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Por Luciano Correia (*)

 

Mais de cinco mil prefeitos se reúnem em Brasília para um convescote disfarçado de Marcha dos Prefeitos. É uma churrascada com uísque dos melhores barris pagos com meu, seu e nosso dinheiro. Nos bastidores da imprensa na corte brasiliense se diz abertamente que nesses períodos o preço da carne alugada, o serviço oferecido pela mais antiga profissão do mundo, sofre uma disparada inflacionária. A jecada berra grosso: em reunião com Lula, ainda lascaram uma estrepitosa vaia no presidente da República.

Longe o tempo em que se respeitava autoridades. Sou de uma época em que a gente se levantava quando o professor entrava na sala de aula. O presidente da nação, fosse quem fosse, seria sempre “O Presidente”. Mesmo opositores profissionais instalados em Brasília ou nos estados, se dirigiam à autoridade máxima do país com algum respeito. Agora, até os comedores de putas ousam desancá-lo em rede nacional, on line.

De todo modo, essa conta é troco, perto da farra das emendas resultada da transformação do regime político do país em parlamentarismo orçamentário, essa excrescência aprovada por um Congresso de costas para o povo. O pior é que os recursos não saem de governo nenhum, senão do nosso bolso, afinal, pagamos a maior carga tributária do mundo, para sustentar o campeão mundial da corrupção.

Nisso de pagar impostos também somos campeões, mas só nós, o povo. Num levantamento de 2023, do Banco Mundial, fomos disparadamente o país que mais trabalhou para pagar impostos, num total de 2.600 horas no ano. Isso é mais que o dobro do segundo colocado, a Bolívia, com 1.080 horas trabalhadas. No sentido contrário, as Maldivas são o país com menor carga tributária: nenhuma hora de trabalho realizada para pagar impostos. Os Emirados Árabes vêm a seguir, com 12 horas e a Suíça é o oitavo, com 63 horas. Dá para entender, afinal, nenhum desses países sustentam o Congresso mais caro do mundo ou o Judiciário mais caro do planeta.

Após as vaias ao presidente, um dos jornalões do mercado avisou: “Acende o alerta do governo”, num misto de torcida e euforia, como bem sabemos quando tentamos olhar os jornais por dentro de suas vestes. São pequenos adendos ao cortejo de desgraças que, de fato, existem, somadas às que poderiam ser evitadas. No primeiro caso, a explosão da roubalheira do INSS, concebido, administrado e captado no governo Bolsonaro, um sujeito em cuja biografia a pecha de ladrão funciona como uma gota no oceano.

Janja da Silva Foto: Claudio Kbene/PR

O problema é que o atual governo já manda no INSS há dois anos e meio, portanto só agora, após denúncias, resolveu tomar providências, sendo que a primeira delas foi a mobilização de sua milícia digital para apontar o dedo para Bolsonaro. Para piorar o que já não vem bem, a primeira dama, em viagem à China, se mete numa conversa entre dois chefes de estado, um deles o gestor da maior economia do mundo, para reclamar do Tiktok.

Numa hora em que o silêncio valia ouro, o presidente defendeu-a publicamente, aconselhado sabe-se lá por qual tipo de marketing político. Em vez de tratar da estabilidade do próprio lar em praça pública, Lula deveria era explicar como alguém sem cargo no governo o acompanha numa caravana oficial em viagem de trabalho. Querem mais desgraça? Pois a primeira dama confirmou tudo o que foi noticiado, disse que faria de novo, ironizou, gargalhou e botou o velho fantasma da misoginia no bolo. Essas são as opções que teremos em 2026. Nessas horas sempre lembro da canção de Chico Buarque, Acorda Amor, na qual o personagem, com medo da visita da polícia na porta de casa em plena madrugada, recorre à única alternativa que restava naquela agonia: “Chame o ladrão, chame o ladrão”, cantava o grande Chico.

 

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Luciano Correia

Jornalista e professor da Universidade Federal de Sergipe

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