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Quem dá o perfil de uma empresa?

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Petruska Menezes

O estudo de Liderança avançou muito e busca desenvolver perfis que incluam conhecimentos, habilidades e atitudes (o famoso CHA) em cargos de gerência, chefia, chegando até o CEO. Verdade que muitas potências podem ser atualizadas e se tornaram realidade, já dizia Pierre Levy, em seu famoso livro O que é virtual? Mas para quem estuda o comportamento de uma forma mais profunda como na Psicanálise, sabe-se que é possível ensinar novos hábitos e até formas de se comportar dentro da empresa que, por um tempo, levem a um maior desenvolvimento. Contudo, o que realmente vai gerar o perfil de liderança e contribuir para o clima organizacional são as ações ditas e não ditas, de todos os níveis de chefia.

Entendemos que se existe mesmo uma parte de cada um de nós que não é conhecida, o inconsciente, nem tudo será controlado o tempo todo. Como psicanalistas, entendemos o inconsciente como uma estrutura presente no funcionamento mental, mas as Neurociências também trazem (finalmente) à luz e começam a dar verdadeira importância ao funcionamento biológico inconsciente que, do meu ponto de vista, com absoluta certeza, irá influenciar na saúde mental como um todo.

Portanto, as grandes empresas começam a buscar pessoas que, além do conhecimento de gestão, possuam habilidades emocionais para lidar com a pressão e com a repetição de situações difíceis, que chamamos de “transferência” (ou seja, um deslocamento de uma situação real que obteve uma resposta real inconsciente em determinada época da sua vida), para agir de forma semelhante em um novo problema. Tudo isso acontece sem que seja percebido pela pessoa.

Um psicanalista em uma empresa pode perceber inconsistências e intervir, mediando uma situação e procurando desvincular esses processos transferenciais. Um adendo: essa repetição não necessariamente pode acontecer só com um gestor. Ela pode ocorrer com um grupo grande de pessoas, como um setor inteiro, vários setores ao mesmo tempo ou com a empresa toda.

Quando isso ocorre, normalmente o desfecho é se chamar uma consultoria externa, que traz a verdade de uma forma objetiva e concreta e que, se não houver maturidade para a empresa e seus colaboradores não se permitirem ouvir, gera-se uma resistência muito grande à implantação das resoluções ou elas só serão aceitas até o ponto em que o problema, chamado na Psicanálise de “sintoma”, cessar. Em analogia, seria como medicar alguém para que a febre baixe, sem tratar a infecção bacteriana com o remédio adequado.

Falando assim, parece fácil ou até bobagem, mas quem dá o perfil da Instituição não é só a parte consciente de todos os que estão presentes, principalmente os chefes – aquilo que eles não se dão conta que fazem. Pessoas muito competentes, mas com funcionamentos mais primitivos podem perseguir seus subordinados, agir com maldade e rigidez, magoando-os, não sendo capazes de perceber ou sentir empatia. Isso aumenta a tensão da cultura e do clima organizacional, levando à diminuição gradativa, muito sutil e quase imperceptível, da produtividade. Quando isso não é possível, aparecem os atestados, os adoecimentos e o absenteísmo (faltas, atrasos, ausências) e quando a coisa se agrava muito, começa a alta rotatividade de pessoal.

Trabalhar com pessoas é trabalhar com a subjetividade humana. Só é possível ser imparcial até certo ponto. Assim, o perfil, o adoecimento de pessoas, de um setor e da empresa ou instituição terá muita influência na maneira como os gestores cuidam de si e dos outros. Depois dessa informação, que tal olhar sua empresa com novos olhos?

(*) Profa. Esp. Petruska Passos Menezes é psicóloga e psicanalista, integrante do Círculo Psicanalítico de Sergipe, tem MBA em Gestão e Políticas Públicas pela FGV (Fundação Getúlio Vargas), Gestão Estratégica de Pessoas (pela Fanese), Neuropsicologia (pela Unit) e em curso Gestão Empresarial pela FGV.

** Esse texto é de responsabilidade exclusiva da autora.  Não reflete, necessariamente, a opinião do Só Sergipe.

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