Por Valtênio Paes (*)
A ausência de propostas dos progressistas adequadas à nova realidade política-ideológica no Brasil gerou um vácuo político ocupado por Bolsonaro resultando em sua eleição para a presidência da república. Findo o mandato, incorporou o gosto pelo conservadorismo de conveniência avalizado nos últimos meses pelo atual presidente dos EUA. Trump quebrou todos os conceitos do capitalismo atual com disparos diplomáticos que contrariaram estudiosos da geopolítica e da economia no planeta. Parece loucura, mas Trump tem norte e tem oriente.
Nos anos pós-segunda guerra mundial — e, pouco antes, com a revolução russa — o mundo vivenciou a polarização EUA X União Soviética (URSS). Os americanos se intitulavam arautos da democracia, mas na verdade, buscavam o controle do poder mundial com a venda de armas e controle econômico. A URSS se expandiu territorialmente, mas econômica e tecnologicamente ruiu e se desintegrou. No fim do século XX, surgiram blocos de países na Europa como a União Europeia; na América do Sul com o Mercosul e depois o Brics no começo do século XXI.
Ásia e África também começam a gestar novos blocos; porém, o crescimento do Brics pode ser o grande concorrente dos EUA, à medida que está enfraquecendo o poderio americano. Trump antecipou o confronto e agora mira no Brasil, protegendo Bolsonaro para atingir o Brics. Tal bloco econômico e político — incialmente formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, e ampliado pelas entradas de Arábia Saudita, Egito, Etiópia, Emirados Árabes e Indonésia — poderá reduzir o poder comercial americano.
Apesar de os EUA serem o segundo maior parceiro comercial do Brasil, a balança comercial entre os dois países é deficitária para o Brasil, em US$ 1,67 bilhão. A participação americana no PIB brasileiro é de aproximadamente 1,9%. Portanto, a ação tarifaria de Trump é política para interferir na soberania brasileira e econômica para tentar enfraquecer a China dentro do Brics.
Em que pese o dólar ser usado em 90% das transações comerciais do mundo, o que mantém os EUA poderoso, lentamente uma moeda do Brics está no horizonte. Ardilosamente, Trump mira o Brasil para atingir o Brics quando defende Bolsonaro. Interfere na soberania brasileira, mas com ação final para tentar enfraquecer o Brics e o Mercosul. Atente-se que Mercosul está prestes a fechar mega acordo comercial com a União Europeia. Na verdade, a real razão de Trump é geopolítica e temor de enfraquecimento do poderio americano. Tenta amedrontar Brasil com as tarifas comerciais, explode bomba no Irã para espalhar temor e joga no lixo quaisquer conceitos de diplomacia — instrumento maior das boas relações entre as nações.
Seguidores de Bolsonaro jogam tudo pela sobrevivência política. Esquecem o “Brasil acima de tudo”, que tanto falaram na campanha, e ajoelham para Trump, entregando a soberania do país ao rogarem pela interferência externa nos poderes constitucionais da nação brasileira. O atual mandatário americano, por sua vez, quer mesmo é impedir o crescimento do Brics e da União Europeia — principalmente o fortalecimento do primeiro, que traz em seu corpo o poderio chinês, extremo concorrente ao comando do dólar no mercado internacional.
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