sexta-feira, 21/11/2025
Navio Baependi
Navio Baependi, um dos torpedeados pelo submarino alemão Fotos: Wikipedia

Heróis entre o mar, torpedos e silêncio eterno…

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André Brito (*)

 

Hoje não vou começar com “Dia desses”. Porque ontem foi dia 15 de agosto, e contamos 83 anos dos torpedeamentos dos três navios na costa sergipana, em 1942, realizados pelo famigerado submarino alemão U-507. Foram a pique as embarcações: Araraquara, Aníbal Benévolo e Baependy. O desgraçado submarino nazista matou 551 pessoas. Na calada da noite madrugosa, essas vidas foram ceifadas covardemente. Vidas de pessoas que não estavam nem aí pro que rolava na Europa, quem eram Hitler, Mussolini, Churchil, Durango Kid.

Navio Araraquara
Navio Araraquara

Esse fatídico episódio foi o pontapé para que o Brasil entrasse na Segunda Guerra Mundial, ao lado dos Aliados. Aracaju virou uma cidade sitiada, como bem fala o professor Luiz Antônio Pinto Cruz em todas as instâncias acadêmicas por onde passou, desde a graduação ao doutorado.

Imagino, ainda que superficialmente, a agonia das pessoas acordando com o nefasto estrondo dos torpedos explodindo os navios. A agonia, o desespero, a dor do encontro com a tragédia, uma cena que nem Munch conseguiria retratar. O silêncio do mar, a escuridão da noite, o sono no vaivém das vagas do movimento marítimo… de repente a morte e o sofrimento…

O meu avô materno, o velho Teodoro, era o faroleiro à época (o atual farol da Farolândia) e foi designado para comandar a guarnição que recolhia os corpos dos náufragos na praia. Minha mãe, à época com 10 anos de idade, relatou-me que meu avô fedia tanto, em razão do contato com os corpos, que precisava entrar pelo quintal e tomar banho antes de entrar em casa. Ninguém suportava o mau (contrário de bom) cheiro.

Navio Aníbal Benévolo
Navio Aníbal Benévolo

Os malafogados (nome que os aracajuanos deram aos náufragos) foram recolhidos da Atalaia à Praia do Saco, em Estância. Inchados, disformes, uma cena mais grotesca que filmes de Freddy Krueger. Todos mortos pelo U-507. Inocentes destruídos por motivos imbecis de guerra. Não entendo, não aceito essa maldade humana.

Ah, outra figura importante desse episódio foi o meu tio-avô Henrique, irmão da minha vó materna Celina. Ele trabalhava como marinheiro no Baependy e sofreu o naufrágio. Exímio nadador e focado no trabalho, Tio Henrique conseguiu conduzir 20 pessoas para um bote salva-vidas e as deixou em segurança em terra firme. Dentre as pessoas salvas, estava a suposta irmã daquele que seria presidente do Brasil: Castelo Branco. Vilma Castelo Branco, agradecida pelo ato heroico, algum tempo depois do atentado terrorista, presenteou o marinheiro aguerrido com um lindo e gigante peixe de madeira. E ainda alcunhou meu tio com o fofo apelido de “Peixinho do Mar”.

— Alguém já viu alguma homenagem a essas pessoas?

 

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Sobre Andre Brito

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André Brito é jornalista e professor

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