A aliança hiberna no fundo da garrafa Concepção original: Léo Mittaraquis. Finalização no Canva
Por Léo Mittaraquis (*)
“O fraco de todo metido a esperto, é confiar que os demais são estúpidos”
Adágio popular
Nesta semana, em meio à correria, por causa de alguns compromissos que reclamavam urgência, encontrei um tempinho para passar pela joalheria e pedir para ajustar minha aliança.
Enquanto aguardava o ourives devolver a aliança ao formato original [estava um pouco amassada], senti um chamado suave, quase imperceptível, vindo do fundo da memória.
Fui empurrado pelo túnel do tempo, de volta à bodega do Adeodato, que já não existe senão nas esquinas do pensamento.
Lembrei-me do dia em que Lucino, frequentador errático, tendo por costume arrastar uma asa pela Lilian dos Correios, deslizou sua aliança para dentro de uma garrafa de vinho quase vazia, como se o resto de bebida pudesse apagar testemunho de sua vida doméstica.
Dois pares de olhos perceberam a marota operação: os meus e os de Adeodato. Opto por descrever o comportamento do bodegueiro, bem mais estiloso e elegante do que o meu, diante da cena: atrás do balcão, observava em silêncio — não por concordar, mas porque sabia que certo tipo de conduta revela por si, a quebra do decoro, como garrafas esvaziadas com pressa demais.
Adeodato permaneceu imóvel, o pano de linho pousado sobre o ombro esquerdo, a expressão calma como a de quem já vira de tudo dentro de um copo de vinho. Os gestos alheios, a risada fora de hora, o excesso de confiança de quem pensa que o ambiente é cenário e não templo — tudo isso lhe passava diante dos olhos como uma sequência já conhecida. Apenas a sobrancelha, levemente arqueada, denunciava o juízo silencioso.
O bodegueiro entendia o poder do tempo: o instante revela o homem, como o decantar revela o vinho. Havia, em seu silêncio, uma lição antiga, aprendida com os que sabiam que certas correções não precisam de palavras, apenas de compostura. E talvez por isso sua presença, discreta e firme, bastasse para restabelecer a medida justa das coisas.
Enquanto eu, do outro lado do balcão, tentava disfarçar o embaraço com um sorriso mal ensaiado, percebi a estranha autoridade daquele silêncio. Ele não julgava — apenas colocava cada um no lugar que merecia.
O som do relógio na parede parecia sublinhar a passagem lenta do instante, e o ar carregava o perfume de carvalho e uva, como se o ambiente respirasse junto conosco.
Adeodato, num repente sem alarde, foi ajeitar uma garrafa na prateleira. Havia algo de ritual: devolvia à bodega, por sua parte, sua ordem costumeira. E, nesse gesto, compreendi o sentido do ofício: cuidar do vinho, sim, mas também do decoro, da sobriedade, do respeito… Deu-se uma pausa no tempo. Um aviso surdo sobre tudo aquilo que o excesso, a imprudência, em qualquer forma, tentam sempre dissipar.
Lucino percebeu nossos olhares — os meus e os de Adeodato — no exato instante em que a aliança tocou o fundo da garrafa. Por um breve momento, hesitou, como se o gesto lhe tivesse perdido o sentido diante daquela mudez observadora.
Não havia censura em nossos olhos, apenas uma desaprovação tranquila, quase compassiva, como quem enxerga o desatino alheio sem precisar erguer palavra. Ele sustentou o olhar por um segundo a mais, entre o desafio e a confissão, depois desviou, fingindo interessar-se pela conversa ao lado.
O silêncio, contudo, se adensou no ar como um vinho encorpado: não o acusava, mas o envolvia, fazendo-o sentir o peso leve — e, portanto, mais eficaz — daquilo que não se diz.
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