes especiais como Simples e lucro presumido, que hoje preservam ineficiências.
Caminhos para avançar
O contraste com os EUA não deve nos paralisar, mas servir de bússola. Se queremos encurtar essa distância, precisamos de mudanças estruturais:
- Educação e qualificação – fortalecer competências técnicas e socioemocionais para elevar a produtividade individual e coletiva.
- Reforma tributária com transição justa – simplificar regras e reduzir distorções sem sufocar micro e pequenas empresas.
- Gestão como tecnologia – profissionalizar processos, dados e liderança como diferencial competitivo.
- Responsabilidade fiscal – previsibilidade do Estado como base para reduzir o custo de capital e incentivar investimentos.
- Subir na cadeia de valor – investir em inovação, marca e acesso a mercados globais, deixando de ser apenas exportadores de baixo valor agregado.
Conclusão
A discussão sobre produtividade no Brasil não pode ser reduzida a buscar culpados. O trabalhador brasileiro não é menos dedicado, é o ambiente que o prende em armadilhas de baixa eficiência.
O artigo de Samuel Pessôa nos lembra, com clareza e rigor, que o desafio é estrutural. Minha reflexão complementa esse diagnóstico ao destacar a urgência de reposicionar o país nas cadeias globais, dominando etapas de maior valor.
Assim, a comparação com os EUA deve deixar de ser motivo de ressentimento ou confronto. Precisa se transformar em inspiração prática para reformas, mudanças e escolhas que nos permitam multiplicar resultados.
Produtividade não nasce do sacrifício isolado, mas de um ambiente que premia quem inova, distribui recursos com eficiência e gera confiança para investir.
Referências
A BAIXA PRODUTIVIDADE DO TRABALHO Samuel Pessôa
https://docs.google.com/document/d/17rwr9e6wTZsj_PCwamu2Z0U4qXqA3osJlSTB8Au7tQ4/edit?usp=drivesdk
BAIXA PRODUTIVIDADE : DE QUEM É A CULPA ?
Juliano César Faria Souto
https://www.sosergipe.com.br/baixa-produtividade-de-quem-e-a-culpa/
Só Sergipe Notícias de Sergipe levadas a sério.





Nos EUA o funcionário ganha por produtividade, ganha por hora, e não tem férias, 13, indenização e muito menos o trabalho gigantesco de empregar e pior demitir , por isso ele entra e sai fácil em qualquer trabalho.
No Brasil há muitas regras ( e ainda querem 4×1) mais o pior problema que não enxergam é que o que mais atrapalha é o governo.
1) cobra 4 meses do trabalhador
2) não deixa o empregado negociar livremente com o patrão, sindicato só serve para afastar os dois.
3) funcionário é um passivo no Brasil que ninguém saberá quanto ele custará.
E vários outros problemas.
Nos EUA a liberdade de negociação é plena , por isso todos querem trabalhar lá. Aqui se pagar produtividade, ou algo semelhante entra tudo na rescisão. É um malabarismo para que não entre.