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Começam depoimentos na Comissão da Verdade

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“Eu fui levado para as dependências laterais do 28º Batalhão de Caçadores aqui em Aracaju e estupidamente torturado. Tenho marcas no pulso, pois fui algemado, tomei choques elétricos, pontapés nas costelas, enfim, foi uma barbaridade inconfessável. Após 50 dias preso e depois de passar uma semana sendo torturado, perdi a visão imediatamente quando sai de lá”. Esse é um trecho do depoimento do ex—preso político na Operação Cajueiro, Milton Coelho, ouvido hoje, 26, pela Comissão Estadual da Verdade, no Museu da Gente Sergipana.

Preso no dia 20 de fevereiro de 1976, Milton Coelho diz que é importante da ciência a todos os acontecimentos, pois, nem sempre são tratados com o devido cuidado.  “É necessário que a história seja conhecida. É preciso que sejam debatidos os fatos passados, que não puderam ser expostos e comentados, para que se crie condições democráticas e que, assim, não haja reversão no clima de democracia que estamos vivenciando hoje. É sabendo da história que se educa politicamente a população”, destacou.

Os seis integrantes da Comissão ouvirão ainda, durante esta primeira fase, cerca de 20 pessoas. As sessões públicas são, contudo, apenas uma das estratégias de coleta de material. Haverá ainda, se necessário, novas oitivas e o recolhimento de depoimentos daqueles que desejam depor de maneira privada ou por escrito, além do acesso aos arquivos públicos, para que assim seja construído um relatório final, como explica Antônio Bittencourt, coordenador dos Direitos Humanos da Secretaria de Estado da Mulher, Inclusão, Assistência Social, do Trabalho e dos Direitos Humanos (Seidh), responsável por estabelecer a interlocução entre o Governo de Sergipe e os membros da Comissão.

Bittencourt, coordenador dos Direitos Humanos da Secretaria de Estado da Mulher, Inclusão, Assistência Social, do Trabalho e dos Direitos Humanos (Seidh)

“Essas ouvidas caminham simultaneamente a todo processo de levantamento de documentos, ou seja, toda a pesquisa documental. Ao tempo que as audiências estão acontecendo, nós já temos informações de arquivos, como por exemplo, o Arquivo Público do Estado de Sergipe, onde temos algo próximo a 750 fichas do antigo DOPS de pessoas de Sergipe ou de fora do Estado que passaram por aqui e eram fichadas pelos Órgãos de Repressão da Ditadura Militar”, detalhou. Ainda de acordo com ele, o papel da Comissão é “sobretudo um papel educativo e didático, já que são eles que farão com que a sociedade enxergue tais acontecimentos para que jamais sejam repetidos. São tempos que nós precisamos conhecer para que não mais aconteçam”, pontuou.

As audiências públicas terão continuidade no decorrer da semana, quando serão ouvidos Bosco Rollemberg, na quinta-feira, 28, e Wellington Mangueira, na sexta-feira, 29. Para o presidente da comissão, Josué Modesto dos Passos Subrinho, a expectativa é que com o acervo de depoimentos que serão colhidos, se forme um panorama sobre a repressão política em Sergipe, especialmente nesse período da Operação Cajueiro. “A ideia é termos materiais para a reflexão histórica. Na realidade, há uma lacuna muito grande, já que a imprensa sergipana à época não noticiou a Operação, então é como se isso não tivesse existido, mas existiu e foi muito importante. E é isso que queremos preservar na memória para a reflexão das futuras gerações”, enfatizou.

Instituída pelo governador Jackson Barreto através do decreto nº 30.030, em 26 de junho de 2015, a Comissão Estadual da Verdade visa o levantamento de informações relativas ao período de 1947 a 1985, e tem caráter independente, com a cooperação das Secretarias de Estado da Mulher Inclusão, Assistência Social, do Trabalho e dos Direitos Humanos (Seidh), e da Casa Civil.

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