Por Luciano Correia (*)
A cidade se prepara para uma das maiores festas: o Pré-Caju privado, vendido pela mídia como uma festa pública, paraíso dos axés & arrochas para consumar o gozo musical da nossa gente. Acontecia na Beira Mar, com muito mais gente e glamour, até ser expulsa por quem manda no pedaço: juízes, promotores, procuradores e outras patentes de autoridades para quem a cidadania funciona, até porque a caneta que ordena é a deles mesmos. E vou dizer: se eu morasse ali no ápice dos pracatuns fabiânicos, também ia dar queixa ao bispo.
Foi para a orla, encolheu, perdeu público, mas segue sendo uma grande festa. Os organizadores falam em milhões deixados aqui nos três dias de baticuns, mas nunca disseram para onde vão esses zilhões. Para a cidade ou o estado é que não é. Pelo contrário, esses despejam fortunas em patrocínio, segurança e cessão gratuita de tantos outros serviços prestados pelo poder público. Sob a mesma desculpa, nunca provada, de que o evento espalha desenvolvimento econômico.
Na área dos economistas e planejadores, ninguém jamais informou até hoje quanto a festa movimenta e para onde vai cada real gasto. É um mistério que conforta os organizadores, desobrigados de prestar contas de verbas públicas empregadas em evento fechado. Como “contrapartida”, uma gotinha de “cunho social” no oceano dos lucros privados: manda aí umas 50 cestas básicas para o Lar de Zizi, que tamos conversados. E os camarotes tremem de alegria com governantes e familiares saracoteando lá de cima, reluzindo em camisetas-abadás tropicais e embalados no uísque 15 anos, sem metanol.
Na mídia animal, vegetal e mineral da província, um consenso raro em torno da grandeza da festa, dos tais milhões gerados na economia, da lenda de abrir o Carnaval do Brasil — vejam só, que pretensão! — e coisas que tais. Não sei se os promotores do evento despejam uma ruela de publicidade além dos tradicionais filmes nas TVs abertas. Talvez o pagamento seja em “serviço”, a famigerada e deselegante fila do abadá-grátis.
Aprendi de menino com Papai que ser ximão é um dos poucos pecados capitais. Talvez por isso nunca tive coragem de cogitar ir para a fila. Quando passei pela prefeitura, seja na Comunicação ou na Cultura, há poucos anos, nunca recebi um só abadá, nem que fosse do bloco de Tonho Leite. Não sei se filtravam pelo caminho, mas foi melhor assim. Mesmo quando desapontava um amigo ou uma amiga que pedia um jeitinho para conseguir a cortesia de um bloco.
Não existe abadá grátis. Se eu já carregava comigo o alerta de Papai, firmei minhas certezas quando nos anos 80 um prefeito de Aracaju, apreciador do bom copo, disse numa entrevista que jornalista em Sergipe se comprava com uma dose de uísque. Fiquei ofendido, em solidariedade à classe, mas há muito eu já decidira: o uísque que bebo, pago eu!
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