Que o fim do ano nos ajude a distinguir o que apenas reluz daquilo que, em silêncio, realmente sustenta Imagem gerada por IA
Por Hernan Centurion (*)
O final do ano geralmente nos conduz, como de costume, a um movimento de retorno à nossa consciência. Oportunidade ímpar de elaborarmos algumas perguntas que evitamos durante a pressa cotidiana, rememorarmos o que fomos, nos tornamos e o que ainda insistimos em adiar dentro de nós. Esta época tão aguardada não deve ser apenas o encerramento de um calendário festivo. Ou seja, é mais um convite íntimo à revisão do que realmente fez, faz ou fará sentido, à tentativa honesta de compreender se nossas escolhas passadas caminharam e futuras caminharão na mesma direção dos valores que dizemos professar.
Neste período natalino, as virtudes como amor, humildade, caridade, fraternidade e solidariedade reaparecem enfaticamente no discurso coletivo, sendo repetidas à exaustão, uma vez que o Natal, com sua simbologia incontornável, reapresenta ao mundo um Deus que escolhe a simplicidade, que nasce fora dos centros de poder, que se manifesta no silêncio e não no espetáculo. Cristo não promete atalhos nem prosperidade imediata, não negocia facilidades, apenas propõe um caminho, longo, exigente e profundamente humano.
Ainda assim, é nesse mesmo período que se intensifica uma inquietação típica do nosso tempo. A busca quase ansiosa por produtos muitas vezes desnecessários, por soluções rápidas e fortuna fácil, isto é, por uma forma de prosperar que dispense o tempo, o esforço e o merecimento. Quem nunca apostou na Mega-Sena da Virada que atire a primeira pedra. Vivemos, pois, em uma cultura que valoriza o resultado, entretanto despreza a jornada, que celebra o êxito, porém evita o compromisso e fidelidade. O desejo de prosperidade, legítimo em sua mais pura essência, muitas vezes se desloca sorrateiramente do labor ético e da construção árdua, transformando-se em expectativa de salvação miraculosa, entregue à sorte, sem a devida e cuidadosa lapidação e preparação interior.
Essa inversão silenciosa de valores não se revela do acaso, posto que é alimentada por uma cultura impregnada em uma sociedade repleta de desigualdades profundas, onde poucos acumulam muito e muitos mal sobrevivem com quase nada. Nesse cenário, a promessa de ascensão rápida e a qualquer custo se torna sedutora, quase uma esperança laica, uma espécie de fé deslocada e às avessas, que aposta muito mais no improvável do que na labuta incessante e contínua do cotidiano. Percebe-se, pois, que o problema não está no desejo de melhorar de vida, mas na ilusão de que o mero acaso possa substituir o compromisso, ou de que o brilho do imediatismo possa compensar a ausência de sentido em existir.
No Caminho de Santiago de Compostela aprende-se rápido que o excesso que carregamos pesa, que cada objeto desnecessário se transforma em obstáculo após alguns parcos quilômetros, que o supérfluo cansa e o essencial sustenta. Essa lógica simples atravessa toda experiência humana, embora insistamos em ignorá-la. Cristo ensinou o mesmo sem discursos elaborados, tão somente pelo exemplo de sua própria vida humilde, na qual não acumulou, não competiu e não prometeu facilidades. Caminhou, serviu e silenciou, revelando uma riqueza que não se mede, não se contabiliza, não se sorteia, nem se compra.
Talvez o grande desafio do nosso tempo não seja escolher entre o espiritual e o material, todavia reconciliá-los de forma justa e coerente. Reconhecer que o sustento é necessário, mas que ele não pode ocupar o lugar do verdadeiro propósito da vida. Que prosperar é justo e legítimo, desde que não se venda a alma no processo. Os Festejos de Fim de Ano nos oferecem essa pausa rara, quase sagrada, um convite à coerência serena, sem acusações nem confrontos, apenas um chamado suave para alinhar desejo e propósito, discurso e prática, expectativa e caminho.
No fim, o essencial sempre permanece discreto e silencioso, visto que não se anuncia, não chama atenção e não brilha com holofotes, não obstante sustenta firmemente ano após ano, quando, então, somos convidados a ressignificar nossas crenças e alinhar nosso rumo. É indiscutível que a prosperidade, quando nasce de um brioso trabalho, árduo e merecido, deve ser instrumento de construção responsável e partilhada, edificando pontes entre as pessoas e nações. Contudo, o risco aflora quando o desejo perde o propósito, quando o ter se sobrepõe ao ser e a conquista passa a exigir qualquer meio e preço. Jesus Cristo advertiu com clareza desconcertante, “de que vale ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder a sua alma” (Mateus 16:26). Talvez seja esse o verdadeiro desbaste, ordenar os desejos e ponderar as ações para que a riqueza, fruto do trabalho, jamais seja senhor dos homens, mas sim um relevante instrumento para a construção de um mundo melhor.
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