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Por Luiz Thadeu Nunes e Silva (*)

 

Aprendi com o tempo que a coisa mais importante da vida é o tempo da existência.

Por isso, fiz um pacto silencioso com ele; deixei de tratá-lo como inimigo ou divindade, e ele, em retribuição, deixou de medir meus dias com a régua da pressa. Tê-lo como um inimigo é perda de tempo. Como não posso vencê-lo, aliei-me. Já não o imploro nem o temo, apenas o escuto respirar no intervalo entre um pensamento e outro. O tempo, compreendi, não passa, ele habita: está nas frestas das horas, nas rugas que se abrem como margens de um rio antigo, nas pausas em que o instante se reconhece eterno.

Embora vivo de olho no calendário, procuro aproveitar melhor sua presença. Cada segundo, quando vivido por inteiro, contém uma eternidade invisível. Não busco alongar o dia, busco alargar a consciência dele. E assim, entre a serenidade e o espanto, caminho em direção ao desconhecido com a leveza de quem já se reconciliou com a finitude. Isso é sabedoria e me acalma. Coisas aprendidas no outono da vida, quando a testosterona arrefece.

Quando, enfim, o tempo e eu nos encontrarmos, não haverá ajuste de contas, apenas um aceno cúmplice, como dois viajantes que se reconhecem por terem partilhado o mesmo silêncio.

Tento viver o presente, embora tênue e fugidio. O presente é fugaz. É como água que pego com as mãos e escorre entre os dedos.

No amanhã, invisível e desconhecido, moram milhares de possibilidades, e eu não digo ‘nunca’ pra nenhuma delas. Eu escolho alguns caminhos, evito outros. Preferencialmente os mais leves e doces. Sou homem de fé. Nasci otimista. Eduquei o olhar para as belas coisas da vida. Mesmo diante das adversidades, que são inúmeras, mantenho a fé no DEUS vivo. Sempre creio que dias melhores virão. Tudo passa: o bom e o ruim. É premente ter equilíbrio para não ficar eufórico nos dias bons, e sorumbático nos dias ruins.

“Ao meu passado eu devo o meu saber e a minha ignorância”, cito Simone de Beauvoir. Acrescento, também, as minhas necessidades e minhas relações. A minha cultura e as mudanças do meu corpo, tudo devo ao tempo. Desfaço o meu passado hoje, deixando em mim a liberdade e o livre arbítrio para seguir em frente, na vã esperança de que não sou escravo dele.

Não sou projeto pronto, sou construção e aprendizado constante. No outono da vida continuo sedento de conhecimentos. Encanta-me o novo. Meu tempo é hoje.

Tudo muda a cada esquina.

“Só eu sei as esquinas por que passei… Sabe lá o que é não ter e ter que ter pra dar”, canta Djavan.

Hoje, com a serenidade e segurança que só a passagem do tempo me trouxe, digo: não cheguei até aqui para ser cópia simplificada e reduzida de mim mesmo. Chego aos 67 anos, completados hoje, 07 de dezembro, como minha melhor versão, atualizada e revisada.Quando alguém me pergunta quantos anos tenho, respondo: depende. Tem dias que acordo com 80 anos, em outros com 20. Sei, apenas, que habita em mim, uma criança, um garoto, um adulto e um velho, que aprenderam a conviver em harmonia e respeito na mesma jornada, cada um a seu tempo.

Como giramundo, ando pelo mundo, como forma de superar os cinco anos sem caminhar, e 43 cirurgias que tive que me submeter após o grave acidente que sofri em julho de 2003. Gosto do mundo, dos humanos que encontro por onde ando. Tenho olhos de “Poliana”, enxergando sempre o belo. Sou rico, muito rico: tenho saúde, tempo para aproveitar as boas coisas da vida, dinheiro para realizar desejos, amigos generosos e amáveis. Filhos sadios, Rodrigo e Frederico, partícipes e cúmplices. Um neto lindo, Heitor, que aos onze meses, está descobrindo o mundo, e me fascina acompanhar suas descobertas. Heitor é a renovação de minha genética. Enfim, tenho tesão pela vida, essa coisa mágica, bárbara, fascinante, surpreendente e misteriosa.

Coisa boa de se envelhecer é não precisar ser perfeito, não querer agradar a todos, não ser dono da razão. Precisa-se apenas aceitar as coisas como são.

“Quando não podemos mudar uma situação, somos desafiados a mudar a nós mesmos”. Viktor Frankl, neurologista austríaco.

Todos os dias, aprendi, mesmo com os altos e baixos, é obrigatório: refazer, recomeçar, reconstruir, ressignificar e seguir em frente.

A vida, esse enigma que se desdobra em silêncios e tumultos:

“O que ela quer de nós é coragem”, escreveu João Guimarães Rosa.

O tempo não envelhece a alma de um sonhador. Todos os dias, ele me manda desistir, mas como sou teimoso, desobedeço. Aos 67 anos, a vida não me cansa porque ainda tenho muita coisa boa para fazer, aprender e realizar.

Vamos em frente! Um brinde à vida.

 

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