O perigo mais insidioso é quando o ator se esquece de que está em cena. A máscara-rótulo, adotada por medo, solidifica-se e torna-se um dogma. O ser humano, que é pura possibilidade, petrifica-se na estátua mais exemplar possível daquela identidade. Torna-se o sumo sacerdote de seu próprio rótulo, disposto a erguer muros, a ferir e a se isolar para proteger a santidade de uma definição que ele mesmo escolheu para se aprisionar.
Como venho explorando em minha jornada, este baile é a antítese da liberdade. É a busca por um propósito externo quando o único trabalho verdadeiramente sagrado é a Divinitas Sinthesys, a forja do significado dentro da própria alma. É a recusa em escrever o próprio Codex Vitae, em ser o autor da própria narrativa, preferindo a conveniência de um personagem com falas prontas. É o medo de habitar a “Casa Inabitada” de si mesmo — esse parlamento de vozes e multiplicidades internas — , preferindo acampar no jardim seguro de uma identidade coletiva.
A libertação, eu suspeito, não reside na fantasia de viver sem uma máscara, mas em aprender a distinguir a máscara-rótulo da máscara-lente.
A máscara-rótulo é a que vestimos para os outros. Sua função é a classificação e a validação externa. Ela responde à pergunta: “O que eu sou para eles?”. Ela é uma prisão.
A máscara-lente, contudo, é a que usamos para nós mesmos. Sua função é a perspectiva e a conexão. Ela responde à pergunta: “Como posso ver o mundo — e a mim mesmo — de outra forma?”. É uma ferramenta transitória de empatia e compreensão. É vestir a lente do Herói, não para ser aplaudido, mas para compreender a natureza da coragem. É usar a lente do Eremita, não para se isolar do mundo, mas para escutar o que o silêncio tem a dizer. É olhar através dos olhos do outro, não para se tornar o outro, mas para alargar os limites do seu próprio universo.
O objetivo não é se perder, mas se expandir. O propósito não é a classificação, mas a conexão. É usar estas lentes para criar uma empatia verdadeira, livre da necessidade de se moldar, permitindo-nos conectar com os outros não apesar de nossas diferenças, mas através da compreensão delas.
E agora, se me permite uma confissão neste salão barulhento, a máscara que vesti para escrever este texto é a do filósofo. É uma lente poderosa, bem-acabada, e me serve bem para articular estas ideias.
Mas é apenas uma das muitas que guardo.
Retire-a, e o que você encontrará não é um sábio com todas as respostas. É apenas um homem. Uma arena onde estas mesmas batalhas são travadas, uma consciência que, assim como a sua, está apenas tentando aprender os passos desta dança estranha e magnífica. E, talvez, essa seja a única verdade que importa quando a música para.