quinta-feira, 10/10/2024
Joia do venerável mestre
Joia do venerável mestre

A liderança e o venerável

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Por Rivaldo Frias (*)

“Deus Meumque Jus”

  (“Deus é o meu Direito”)

 

A liderança pode ser considerada como uma das funções mais importantes e mais difíceis de serem exercidas em qualquer atividade humana.

Nas Lojas Maçônicas a liderança do venerável mestre é de fundamental importância para a direção dos trabalhos, realização de projetos, dinamismo e união dos irmãos, até porque cada maçom em particular se considera um líder, e o confronto de líderes pode gerar conflitos.

É importante, também, distinguir liderança e autoritarismo. São concepções distintas. O autoritário é impositivo, dominador, arrogante, despótico e se impõe pelo poder que detém. O líder, por sua vez, é ético, confiável, sensato, cheio de energia, humilde, ansioso por aprender e se destaca pela competência em tratar com pessoas e com coisas.

Afinal, o que é liderança e qual a razão do tema?

Liderança é a capacidade de fazer com que todos remem na mesma direção, estimulados por um objetivo comum a todos.

É exatamente isso que os membros de uma loja precisam fazer: remar na mesma direção, estimulados pelo venerável mestre.

O assunto está sendo abordado por um motivo muito simples. Fui inquirido por um irmão se possuía algum material que pudesse ser utilizado numa loja maçônica no sentido de ensinar sobre liderança ao venerável mestre. Disse-lhe que possuía um projeto operacional capaz de orientar a loja no estabelecimento de sua visão, missão, objetivos estratégicos etc. e que poderia ser de grande utilidade para a loja. Entretanto, percebi que: o irmão queria, efetivamente, algum material relacionado diretamente com o tema liderança.

Alguns maçons quando são eleitos veneráveis mestres de suas lojas e após assumirem os seus cargos, presumem que serão seguidos naturalmente, pelos irmãos do quadro. Esse é o primeiro engano.

Outros, acreditam que a leitura de livros sobre liderança os tornarão aptos para o exercício da função de venerável mestre. Segundo engano.

Muitas pessoas que desejam se tornar líderes, compram livros e assistem a seminários na esperança de alcançarem seus objetivos. Essas iniciativas geram um sentimento de satisfação nelas, mas, na prática, a liderança acaba sendo o resultado das ações conduzidas por uma pessoa. Por este motivo, ao invés de oferecer àquele irmão o material sobre liderança, ofereci a ele um projeto operacional capaz de dar rumo à loja, desde que haja participação e comprometimento de todos os membros do quadro na sua implementação. Se o resultado de um projeto desses ou de outro qualquer for positivo e aceito por todos, fará com que o condutor do projeto, no caso o venerável mestre, seja considerado um verdadeiro líder por todos os irmãos do quadro e de outras lojas.

Por outro lado, é possível, também, pesquisar as biografias dos grandes líderes e procurar pistas sobre suas habilidades. Entretanto, os benefícios desse esforço serão ínfimos porque os autores desses livros biográficos descrevem apenas o que os líderes realizaram, mas não descrevem como e porque o realizaram. Na verdade, os próprios líderes pouco dizem como tornar-se um líder, porque não existe fórmula alguma para liderança. Há uma frase célebre: “Não importa o que o líder faz, mas sim o que o líder é”. O próprio líder não consegue reconhecer suas características individuais e que fazem com que as pessoas o sigam, mas as pessoas respondem a essas características. Portanto, somente observações ao longo dos anos podem tornar esta perspectiva nítida.

O líder, por sua vez, deve utilizar não só a cabeça, mas também o coração. A liderança, em sua essência, deve tocar o coração e a alma.

Ela está, quase sempre, fundamentada em uma conexão emocional e não racional.

Philip Crosby tem uma definição de liderança muito interessante que é a seguinte:

“Liderança é, deliberadamente, fazer com que as ações conduzidas por pessoas sejam planejadas, para permitir a realização do programa de trabalho-do-líder.”

