Antônio Carlos Garcia (*)
Apesar do anúncio feito recentemente pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre a imposição de uma tarifa de 50% sobre a importação de suco de laranja brasileiro, as exportações do setor em Sergipe seguem ativas, ao menos por parte de uma das principais indústrias locais. A medida norte-americana, que deverá entrar em vigor em 1º de agosto, ainda não produziu efeitos práticos no embarque do suco concentrado e congelado — principal produto exportado pelo estado. “Até o momento, não tem impacto nenhum. Isso vai ter impacto se essa tarifa realmente for adiante, mas por enquanto não”, afirmou Frank Vieira, diretor executivo do Grupo Maratá. Ele reforçou, no entanto, que o mercado está apreensivo, “pois ninguém sabe o que vai acontecer”.
Na avaliação de Frank, embora a imposição tarifária traga incertezas, a dependência do mercado norte-americano pelo suco brasileiro pode limitar os impactos mais severos. “Os Estados Unidos precisam do suco do Brasil. Lá teve problema sério na produção local, então eles não têm de onde comprar. Podem até aumentar o valor para o consumidor, mas deixar de importar é difícil”, ponderou.
Ainda assim, ele reconhece que, caso não haja uma negociação até a data prevista, os primeiros meses após a implementação da tarifa podem trazer turbulências. “Pode ter ali um mês ou dois de turbulência, o que é normal. Mas acreditamos muito que até lá haja uma negociação para rever isso.”
A maioria das exportações de suco concentrado da Maratá é para a Europa, mas a empresa atende, também, o mercado dos Estados Unidos.
A empresa Tropfruit foi procurada para falar sobre o assunto, mas por enquanto prefere aguardar o desenrolar dos acontecimentos para se pronunciar. “Por enquanto, a produção de suco congelado segure normalmente”, disse um dos diretores sem entrar em detalhes.
Suco de laranja lidera, mesmo com exportações em queda
Análise feita pelo Centro Internacional de Negócios (CIN/SE), da Federação das Indústrias do Estado de Sergipe (FIES), com base em dados do Comex Stat, mostra que as exportações sergipanas somaram US$ 9,9 milhões em junho de 2025 — uma redução de 56,0% em comparação ao mesmo mês do ano anterior, e de 76,4% em relação a maio deste ano.

Mesmo com a retração, o suco de laranja congelado liderou as exportações, somando US$ 6,6 milhões e representando 66,2% do total exportado pelo estado no mês. Outros destaques foram o limoneno (US$ 635,2 mil) e óleos essenciais de laranja (US$ 537,4 mil), produtos que juntos concentraram 78,0% da pauta exportadora sergipana. Os principais destinos foram os Países Baixos (US$ 6,6 milhões), os Estados Unidos (US$ 1,1 milhão) e o Canadá (US$ 478,4 mil).
Por outro lado, as importações sergipanas em junho totalizaram US$ 13,8 milhões. Entre os itens mais importados estiveram trigo (US$ 7,7 milhões), espectrômetros de massa (US$ 390,8 mil) e partes de motocicletas (US$ 348,9 mil). A Argentina liderou como principal país fornecedor (US$ 7,7 milhões), seguida por China (US$ 2,6 milhões) e Alemanha (US$ 1 milhão). Com isso, a balança comercial de Sergipe fechou o mês com déficit de US$ 3,8 milhões.
Tarifa como instrumento político
O economista Fernando Carvalho, chefe de gabinete do Conselho Deliberativo do Sebrae em Sergipe, chama atenção para o caráter político da medida anunciada por Trump. “Ele vem adotando essa tarifa como medida política, não só econômica. A justificativa de equilíbrio da balança comercial americana, que ele tem usado para outros países, não se sustenta no caso do Brasil, porque a balança é deficitária para nós, não para os EUA”, destacou.

Para ele, os reflexos tendem a ser amplos, tanto para o estado quanto para o país. “Mesmo que Sergipe exporte mais para a Europa do que para os Estados Unidos, estamos falando da maior economia do mundo. Qualquer retração ali impacta toda a cadeia econômica. Sergipe é forte na produção de polpa de laranja, que é um dos principais itens da pauta exportadora estadual, e qualquer desestabilização nesse comércio atinge não só a indústria de citros, mas também o setor agropecuário como um todo.”
Fernando aponta ainda que o Brasil, ao dominar 80% do comércio mundial de suco de laranja, tende a sentir os efeitos de forma significativa caso não haja recuo ou negociação. “Ou o Brasil busca outros mercados, ou tenta um acordo com os EUA. Mas se a medida for mesmo implementada, haverá impactos em cadeia. O governo brasileiro precisa agir com diplomacia e estratégia, porque essa também é uma aposta política, e Trump é um negociador. Resta saber até onde o Brasil está disposto a ir nesse jogo.”
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