quinta-feira, 20/11/2025
Migrar, emigrar e imigrar
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Migrar, emigrar e imigrar

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Por Manuel Luiz Figueiroa (*)

 

A primeira migração registrada na Bíblia foi a de Caim, agricultor que matou Abel, pastor de ovelhas, que se mudou da região do Éden para uma nova terra (Gênesis 4:12).

Migrar significa mudar-se de um lugar para outro, podendo ser dentro do mesmo país (migração interna) ou entre países distintos (migração internacional). Emigrar significa sair de um país ou região, enquanto imigrar tem o sentido de entrar em um país ou região.

Movimentos migratórios são deslocamentos de pessoas, sem referir-se aos deslocamentos de outros seres, de um lugar para outro, podendo ocorrer dentro de um mesmo país ou entre países. Esses movimentos são motivados por fatores econômicos, sociais, políticos ou ambientais.

Classes sociais

As classes sociais são divisões da sociedade em grupos, baseadas em critérios como poder econômico, tipo de trabalho, nível de renda, prestígio social e acesso a bens e serviços.

Segundo os clássicos Karl Marx e Max Weber:  o primeiro fez uma divisão simplista de duas classes: burguesia (donos dos meios de produção) e proletariado (trabalhadores), incentivando a luta de classes entre ricos e pobres. Essa tática ainda é utilizada por alguns líderes até a tomada do poder. Após assumir o comando, entretanto, a regra passa a ser a manutenção do status quo. Weber, por sua vez, considerava três dimensões: classe (condições econômicas), status (prestígio social) e poder (capacidade de influenciar).

Na classificação moderna, utiliza-se a pirâmide de estratificação social:

 

A pirâmide social está dividida em quatro regiões:

– Classe alta: situada no topo, composta por empresários, profissionais de alta remuneração e famílias tradicionais.

– Classe média: formada por profissionais qualificados, com acesso à educação e ao consumo, mas sem grande poder econômico.

– Classe baixa: trabalhadores de baixa renda, em empregos precários, com acesso limitado à saúde, à educação e ao lazer.

– Excluídos sociais: pessoas em situação de extrema vulnerabilidade, como desempregados crônicos e moradores de rua. Este grupo, mais sensível ao discurso marxista, tende a ver sua condição como consequência direta da riqueza da classe alta.

O foco aqui é a migração entre as três classes piramidais (baixa, média e alta), embora se reconheça que os excluídos sociais também possuem, em estado latente, o desejo de ascender.

Motivações para a migração social

– Econômica: busca de emprego e melhores condições de vida.
– Política: fuga de guerras, perseguições e ditaduras (refugiados).
– Ambiental: resposta a desastres naturais, secas ou enchentes.
– Cultural/Educacional: busca por estudo, intercâmbio e oportunidades acadêmicas.

A migração ascendente ocorre quando um indivíduo adquire privilégios da classe imediatamente superior. Isso pode se dar pelo trabalho árduo e pela prática da disciplina financeira: nunca gastar mais do que se ganha.

Quem gasta mais do que aufere consome no presente recursos futuros, enquanto quem gasta menos acumula reservas para enfrentar incertezas. Trata-se, portanto, de uma opção: ser previdente ou não.

Matriz de Mobilidade Social

Considerando três classes principais (baixa, média e alta), e assumindo que os excluídos sociais apresentam mobilidade pouco significativa, tem-se:

Classes de Origem Classes de destino
Baixa Média Alta
Baixa PBB PBM PBA
Média PMB PMM PMA
Alta PAB PAM PAA

Onde:
PBB: probabilidade de permanecer na classe baixa.
PBM: probabilidade de subir da baixa para a média.
– PBA: probabilidade de subir da baixa para a alta.
PMB: probabilidade de cair da média para a baixa.
– PMM: probabilidade de permanecer na média.

– PMA: probabilidade de subir da média para a alta.
– PAB: probabilidade de cair da alta para a baixa.
– PAM: probabilidade de cair da alta para a média.
– PAA:  probabilidade de permanecer na classe alta.

É imediato que: PBB + PBM + PBA = PMB + PMM + PMA = PAB + PAM + PAA = 1 (ou 100%).

Matriz de Mobilidade Social no Brasil (1965–2014)

Fonte: Revista Sociologias (UFRGS), a partir de dados da PNAD (IBGE).

Classes de Origem Classes de destino
Baixa Média Alta
Baixa 76,8% 19,0% 4,2%
Média 48,7% 40,7% 10,6%
Alta 27,7% 34,7% 37,6%

Interpretação dos dados:

– Imobilidade (persistência): Os valores da diagonal principal (PBB=76,8%, PMM=40,7%, PAA=37,6%) mostram a probabilidade de um indivíduo permanecer na mesma classe de origem. Valores altos indicam baixa mobilidade social.
– Mobilidade descendente: Representada pelos valores abaixo da diagonal principal, (PMA=48,7%, PAB=27,7%, PAM=34.7%) mostram a chance de cair de classe.
– Mobilidade ascendente: Representada pelos valores acima da diagonal principal (PBM=19,0%, PBA=4,2%, PMA=10,6%) mostram a chance de subir de classe.

Conclusões:

– Persistência na base: 76,8% dos filhos de pais de classe baixa permanecem nela, evidencia a dificuldade de ascensão.

– Vulnerabilidade da classe média: 48,7% dos filhos caíram para a classe baixa, mostrando instabilidade.

– Privilégio da classe alta: 37,6% dos filhos permanecem no topo, mas 62,4% descem para classes inferiores, em especial para a média.

– Raridade da ascensão: apenas 4,2% dos filhos da classe baixa e 10,6% da classe média alcançam a classe alta.

– A maioria permanece na mesma classe social dos pais.

– Subir é mais difícil do que descer.
– Saltos grandes (da pobreza à elite) são exceções.
– A migração mais comum foi da classe média para a baixa.

 

Bibliografia:

BÍBLIA Sagrada. Gênesis 4:12.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). Brasília: IBGE, 1965–2014.

MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. São Paulo: Boitempo, 2011.

MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto Comunista. São Paulo: Boitempo, 2010.

WEBER, Max. Economia e sociedade. Brasília: Editora UnB, 2004.

WEBER, Max. Ensaios de sociologia. Rio de Janeiro: LTC, 2013.

REVISTA SOCIOLOGIAS. Porto Alegre: Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, várias edições.

BOURDIEU, Pierre. A distinção: crítica social do julgamento. São Paulo: Edusp, 2007.

SOUZA, Jessé. A ralé brasileira: quem é e como vive. Belo Horizonte: UFMG, 2009.

SEN, Amartya. Desenvolvimento como liberdade. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.

 

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Sobre Manuel Luiz Figueiroa

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Professor Manuel Luiz Figueiroa é aprendiz maçom da Loja Maçônica Clodomir Silva

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