Por Juliano César Souto (*)
Entre 1988 e 1991, o Brasil enfrentou um confronto comercial direto com os Estados Unidos.
Diante da resistência brasileira em adotar regras internacionais de patentes e abrir o setor de informática, Washington impôs tarifas de 100% sobre uma lista de produtos brasileiros. A reação interna foi marcada por um discurso político-ideológico firme, liderado por Ulysses Guimarães no Congresso, mas sem um plano consistente de inserção internacional.
O impasse travou exportações, aumentou custos de importação e atrasou a modernização tecnológica.
O cenário só começou a mudar com a chegada de Fernando Collor à presidência, que, com pragmatismo, negociou acordos e iniciou a abertura comercial — rompendo o isolamento, mas sem resolver integralmente a fragilidade estrutural da economia.
Hoje, o tarifaço repete a lógica de confronto assimétrico, mas com nova roupagem:
– De patentes e informática (1988) → para big techs e controle da informação (2025);
– De lobby farmacêutico → para pressão direta de plataformas digitais e setores estratégicos da economia americana;
– De resistência à abertura → para retaliação a ações judiciais e regulatórias, alinhamentos políticos e disputas narrativas em fóruns internacionais.
Assim como no passado, o Brasil combina orgulho retórico e improvisação tática, mas carece de estratégia de Estado. A diferença é que, agora, nossa economia está ainda mais dependente das cadeias globais — e mais vulnerável a qualquer medida protecionista de parceiros estratégicos.
Na crise de 1988, rugimos contra o gigante para defender nossa soberania tecnológica, mas acabamos cedendo sem ganhos estruturais.
Em 2025, rugimos novamente — agora em nome da soberania digital — e corremos o risco de encerrar o capítulo da mesma forma: cedendo após perdas econômicas expressivas, sem conquistar avanços reais em autonomia.
A retórica pode render dividendos políticos internos, mas a história mostra que o rugido sem estratégia tende a se dissipar. O custo é alto e as oportunidades de reconstrução são raras.
O embate narrativo que domina o debate público — seja em torno da defesa da democracia, da liberdade de expressão ou da suposta perseguição a líderes políticos como Jair Bolsonaro vem sendo usado como cortina de fumaça para desviar a atenção do que realmente está em jogo.
Ao transformar disputas ideológicas em espetáculo midiático, alimentamos a divisão interna e desperdiçamos energia naquilo que não altera a essência da nossa vulnerabilidade no cenário global.
Enquanto nos engalfinhamos em trincheiras partidárias, esquecemos que, na arena internacional, não importa quem ocupa o poder momentaneamente — governos de direita ou de esquerda não mudam a lógica do jogo.
O que pesa é a força de uma Nação com propósito, visão de futuro e projeto de longo prazo.
Essa fragmentação nos torna presas fáceis para atores externos, que exploram nossas fissuras internas para impor agendas econômicas, tecnológicas e geopolíticas.
O tarifaço é apenas a face mais visível dessa vulnerabilidade. Sem um pacto nacional, continuaremos a ser um país que reage a crises, e não um que as antecipa ou transforma em oportunidades.
Se existe um aprendizado do passado, é que o Brasil só sai fortalecido de crises quando transforma o choque em projeto nacional.
– Vargas, nos anos 1940, aproveitou as ambiguidades da Segunda Guerra para impulsionar a industrialização;
– Collor, com todos os erros e acertos, usou o desgaste das tarifas para abrir e modernizar a economia em pontos cruciais.
O tarifaço atual não é apenas uma disputa comercial: é um teste de maturidade estratégica. O Brasil precisa decidir se continuará como fornecedor frágil e consumidor dependente ou se usará este momento para redefinir seu lugar no mundo — dominando cadeias produtivas, investindo em tecnologia própria e negociando de forma soberana.
O mundo mudou, mas no Brasil os erros se repetem. A diferença é que, desta vez, não temos o luxo de desperdiçar mais décadas.
O momento exige:
– Unidade interna acima de divisões ideológicas;
– Planejamento de Estado que sobreviva a governos;
– Capacidade de negociação internacional baseada em força produtiva e tecnológica.
O Brasil pode escolher ser o rato que ruge sem efeito ou a fênix que renasce das cinzas com propósito.
A história já cobrou caro no passado. A conta de 2025 ainda está sendo escrita — e o saldo dependerá do que fizermos agora.
Entre 1988 e 1991, empresas de tecnologia, como a Apple e, em especial, a indústria farmacêutica, estiveram nos bastidores da retaliação ao Brasil. Desta vez, como já mostrou a Agência Pública, as cordas estão sendo puxadas pelas big techs.
https://istoedinheiro.com.br/brasil-foi-taxado-pelos-eua-em-100-ha-40-anos-entenda
Análise da metáfora literária aplicada à crise Brasil–EUA, mostrando como provocações simbólicas sem estratégia podem gerar efeitos econômicos reais e danosos.
Um chamado à união nacional e à reconstrução produtiva e geopolítica, usando a crise como ponto de virada para o fortalecimento da soberania.
Assim como Getúlio Vargas soube, nos anos 1940, transformar as ambiguidades da Segunda Guerra Mundial em impulso para a industrialização e a modernização do Brasil, também podemos hoje transformar esta crise comercial em um catalisador de uma nova estratégia de Nação — mais altiva, inovadora, autônoma e integrada.
Leia mais em: Lições de um diplomata: Osvaldo Aranha e o Brasil que pensava grande
O Brasil opera como celeiro do mundo — e não como cérebro. Exporta riqueza bruta e importa valor. Por isso, basta uma canetada em Washington para abalar toda a nossa balança comercial.
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Sem planejamento de Estado, o Brasil segue frágil às pressões externas e aos improvisos internos.
Leia mais em: Por que as Nações Fracassam
(Tradução: O presidente do Brasil é incoerente no exterior e impopular em casa)
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