sábado, 22/11/2025
Donald Trump
Para economistas do Nordeste, medidas adotadas por Trump já são conhecidas no cenário global Imagem: Pixabay

Tarifa de Trump é “tiro no pé”, avaliam economistas nordestinos

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Por Allan Petterson e Antônio Carlos Garcia (*)

 

Economistas do Nordeste são unânimes ao classificar como política e injustificada a ameaça feita pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros a partir de 1º de agosto. A medida, segundo os especialistas, compromete não apenas as exportações brasileiras, mas também prejudica os próprios consumidores norte-americanos. A crítica parte de nomes como Márcio Rocha, economista do Sistema Fecomércio em Sergipe; Josenito Oliveira, professor da Universidade Tiradentes e secretário de Desenvolvimento Econômico de São Cristóvão; economista Rodrigo Rocha, do Instituto Euvaldo Lodi, da Federação das Indústria de Sergipe (FIES);  Edgard Leonardo, da UNIT Recife; e Ecio Costa, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Para Márcio Rocha, a proposta de sobretaxa é mais um episódio de instabilidade promovido por Trump, com base em motivações eleitorais. “Ele tentou fazer isso há poucos meses com outros países, recuou. Tentou fazer com o Brasil, recuou. Agora fala em taxar em 50%. Isso é uma ópera bufa”, afirmou. Segundo Rocha, a medida é uma “reação intempestiva de alguém que quer mostrar serviço para sua população”.

O economista chama atenção para o efeito reverso que a medida pode gerar nos próprios Estados Unidos, ao encarecer produtos brasileiros consumidos pela população local. “Eles consomem petróleo, minério e alimentos do Brasil. Se aumentar a carga tributária, quem vai pagar mais caro são os americanos. Isso é um tiro no pé”, avaliou. Ainda segundo ele, o impacto sobre Sergipe tende a ser limitado, dada a baixa industrialização do estado: “O produto sergipano vai sair mais caro para o mercado norte-americano, sim. Mas não acredito que as exportações diminuam”.

O economista Rodrigo Rocha afirma que  a economia de Sergip,e assim como a do Brasil, está fortemente ligada ao que acontece em outros países, principalmente nos Estados Unidos. “Isso significa que, mesmo que o pãozinho da padaria ou os produtos do supermercado não venham diretamente de lá, eles podem acabar ficando mais caros por causa de decisões tomadas no exterior. Isso quer dizer que mesmo que um produto não seja comprado ou vendido diretamente pelos EUA, ele pode depender de materiais, tecnologia ou serviços vindos de lá.”

Se os Estados Unidos impõem uma taxa de 50% sobre produtos ou dificultam o comércio com o Brasil, isso pode atrasar etapas da produção ou encarecer o processo. Outro ponto importante é o dólar, pois para comprar produtos de fora do Brasil, como o trigo (usado na produção de pães), é necessário pagar em dólar.

“Se os EUA reduzirem suas trocas comerciais com o Brasil, entra menos dólar na nossa economia e com menos dólares circulando, a moeda americana pode ficar mais cara, e isso impacta no preço de tudo o que vem de fora.
Como o Brasil compra muito do exterior, o aumento afeta desde alimentos até remédios e combustíveis.
Esse cenário contribui para o aumento da inflação um problema que pesa mais fortemente para os brasileiros com menor renda”, pontou.

Economista Josenito Oliveira
Para o professor Josenito Oliveira, a medida de Trump é política, unilateral e sem qualquer justificativa econômica /Foto: Divulgação

O economista Josenito Oliveira considera a tarifa unilateral, sem respaldo técnico e baseada em interesses políticos. “Ela está sendo criticada por todos. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) já emitiu nota contra essa decisão. Não houve conversa, não houve diálogo. Foi uma decisão tomada para apoiar o ex-aliado dele aqui no Brasil, o ex-presidente Bolsonaro”, disse.

Trump prejudica os dois países

Segundo ele, a medida é nociva para ambos os países, pois quebra a competitividade dos produtos e aumenta os preços para os consumidores. “Quando ele aumenta essa tarifa, todos perdem. Os produtos brasileiros vão chegar mais caros e perdem competitividade. Mas os americanos também vão pagar mais caro, porque os concorrentes internacionais também vendem mais caro. Então, não há vantagem para ninguém”, reforçou.

Sobre os impactos diretos em Sergipe, Oliveira pondera que o estado possui inserção modesta no comércio exterior, o que limita os efeitos imediatos. “Nossa pauta de exportação basicamente se resume ao suco de laranja e açúcar. O coque de petróleo, por exemplo, é importado, não seria afetado. Mas indiretamente a economia sente, com reflexo no dólar, na inflação e nos preços em geral”.

Além do impacto comercial, o professor também destaca a dimensão geopolítica da decisão. “O Brasil é o maior do grupo dos BRICS, e ele tenta dar um recado aos outros membros. Mas hoje o principal parceiro comercial do Brasil é a China, tanto na exportação quanto na importação. Os Estados Unidos estão perdendo espaço. É uma atitude de desespero”, avaliou.

A interpretação é corroborada por Edgard Leonardo, professor da UNIT Recife, que vê na decisão uma tentativa dos EUA de conter a ascensão brasileira nas relações internacionais. “Os EUA são o segundo parceiro mais importante do Brasil em volume de transações e já nos acompanham há 200 anos em diferentes contextos. Embora a carta enviada mencione questões políticas, Trump utiliza esses argumentos para mascarar o desconforto com o fortalecimento das relações comerciais entre Brasil e China”, disse.

Economista Edgard Leonardo
Para o economista Edgard Leonardo, ação de Trump é uma tentativa de enfraquecer a posição do Brasil junto a outras nações  Foto: Divulgação

Os dados das exportações reforçam a relevância do tema. Só entre janeiro e junho deste ano, Pernambuco exportou mais de US$ 53 milhões para os Estados Unidos, o que representa 4,48% do total vendido ao exterior. Em todo o ano de 2024, o valor das exportações brasileiras para o mercado norte-americano somou US$ 205 milhões, com destaque para derivados da cana-de-açúcar, uvas, ferro, aço e alumínio.

Na análise de Edgard Leonardo, ainda há espaço para negociação. “Acredito que é possível reduzir essas tarifas. Essa é uma prática comum nas gestões de Donald Trump: primeiro ele ameaça, endurece o discurso, depois negocia e reduz as alíquotas. Mas precisamos de alguém com habilidade para dialogar com os Estados Unidos e conduzir essas tratativas”, afirmou.

Economista Ecio Costa
Economista e professor da UFPE, Ecio Costa, Brasil deve negociar com Trump e explorar oportunidades  Foto: Divulgação

A diplomacia, aliás, é apontada como o melhor caminho também por Ecio Costa, professor da UFPE. “Outros países já adotaram esse caminho. O Brasil também deveria sentar à mesa e negociar, buscando um acordo mais equilibrado”, recomendou. Para ele, a crise deve ser vista como oportunidade para o país ampliar sua abertura comercial. “O acordo do Mercosul, por exemplo, ganha ainda mais relevância frente a esse tarifaço americano. O governo deveria acelerar as negociações com a União Europeia, que tem grande poder de compra e uma economia bastante complementar à nossa produção”, analisou.

Ecio lembra que, embora seja necessário diversificar mercados, não se pode negligenciar a relação comercial com os EUA. “Os Estados Unidos são o segundo maior destino de nossas exportações e importações. Essa tradição comercial precisa ser mantida”, concluiu.

 

(*) Movimento Econômico

 

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