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Para minha Rita, com amor

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Por Antônio Carlos Garcia (*)

 

“Gostaria de dizer para você que viva como quem sabe que vai morrer um dia, e que morra como quem soube viver direito.” Recorro a essa frase de Chico Xavier, o maior nome do Espiritismo no Brasil, para dizer a todos que Rita, que agora nos deixa fisicamente, soube viver direito. E o que é viver direito? É ser doação, compreensão, desprendimento, sinceridade; é ser amor.

“Eu sou a prova do amor de Rita, um amor incondicional” Foto: Guto Jads

Eu sou a prova do amor de Rita, um amor incondicional. Não saí do seu ventre, mas entrei no seu coração e ela no meu. Foi amor ao primeiro toque de pele, uma cumplicidade de mãe e filho que, neste plano terrestre, durou 59 anos, a minha idade, mas que no plano espiritual é eterno.  O padre Antônio Vieira, doutor da igreja, tem uma frase muito bonita: “O filho natural, ama-se porque é filho. O filho adotivo é filho porque se ama”.  Eu sou o resultado deste amor porque se ama.

E aqui abro um parêntese: adote uma criança. Você mudará sua vida para melhor.

Querido Oydema Ferreira, você sempre chamou Rita de secretária de Nossa Senhora Santana. Agora, ela segue para assumir essa nova tarefa. Mas antes que fosse chamada, ficou aqui por 95 anos. Pouco mais de 60 deles, foi servindo espontaneamente a Catedral Matriz, envolvida com Coral Santa Cecília, que encantou as festas da nossa padroeira; com sua devoção à Santa Rita, a santa das causas impossíveis, ficando responsável pela ornamentação da charola para a procissão de Santana, anos a fio; organizando também a Procissão do Senhor Morto, buscando as Marias, o São Joao e ensinando várias jovens o Ó vos Omnes (Oh Vós todos), canto de lamento da Verônica, que diz num trecho. “Vinde e vede se existe dor tão grande quanto a minha dor”. Só se entoa esse canto com alma. A emissão da voz para que todos o ouçam será mera consequência. E Rita soube ensinar com alma.

Estes longos dias em que Rita padeceu no Hospital Clériston Andrade, foram de desespero, fé, impotência e resiliência para mim. Essas contradições me levaram à Catedral Metropolitana por dias seguidos. Um pouco da minha história de vida se passou, também, na Catedral, por isso fui até falar a sós com Deus, calei a voz e encontrei a paz.

A estada de Rita no hospital, também foi de libertação para mim.

Libertei-me de mim mesmo através das lágrimas que teimaram em não sair ao longo da vida, por mais que eu as quisesse. Só quem me conhece muito bem, sabe o tamanho da minha luta para chorar. Alguém me disse, lá na minha infância, que homem não chora. Inocente, acreditei. E quando perdi a inocência de criança, continuei a não chorar. Foi preciso a dor de ver minha Rita morrer aos poucos, feito a chama de uma vela que vai se apagando, para eu desabar em lágrimas. Lá da cama do hospital, inerte, sem dizer uma palavra, ela mais uma vez me ajudou. E por que tenho tanta certeza disso? Porque acredito no encontro de almas, na sincronia e cumplicidade quando temos em nossa vida um verdadeiro amor, nas suas mais variadas formas. Meus choros têm sido minha catarse. “Um homem também chora, também deseja colo e palavras amenas”.

Rita também me ensinou que tenho um anjo na vida, aquele que sempre me rege, guarda, governa e ilumina. Posso assegurar que, além do anjo invisível a quem ela se referiu, Rita é meu anjo visível, caso contrário, talvez não estaria aqui com vocês.

Rita foi anjo na vida de muita gente. Na hora de ajudar alguém, ela largava tudo o que estava fazendo para acolher. Ajudar sempre era sua prioridade. Quantas vezes a via sair para acolher um vizinho ou até mesmo um desconhecido. Ela me ensinou, pelo exemplo, que fora da caridade não há salvação.

Nos últimos anos de sua vida, quando lhe faltava a energia do corpo, mas não a da mente, Rita encontrou anjos visíveis para acolhê-la.  Cito com muito carinho e gratidão, minha madrinha Tita que, junto com Rita e Raimundo, também me criou; minha sobrinha Tatiana, por sua dedicação e que estava comigo quase todos os dias visitando Rita, sua madrinha e avó; as amigas Creuza e Val que estavam junto com Rita o tempo inteiro. Esse amor chegou até mim, também, da forma mais pura e sincera. Ao acompanhar os últimos dias de luta de Rita, fui acolhido. Me vi adotado por Creuza e sua família. Outras pessoas, movidas pelo amor, também me abraçaram.

Pelas muitas coisas que passei nos últimos meses, hoje entendo que Deus estava me preparando para este momento, pois meu anjo da guarda fez eu renovar minha fé, me sentir vivo.  Me devolveu a autoestima e hoje digo que sou perfeito e forte, tenho amor e muita sorte. Tenho paz. Acredito firmemente no poder da minha mente, porque é Deus no meu subconsciente.

Inspirada por Deus, minha Rita sempre me ensinou que amar é que dá motivo à vida. Aprendi essa lição e muitas outras contigo, meu amor. Vá em paz secretariar Santana. Sua vida aqui foi um exemplo… O nosso amor filial é eterno.

Fico por aqui e “vou pedir pros anjos cantarem por mim. Pra quem tem fé, a vida nunca tem fim”, canta o Rappa.

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Antonio Carlos Garcia

Editor do Portal Só Sergipe

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