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Anselmo Machado e a cultura na Bahia em tempos de supressão da liberdade

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Prof. Dr. Claudefranklin Monteiro Santos (*)

 

Ainda sob à sombra do monstro político chamado ditadura, os que a apoiam usam dois “argumentos” para justificar o seu retorno em nosso tempo. Além da falsa tese de milagre econômico e prosperidade financeira, a considerável produção cultural. Sim, de fato foi considerável, mas do outro lado da ponta: o da resistência à censura, por exemplo. Insistem em dizer que no âmbito da proteção do patrimônio cultural e do fomento ao turismo, sim. Porém, com inúmeros “se nãos”.

Nesse sentido, penso que os livros do Prof. Dr. Anselmo Ferreira Machado Carvalho, frutos de suas passagens pela pós-graduação em História (mestrado e doutorado), são extremamente significativos e esclarecedores: “A Bahia constrói o seu futuro sem destruir o passado – políticas de modernização da Bahia (1967-1983)” e “ Intelectuais, Políticas Culturais e Poder na Bahia (1968-1987)”. O primeiro pela Editora da Universidade Estadual de Feira de Santana e o segundo pela Editora IFS.

Natural de Camaçari-BA e residindo em Esplanada-BA até a presente data, Anselmo Machado é professor de História do Instituto Federal de Educação da cidade de Lagarto-SE, onde tivemos a oportunidade de nos conhecermos por intermédio de um outro professor Anselmo, Vital, meu confrade da Academia Lagartense de Letras. Machado sempre se interessou pela história local, realizando projetos de pesquisa e de iniciação à pesquisa com seus alunos sobre a cultura lagartense. Foi aí que ele ouviu falar a meu respeito e não tardou para nos tornarmos amigos e parceiros nas lides do Ensino Superior e da Pesquisa Histórica da Bahia, mais de perto da produção e das políticas culturais baianas.

Com tanta coisa em comum, eu estudando a música trieletrizada da Bahia (Trio Elétrico Armandinho, Dodô e Osmar) e, ele, essa relação entre poder, política pública e cultura, chegamos juntos ao cenário do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, sob as bênçãos do saudoso Prof. Dr. Edivaldo Boaventura (1933-2018) e do Prof. Dr. Milton Araújo Moura (UFBA). Doravante, tenho estado atento à sua produção científica como também à sua trajetória professoral e editorial, que passo a relatar, em síntese, a partir de agora.

Sua formação básica foi toda ela Cenecista, em Esplanada-BA. É formado em História pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). O Mestrado em História, na Universidade Federal de Feira de Santana, sob a orientação do Prof. Dr. Rinaldo César Nascimento Leite, e o Doutorado em História, novamente na UFBA, orientado pela Profª. Drª. Lina Maria Brandão Aras. Tem, ainda, uma Especialização em História Econômica e Social, pela Faculdade São Bento, com a pesquisa “Carlismo e baianidade: a revista Viverbahia na construção de um discurso identitário (1970-1980)”, orientado pela professora Graciela Rodrigues Gonçalves.

Antes de se estabelecer no IFS de Lagarto, a partir de 2014, foi professor na rede cenecista (2008-2009), tutor de graduação da Universidade Norte do Paraná (2007-2009), professor da rede municipal de educação da cidade de Camaçari-BA (2009-2011), tutor do Curso de Licenciatura em História da Universidade do Estado da Bahia (2014-2015), orientador de trabalho acadêmico no Curso de Licenciatura em Pedagogia da Universidade Federal de Ouro Preto (2009-2011), professor de História do Instituto Federal da Bahia (2013-2014).

Em “A Bahia constrói o seu futuro sem destruir o passado – políticas de modernização da Bahia (1967-1983)” e “Intelectuais, Políticas Culturais e Poder na Bahia (1968-1987)”, Anselmo Machado dedica-se a contextualizar e explicar os usos políticos da identidade baiana pelos órgãos de fomento e de gestão da cultura na Bahia em plena Ditadura Militar, apropriando de seu passado histórico para imprimir um discurso de “modernização”. De igual modo, a partir da atuação dos intelectuais que compunham, por exemplo, o Conselho Estadual de Cultura da Bahia.

Muito bem fundamentas, densas e bem escritas, as obras além de fazer memória dos lugares, sujeitos e das políticas públicas de cultura voltadas para a Bahia, também ajudam a entender como regimes autoritários podem se valer de sentimentos de pertença e de identidade para imprimir uma noção de cultura que nem sempre preza pela liberdade de expressão e pelo respeito às liberdades criativas e individuais.

Em tempo, cumprimento o Prof. Dr. Anselmo Machado pela profícua produção historiográfica e agradeço pela importante contribuição que vem dando a Sergipe, a partir da formação de estudantes do Ensino Médio da cidade de Lagarto, bem como do Nível Superior, enquanto professor de Patrimônio Histórico e Cultural Edificado do Curso de Arquitetura e Urbanismo do Campos IFS.

 

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Claudefranklin Monteiro

Professor doutor do Departamento de História da Universidade Federal de Sergipe.

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