Por Luciano Correia (*)
A Unimed me mandou uma cartinha. Pensei que era pro meu filho pequeno, usuário desta conceituada empresa em todo o Brasil, não tão conceituada em terras de Serigy. A cartinha dele, aliás, nunca teve utilidade, afinal, a conta só chega quatro ou cinco dias depois de esgotado o prazo de pagamento. É evidente que desde cedo desisti do boleto por correios e quito a mensalidade on line. Mas esta era endereçada a este locutor que vos fala. De modo que abri entre conjecturas pueris: teria por acaso esta missiva o fito de me cumprimentar pelo meu aniversário? Na verdade, essa data é em abril, mas em se tratando de Unimed, ela não mede pontualidade na hora de levar o abraço de aniversário aos seus associados.
Ainda especulando sobre o possível teor da singela cartinha, pensei com meus desconfiados botões: já sei, reduziram a mensalidade e aumentaram o leque de hospitais para nos atender naquelas horas difíceis que todo mundo passa enquanto nasce, cresce e morre. Infelizmente também não era isso. E antes que cansem vossas paciências com outras divagações, vamos logo ao ponto: a mensagem era tão somente uma certificação de pagamento em dia, atestado insofismável para quem, alegando em falso, poderia supor minha condição de velhaco.
Achei genial, em se tratando de Unimed. Só faltou algum reconhecimento pelo cumprimento de uma obrigação. Não precisavam palavras vãs, salamaleques formais, nem beijinho, nada disso. Um simples: “Parabéns por ser um bom pagador” já aliviava a ânsia deste velho coração tão carente de gentilezas. Civilizada por carta, a Unimed deve muito na vida real. Recentemente, cortou dos usuários locais o atendimento aos dois melhores hospitais de Aracaju, São Lucas e Primavera.
No caso do grupo a que pertenço, de professores da Universidade Federal de Sergipe, ela “compensou” a suspensão dos atendimentos com outro presente de grego: impôs aumento de 21% na mensalidade, convenhamos um pouquinho acima da inflação que levou aos píncaros o preço de ovos, gás de cozinha e das chupetas. Isso mesmo: numa Drogasil, uma chupeta está em torno de 48 a 50 reais, uma fortuna para quem tem que comprar umas dez por mês, já que o pequeno Jão Cabeça Quente tem a perdulária mania de estraçalhar as borrachas de seus bicos com os dentes mais potentes da Zona de Expansão, essa região de nome poético batizado pela Emurb.
Só dos professores da UFS a Unimed recebe por mês cerca de 1,5 milhão de reais, mas a empresa tem uma carteira de milhares de sergipanos que colocam mensalmente em seu caixa uma fábula que ninguém sabe quanto é. As contas da subsidiária local é um tremendo mistério, pra não falar na malvista caixa preta. Historicamente, a choradeira de seus sucessivos diretores tem comovido, pelo menos, alguns governos estaduais e municipais, que, certos de que estavam fazendo investimentos na saúde pública, despejaram ali algumas centenas de milhares de reais. Eis aí, pois, um bom assunto para CPIs, já que nossos inócuos parlamentos estão preocupados em gastar suas parcas horas de trabalho investigando a vida dos bebês Reborn.
Se alguém de fora de Sergipe ouvir más histórias sobre a Unimed, vão ficar sem entender, afinal, a empresa é excelente prestadora do serviço no país inteiro. Vivi cinco anos no Rio Grande do Sul e sou testemunha disso. Tenho muitos outros depoimentos semelhantes. Colegas da UFS que fizeram doutorado em Minas e experimentaram um atendimento de primeira em BH. Idem para São Paulo, enfim, para o Brasil que vai dando certo. Sergipe, a exemplo do nosso futebol rumo a todos os rebaixamentos, acompanha a sina da irrelevância também no atendimento à saúde. E quem busca saída na Unimed local, saída muito cara, por sinal, vai se habituando a um serviço de quarta divisão. Do jeito que as outras coisas nesse estado estão indo, só falta a Unimed gritar a plenos pulmões: “Euuuu, sou sergipanaaaa, com muito orgulhoooo, e com eficiência nenhuma…”