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A máscara que chamamos de rosto

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Por Nilton Santana (*)

 

Nos arredores da cidade, toda pessoa na infância recebia uma máscara. Essa máscara se enrijeceu no seu rosto e cresceu com a pessoa ao longo do tempo. Com o passar dos anos um dos rapazes foi moldando a sua máscara de acordo com os costumes da sociedade.

Cada um tinha que usar uma máscara na sociedade, para que ninguém fosse um problema. A sociedade não queria resolver os problemas de seus indivíduos, apenas almejava que seus membros não fossem um problema. O mesmo pode-se dizer dos grupos que buscavam modificar a sociedade por meios moderados ou revolucionários: moldavam as máscaras das pessoas para que se adequassem ao seu sumário de valores, ideias e costumes do conjunto. Assim, tanto os que seguiam as regras quanto os revolucionários usavam máscaras. Não importa quais os costumes ou grupos, as pessoas viviam tanto com a máscara que a chamavam de rosto.

Ninguém mais tinha a coragem de retirar a máscara, nem mesmo quando estava sozinho. Estar sozinho era o momento certo para fazer retoques na máscara que pensavam ser seu rosto. Pessoas se apaixonavam por máscaras, se casavam com pessoas mascaradas e ninguém percebia viver na maior parte das vezes uma ilusão.

Até que um dia ao estar com o Livro Antigo, um jovem rapaz leu que aquela máscara não era o seu rosto. O Livro Antigo já era conhecido por todos, a sua mensagem estava exposta em todos os lugares da sociedade, porém, pouquíssimos entendiam profundamente o significado da Tradição. O Livro dizia que a máscara era apenas um rosto ilusório, e quem tinha a coragem de retirar o seu segundo rosto seria verdadeiramente livre.

Tais ideias demoraram a adentrar no coração do rapaz. Foi demasiadamente doloroso saber que aquele seu rosto, era uma ilusão. Saber que havia algo bem mais bonito debaixo daquela camada. Em frente ao espelho procurou retirar sua máscara com muita dor. Parecia estar colada, por isso, não conseguiu retirar.

Resolveu deixá-la colada, desta vez sabendo que não era seu rosto. Apenas a observando. Como se não aguentasse mais aquele olhar consciente, a máscara caiu por si mesma. Ao cair em suas mãos, o rapaz viu o mais lindo semblante. E, ao olhar para dentro de si, percebeu que a máscara era frágil, que seu rosto era resistente, pois não precisava de retoques. Não destruiu e nem teve raiva da máscara. Resolveu apenas deixá-la escorregar de suas mãos.

A partir desse dia foi cada vez mais liberto, e estava cada vez mais profundamente em paz. E quando o seu interior mudou, tudo mudou no exterior. As suas atitudes mudaram, e tudo nele se tornou mais profundo. Havia realmente começado outra vida.

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Nilton Santana

Nascido em Aracaju, professor de História, membro da Loja Estrela de Davi e amante dos estudos sobre religiosidades e mitologia

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