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Elvis, meu amigo desconhecido

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Por Fernanda Warwick Trinta Martins (*)

 

Aos meus onze anos de idade eu entrei em contato com uma pessoa, que, embora estivesse se despedindo desta sua passagem pela Terra, me acompanharia a vida inteira. Foi em um final de tarde, naquelas horas em que o dia se despede morosamente, que a minha relação com Elvis Presley começou.

No dia 16 de agosto de 1977 vi, pela televisão, o mundo se despedir de um dos maiores intérpretes da música americana. Eu não conhecia Elvis, mas, naquele exato momento em que assisti à procissão dos quatorze Cadillacs brancos que levaram seu corpo ao mausoléu da família – na época ainda no Cemitério Forest Hills, em Memphis -,  eu senti a perda profunda de um amigo. Impressionada com essa sensação desconhecida em mim, adquiri, na então antiga Lusitana, o meu primeiro vinil de Elvis: From Elvis Presley Boulevard Memphis Tennessee. Nos primeiros acordes desse disco que continha baladas que nem eram tão divulgadas na época, eu senti a voz sonora que soou para mim – agora com toda a certeza – como a voz de alguém que eu já conhecesse a minha vida inteira.

Desde então, Elvis tem sido para mim aquele amigo “desconhecido” que me acompanha em todos os lugares. Se me sinto triste, Elvis me conforta; se me sinto alegre, ele me eleva. Em 1977 e nos anos seguintes, ainda era difícil se obter informações sobre coisas ou pessoas. Não havia YouTube, Google ou todas as mídias que existem hoje. Muitos anos depois, quando me mudei para a Europa e as mídias explodiram, foi que passei a descobrir muito mais coisas sobre o meu “amigo”, que somente serviram para reafirmar a energia que nos unia. Amigos se conhecem ao longo dos anos e de convivência e foi desse jeito que a minha amizade com Elvis floresceu. Independentemente do cantor e intérprete fenomenal, Elvis era uma pessoa fiel a si mesmo. Generoso, leal para com os amigos, atencioso com todos aqueles que o rodeavam, chegou a insultar o gerente do Hotel Internacional de Las Vegas, por este ter despedido um camareiro que lhe atendia.

O meu amigo teve origem humilde e essa humildade e simplicidade o acompanharam a vida inteira. Elvis era excêntrico para a sua época e gostava de ser diferente, único. Notem que simplicidade e autenticidade se completam sem se opor. Eu me sinto assim, diferente e única. Não imito moda, vivo a minha moda.

No dia 08 de janeiro deste ano, se fosse vivo, o meu amigo completaria 89 anos de idade. Muitas pessoas dizem – e até se questionam – que Elvis não seria tão cultuado se ainda estivesse vivo. Eu discordo. O meu amigo era, acima de tudo, criativo. Nos poucos anos de sua carreira musical Elvis se reinventou pelo menos umas cinco vezes: o rebelde que transformou uma geração, o ídolo do cinema, o selvagem do Comeback Special, o devoto cantor de gospel, até chegar ao icônico Elvis dos shows ao vivo. Elvis criou estilo, guarda-roupa e inovou com suas apresentações no palco. Por isso eu digo que sim, Elvis com certeza teria continuado a sua carreira artística com plena força e criatividade e estaria fazendo tanto – ou mais, se é que isso é possível – sucesso do que ainda faz hoje, quase 47 anos do seu falecimento.

E eu estaria ali, aprofundando a minha amizade com esse meu amigo “desconhecido”.

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Fernanda Warwick Trinta Martins

Fernanda Warwick Trinta Martins é formada em Jornalismo, escritora, autora de vários contos publicados em diversas línguas. É autora do livro Taromínio. Reside na Holanda.

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