sábado, 22/11/2025
Ozzy Osbourne Imagem: @ozzyosbourne/Instagram
Ozzy Osbourne: uma das maiores lendas do rock Imagem: @ozzyosbourne/Instagram

Os tempos mudaram e os tempos são estranhos

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Prof. Dr. Claudefranklin Monteiro Santos (*)

 

O título do presente texto é de um trecho da canção Mama, I’m Coming Home (1991), de Ozzy Osbourne, falecido na última terça-feira, 22. Para além de ser uma homenagem a uma das maiores lendas do rock, também é uma oportunidade para refletir os recentes acontecimentos ocorridos no Brasil e no mundo, em que algumas pessoas ainda insistem (e subestimam a inteligência que julgam ter) em acreditar na capacidade dos Estados Unidos da América de liderar o mundo livre e de um Deputado Federal brasileiro ser o real defensor dos interesses nacionais.

Sinceramente, ou o mundo capotou e morri no acidente (talvez ainda esteja em coma) ou eu fui imerso num manicômio geral do qual ninguém teve a gentileza de me avisar. Se ambas as opções são verdadeiras, valho-me, então, de Sílvio Brito para de suas palavras também fazer as minhas: “Pare o mundo que eu quero descer” (1985).

Por essa época, há exatos 40 anos, marco histórico da jovem democracia brasileira, Ulisses Guimarães propugnava uma máxima que atravessa os tempos mantendo seu sentido e importância originais:

Discordar, sim. Divergir, sim. Descumprir, jamais. Afrontá-la, nunca. Traidor da Constituição é traidor da Pátria”.

Nesse sentido, a “patriótica” família Bolsonaro tem dado os piores exemplos possíveis desde que assaltou a política nacional (pasmem, por meio da liberdade democrática), jogando a nação à beira de uma eventual crise econômica sem precedentes, tendo como padrinho da desgraça nacional um dos mais cínicos tiranos dos últimos tempos, revestido de democrata e defensor da liberdade de expressão, o megalomaníaco empresário norte-americano Donald Trump.

Na canção de Ozzy Osbourne Road to Nowhere (1985), há um trecho que diz “The wreckage of my past keeps haunting me” (Os destroços do meu passado continuam me assombrando). Se considerarmos que a democracia brasileira ainda não alcançou meio século de existência e que segue correndo riscos, nada é mais atual do que essa afirmação do cantor britânico, polêmico por seu comportamento tresloucado, mas lúcido e cirúrgico em sua poesia. E essa é a ideia, diante do que temos visto e ouvido: a sensação de sentirmos o bafo quente de um regime autoritário em nosso cangote desde que voltamos a decidir nossos destinos políticos, seja pelo voto livre e secreto, seja pela harmonia entre os três poderes, contemporizado pela Constituição.

O pior desses tempos que mudaram é que eles, de fato, têm sido muito estranhos. E aqui, destaco a subversão da verdade. E quantos têm se valido da subversão da verdade para agarrar-se ao poder a todo custo e atrair tantos para o seu rebanho. Antes, e acima de tudo: “Deus, Pátria e Família”; agora, “farinha pouca, meu pirão primeiro”, leia-se: “fazer a América grande outra vez” ou “I love you, Trump”. Afora isso, a subversão de princípios como “liberdade”, “direitos fundamentais”, “democracia”, “direitos humanos”. A quem interessam os efeitos da mentira, senão aos que mentem? Quem paga a conta? E Deus, que tem a ver com toda essa paranóia? Quem mente não é de Deus!

Aqui recordo das palavras de Jesus Cristo, que nos adverte em João 8, 44:

Vós sois do diabo, vosso pai, e quereis realizar os desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio e não permaneceu na verdade, porque nele não há verdade: quando ele mente fala do que lhe é próprio porque é mentiroso e pai da mentira”.

O que me consola disso tudo é saber que todos aqueles que rosnam arrogância e prepotência, que arrotam empáfia e cospem nas leis e acham que estão acima de tudo e da pátria (até mesmo de Deus), acabam como todos nós: morrendo sem nada valer e sem nada levar, além das frias carnes de seu cadáver, que tornar-se-á picanha para os vermes, parafraseando aqui Machado de Assis, em Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881). O mesmo Machado que certa feita, com muita propriedade escreveu:

A soberania nacional é a coisa mais bela do mundo, com a condição de ser soberania e de ser nacional”.

Descanse em paz, Ozzy Osbourne! Mais do que o “Príncipe das Trevas”, você foi uma espécie de arauto do tempo presente, sobretudo quando um dia musicou uma máxima que atinge em cheio o coração dos pais da mentira:

Eu falei com Deus esta manhã e ele não gosta de você / Você está contando a todas estas pessoas o pecado original / Ele diz que te conhece melhor do que você jamais o conhecerá”.

 

Leia também:

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Sobre Claudefranklin Monteiro

Claudefranklin Monteiro Santos
Professor doutor do Departamento de História da Universidade Federal de Sergipe.

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