Prof. Dr. Francisco José Alves Fotos: Acervo pessoal
Prof. Dr. Claudefranklin Monteiro Santos (*)
Eu não tive o privilégio de ter sido seu aluno, como muitos o foram. Quando eu cheguei à Universidade Federal de Sergipe, em 1992, para cursar Licenciatura em História, ele estava afastado para concluir o seu Mestrado em Antropologia pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da UNB.
Embora o conhecesse de nome e de fama de exímio professor e pesquisador, meu primeiro contato com ele só se deu no dia 27 de abril de 2007, na Faculdade José Augusto Vieira, quando o professor Samuel Barros de Medeiros Albuquerque, então professor da disciplina História de Sergipe, o convidou para proferir uma palestra intitulada “Fontes para História de Sergipe Colonial”. À época, fiz as honras de coordenador do curso de Licenciatura em História daquela instituição, que funcionava em Lagarto.
Depois disso, nos reencontramos, enfim, na Universidade Federal de Sergipe e no Departamento de História (DHI), em março de 2009. Não mais como aluno, mas como professor na disciplina História, Cultura e Ensino de História. Meu começo com ele, nessa nova realidade de vida e profissional, teve tudo para ser o pior possível, não fosse a primeira qualidade que passei a admirar nele: a honestidade a todo custo.
Digo isso, porque eu havia feito concurso para o Campus de Laranjeiras, no qual fui aprovado em terceiro lugar, atrás dos meus atuais colegas do Departamento de História, Janaína Mello e Samuel Albuquerque. Ambos foram chamados para aquele campus e eu fiquei na expectativa de vir a ser convocado para qualquer instituição de nível superior do país, dada a validade de dois anos do concurso público.
Eis que, por aquela época, havia um outro concurso em andamento no Departamento de História, e a única candidata resolveu assumir uma vaga na Universidade Federal da Bahia. Diante do ocorrido, alguns professores do DHI, a exemplo de Luís Eduardo Pina e Antonio Lindvaldo Souza, entendiam que se deveria aproveitar a vaga do meu concurso. A questão foi levada à reunião do conselho e aprovada, salvo pelo voto do professor Francisco, que preferiu se abster.
Em minha primeira semana na UFS, ele fez questão de ir à minha sala e me dizer algo nesses termos, com seu jeito todo peculiar de se expressar, lembrando aqueles intelectuais da literatura e do cinema: “Caro colega, seja bem-vindo! Antes que o envenenem contra mim, devo lhe dizer que o meu voto de abstenção foi de longe de ordem pessoal contra você”. Esclarecendo, em seguida, os reais motivos.
Naquele primeiro semestre de 2009, no dia 20 de junho, o convidei para acompanhar a minha primeira turma de História e Patrimônio Cultural em uma visita técnica à cidade histórica de Laranjeiras. Na oportunidade, ele nos brindou com uma palestra sobre a igreja de Comandaroba, a qual gravei em vídeo — um depoimento dele a respeito do local.
Nunca fui íntimo ou amigo de Francisco; seria hipócrita dizer isso. De alguma forma, eu o temia, pois ele era uma pessoa difícil, e o era porque foi muito altivo em suas posturas pedagógicas, no âmbito da política departamental (que me incomoda até hoje) e também ideológicas. Mas, consegui conviver com ele com muita tranquilidade e adquirir dele respeito e fidalguia, como demonstram algumas situações que faço questão de registrar a seguir.
A primeira delas foi um mimo, na verdade um gesto simples, mas, ao mesmo tempo, grandioso: levar à minha sala uma réplica em miniatura, feita de barro, da Igreja de Comandaroba, em Laranjeiras.
A primeira delas foi um mimo, na verdade um gesto simples, mas, ao mesmo tempo, grandioso: levar à minha sala uma réplica em miniatura, feita de barro, da Igreja de Comandaroba, em Laranjeiras. Na oportunidade, disse-me: “Caro colega, eis que lhe passo o bastão, como meu apreço por seu trabalho e dedicação professoral ao Patrimônio Cultural Sergipano”. Detalhe: aquele objeto havia sido um presente que alunos lhe dera. Cheguei a fazer um registro fotográfico daquele momento, mas, como se diz no popular “procurei a morrer” e não encontrei. Na ausência deste, segue outro mimo que conservo com carinho em meu acervo pessoal, na minha biblioteca em Lagarto.
Mais tarde, em outra oportunidade, ele se encontrou comigo no corredor do DHI e me disse: “Quero que saiba algo e não se envaideça ou fique se achando com isso – quando me reúno com alguns de meus alunos para tecer críticas aos nossos colegas, você é o único que escapa”. Em seguida, deu uma gostosa gargalhada e voltando a ficar sério, reiterou: “Olhe, meu rapaz, estou falando a verdade, até porque não tenho razões para encher a sua bola”.
Por fim, quando da publicação de minha tese de doutorado em História, pela UFPE, em 2016. Mais uma vez, foi à minha sala e me disse: “Li o seu livro”. Confesso que tremi nas bases na ocasião. Pensei comigo: “Vai me descascar todinho” (risos). Para minha surpresa, disse-me na sequência: “Sabedor que você é católico praticante, ao passo que lia eu procurava encontrar um crente ou até mesmo um devoto de São Benedito, mas só encontrei um historiador”. Respirei aliviado e sorri. Mas, não se dando por satisfeito e sendo o velho Francisco, crítico de sempre, saltou-me com esta: “Por outro lado, não encontrei a Festa de São Benedito, pois você focou mais nos padres, perdendo uma boa oportunidade de explorar melhor a religiosidade popular”.
Afora tudo isso, mais duas coisas importantes e marcantes. Nas reuniões do DHI, tensas como sempre, fazia questão de sentar-se ao meu lado, ensaiando comigo as conhecidas falas polêmicas que ele levava para o conselho, para insatisfação de muitos e delírios de alguns poucos, dado o legalismo com que discutia as nossas demandas departamentais, mas também as de ensino e pesquisa, esta última sempre alvo de suas preocupações e ponderações. Lamentava-se, vez ou outra, do encerramento das atividades do Programa de Documentação e Pesquisa Histórica (PDPH) e da extinção da nossa Revista de História.
Por fim, a atenção, os conselhos e o cuidado que teve comigo durante minha curta passagem como chefe do Departamento de História. Ele me ligava quase diariamente para saber se eu estava bem e se estava firme no propósito de ser timoneiro do DHI. Quando renunciei à chefia, mergulhado num quadro de ansiedade que até hoje trato, ele me disse, recordando seu xará São Francisco: “Se não lhe dá paz, não é de Deus”.
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