Domingo em Desbaste

Quando a lei se torna sombra: reflexões para o Brasil e para a Maçonaria

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Por Jader Frederico Abrão (*)

 

Há momentos na história dos povos em que a própria linguagem parece perder o rumo. Termos como justiça, direitos e proteção social passam a ser reinterpretados segundo agendas que, muitas vezes, afastam-se do sentido original de equilíbrio, dever e responsabilidade. Nesse vácuo conceitual, instala-se uma perigosa miopia moral: a lei deixa de ser farol e passa a ser sombra — aplicada de forma desigual, hesitante e, por vezes, subordinada a interesses ideológicos. É nesse cenário que o sentimento de impunidade se alastra e a sociedade passa a desconfiar das instituições encarregadas de protegê-la.

Nos últimos anos, o Brasil tem testemunhado uma preocupante inversão de prioridades que desafia o próprio Estado de Direito. Enquanto organizações criminosas se fortalecem, ampliam territórios e impõem normas paralelas, parte das políticas públicas insiste em acenos conciliatórios que, embora válidos em determinados contextos, revelam-se insuficientes diante de facções estruturadas como verdadeiros exércitos do crime. A grande operação de outubro de 2025 no Rio de Janeiro — a mais letal da década — expôs essa encruzilhada: de um lado, um Estado que reage com força para retomar o controle; de outro, setores que enxergam na ação uma afronta, preferindo questionar a firmeza estatal em vez de enfrentar o inimigo real que sequestra vidas, comunidades e liberdades.

A ausência de uma estratégia clara e vigorosa por parte do governo federal agravou a percepção de que há hesitação no combate ao crime organizado. A ênfase de parte da esquerda em modelos exclusivamente sociais, acompanhada de críticas constantes às operações policiais, acabou interpretada por muitos brasileiros como permissividade. Não se trata de retórica partidária — trata-se de constatar que um Estado enfraquecido convida ao avanço de poderes paralelos. Quando a aplicação da lei passa a oscilar conforme conveniências políticas ou pressões militantes, abre-se a porta para um perigoso método: a exceção travestida de normalidade. É neste ponto que a desordem pública deixa de ser apenas um problema administrativo e se torna uma ameaça ao pacto civilizatório.

Para a Maçonaria — Ordem que desde suas origens defende a harmonia, a responsabilidade individual e o respeito incondicional às leis legítimas — este quadro impõe reflexão. A perda da autoridade moral do Estado não é apenas um risco institucional, mas um risco moral. Uma nação não se constrói com relativismos, mas com a firmeza dos princípios. A sociedade brasileira, conservadora em sua essência e profundamente patriótica, não pede violência indiscriminada; pede justiça verdadeira, aplicada com rigor, transparência e coragem. É apenas assim que se protege o cidadão honesto, que se restaura a confiança e que se evita a substituição da lei pela vontade arbitrária dos poderosos — sejam eles criminosos ou governantes.

O Brasil vive um ponto decisivo: ou reafirmamos o compromisso com um Estado de Direito forte, equânime e orgânico, ou continuaremos oscilando entre a hesitação e o espetáculo, enquanto o crime organizado avança nas brechas da omissão. A pergunta que fica aos líderes públicos, às instituições e à cidadania — e que ecoa também nos templos maçônicos — é simples e urgente: queremos um país governado pela lei, ou um país governado pela exceção? A resposta definirá não apenas o presente, mas o futuro moral de toda a Nação.

 

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Jader Abrão

Jader Frederico Abrão, advogado e contador, especialista em Direito Tributário e Direito Eleitoral. Membro da A.: R.: L.: S.: Vale do Tocantins nº 1338, Oriente de Uruaçu – Goiás

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