A implantação da primeira unidade do Grupo Piracanjuba no Nordeste, no município de Nossa Senhora da Glória, no sertão sergipano, está sendo aguardada com expectativa por produtores locais e pelo poder público. A escolha do município para instalar a empresa foi uma decisão estratégica: Glória é considerada uma das maiores bacias leiteiras do Nordeste. Em Sergipe, a produção diária de leite é de 2 milhões de litros. Uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), do quarto trimestre de 2024, revela que Sergipe ocupa o segundo lugar na produção de leite entre os estados nordestinos e 10º lugar no país, com 132,2 milhões de litros.
O diretor técnico da Empresa de Desenvolvimento Agropecuário de Sergipe (Emdagro), Jean Carlos Nascimento Ferreira, diz que a empresa trará um impacto positivo pois abrirá mercado, melhorará absorção da produção e vai gerar empregos. Ao anunciar a compra Natulact, o Grupo Pirancajuba, garantiu, por meio de nota, “que o objetivo é manter todos os empregos diretos gerados pela fábrica, hoje em torno de 260, a maioria em funções fabris, além dos fornecedores de leite, que serão visitados um a um”.
Para Jean Carlos, “as perspectivas são ótimas e para a região foi algo espetacular”. Outro ponto importante que ele destaca é a relevância do sertão sergipano para a economia leiteira. “Enquanto a média brasileira é de 1.343 litros por cabeça/ano, a de Sergipe é de 2.336 litros por cabeça/ano, e a de Poço Redondo, no sertão, é de 3.960 litros por cabeça/ano, três vezes mais que a média nacional”.
Uma das razões do Grupo Piracanjuba instalar a primeira unidade no Nordeste, foi a posição geográfica da Natulact, “que está localizada em uma das maiores bacias leiteiras do Nordeste” e o Governo de Sergipe já anunciou investimentos da ordem de R$ 240 milhões para a região.
Em abril deste ano, durante a Festa do Leite, no povoado Santa Rosa do Ermírio, que pertence ao município de Poço Redondo, o governador de Sergipe, Fábio Mitidieri, anunciou o projeto Adutora do Leite, que prevê a construção de um sistema com 108,60 quilômetros de extensão para transportar água captada no Rio São Francisco, interligando os municípios de Canindé do São Francisco a Nossa Senhora da Glória. O sistema contará com 22 reservatórios destinados ao abastecimento de rebanhos, estimados em 152 mil bovinos, dos quais 45% estão em estado de lactação.
Arrecadação de impostos
Jean Carlos destacou que com a chegada da Piracabjuba haverá impacto positivo na arrecadação estadual. “Tudo isso fortalece a economia local e aumenta a arrecadação de impostos. É um ciclo que se retroalimenta.”
A estrutura da indústria a ser ocupada pela Piracanjuba anteriormente pertencia à Santa Bárbara Indústria e Comércio de Bens e Laticínios Ltda (Natulact), empresa com mais de 30 anos de atuação no setor de queijos e derivados. Com a transação, a companhia goiana passará a contar com sua primeira unidade fabril na Região Nordeste, ampliando para oito o número de indústrias atualmente em operação. As outras sete unidades estão distribuídas entre as regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste do país.
A Piracanjuba disse, por meio da assessoria de comunicação, que o valor da transação com a Natulac é confidencial, mas adiantou que “oportunamente serão feitos investimentos para ampliar a capacidade de produção”. A produção vai atender todo o mercado nordestino. As operações começarão imediatamente após a aprovação da operação pelo CADE.
Desenvolvimento regional
O secretário municipal de Agricultura e Pecuária de Glória, Jairo Santana, destaca a importância do empreendimento tanto pela geração de empregos quanto pelo potencial de valorização da produção leiteira regional. O município abriga dezenas de associações ligadas à bovinocultura leiteira e conta com cerca de 500 vacarias e mais de 400 pequenas unidades de produção de queijo, muitas ainda na informalidade. “A entrada da Piracanjuba traz mais competitividade ao mercado. Já temos aqui grandes empresas como a Betânia e a Nativille e esse novo ator pode ampliar ainda mais o acesso dos pequenos produtores ao mercado formal”, acrescentou.

A chegada da nova indústria anima a produtora Maria Joseane da Costa, presidente da Associação de Queijeiros Sertão Forte, que reúne 18 associados em municípios como Carira, Gararu, Itabi, Monte Alegre, Porto da Folha, Feira Nova e Canindé. “Nossa região é forte, e grandes empresas estão começando a nos enxergar”, afirma Joseane, proprietária da Queijaria Fazenda Nova.

A associação produz diariamente cerca de 200 quilos de queijo coalho, além de manteiga e queijo frescal, mesmo com os desafios da oscilação na oferta de leite, que depende do estágio de lactação dos animais. “Temos produtores que já vendem para laticínios maiores, outros ainda estão na informalidade. Mas estamos caminhando, e esse movimento pode ajudar na valorização do nosso produto.” Ela acredita que a Piracanjuba possa vir a comprar leite direto dos fazendeiros da região ou via produtores já organizados, como aqueles que fornecem para a Natulact.