Adaptando esta definição para a linguagem maçônica, poderíamos ter algo assim:
Liderança é, deliberadamente, fazer com que as ações executadas pelos irmãos da loja sejam planejadas para permitir a realização do plano de trabalho do venerável mestre.

Precisamos desdobrar alguns elementos da definição para tornar a mensagem mais compreensível.

Deliberadamente” significa que a loja deve eleger um determinado caminho e um propósito, estabelecendo objetivos e metas claros na mente de todos os Irmãos. Significa, ainda, que o venerável mestre deve escolher cuidadosamente os membros para compor sua diretoria e que conduza todos numa mesma direção.

“Ações executadas pelos irmãos” significa que os objetivos e metas devem ser alcançados por meio de ações empreendidas por todos os irmãos e não ações executadas por um pequeno grupo deles.

Planejadas” significa programar uma sequência de eventos que permita que os irmãos saibam, exatamente, aquilo que vai acontecer e o que se espera que cada um faça.

Plano de trabalho do venerável mestre” refere-se às realizações específicas que o venerável realmente planejou e deseja.

Portanto, caros irmãos, para o exercício pleno da liderança é preciso seguir alguns princípios fundamentais:

  1. Um programa de trabalho claro e definido.

2. Uma filosofia individual.

3. Relações duradouras.

Aqueles que desejam ser líderes precisam compreender, assimilar e implantar estes princípios de liderança.

Liderança envolve um trabalho árduo. Muitos dos que aspiram ao papel de líder, não conseguem desempenhá-lo. Outros, têm os atributos adequados, mas nunca chegam a fazer qualquer coisa a respeito.

Existe uma idéia tradicional de que os líderes querem praticar o bem. Entretanto, nem todo líder tem um programa voltado para a prática do bem. Frequentemente, a liderança é uma arte da qual se abusa.

Confesso que gostaria de estender-me muito além do que foi até aqui exposto, por se tratar de um assunto palpitante, complexo e controverso quanto à sua interpretação, mas, por outro lado, devo respeitar o limite de tolerância dos Irmãos em termos de tempo para leitura e também de espaço.

Para finalizar, permito-me apresentar, a seguir, um quadro que mostra os cinco perfis de liderança quanto à personalidade e características peculiares de seus agentes.

A GRADE DE LIDERANÇA – PERSONALIDADES

Destruidor Procrastinador Paralisador Planejador  

Realizador

 

 

Programa de trabalho

“Agora faremos isto deste modo.” “Vou colocar este assunto sob malhete. Mais tarde voltaremos e ele.” “Esteja certo de que isso não viola nenhum regulamento.” “Mostre a estratégia para que todos os Irmãos possam vê-la.” “Revisaremos os pontos de referência, mensalmente.”
 

Filosofia

“Tenho mais conhecimento que o irmão.” “Não vamos apressar as coisas.” “Não se preocupe com aquilo que funciona” “Quero que sejamos coerentes em tudo.” “Quero que todos conheçam nossa filosofia.”
 

Relacionamentos

“Não preciso dos irmãos” “Vamos ver primeiro como eles, lá do(a) Grande X, reagem.” “Faremos como sempre fizemos.” “Precisamos ter mais encontros e seminários etc.” “Vamos incluir os irmãos.”
 

O que vemos?

Uma pedra bruta grosseira e insensível. Um indivíduo relutante, nervoso e inseguro. Um indivíduo congelado no tempo. O progresso planejado. Um indivíduo vibrante e coerente.

 

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Referências:

– Junk, Pedro – Exegese simbólica – São Paulo, 2022;

-Carr, Harry – Oficio de Um Maçom – São Paulo, 2023;

-Camino, Rizzard da. – Simbologia do primeiro Grau – Ed. Madras, 2016;

-Castellani, José – Caderno de pesquisas Maçônicas – I – Loja de pesquisas    Maçônicas “Brasil” – Londrina; 1989.

 

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Sobre Rivaldo Frias

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Rivaldo Frias é bacharel em Direito, mestre maçom e deputado estadual pela Loja Lealdade Cotinguibense, em Aracaju.

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