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Por Juliano César Faria Souto (*)
A nova disputa global vai muito além da economia. Trata-se de uma competição por hegemonia em diversas frentes:
Tecnologia: chips, IA, 5G; Energia: fontes e rotas seguras; Moeda: tentativa de desdolarização por parte da China; Narrativas: valores democráticos X soberania nacional, pluralidade cultural X padronização ocidental.
Os EUA tentam conter o crescimento chinês de forma indireta:
Na Ucrânia: mantêm a Rússia ocupada, esgotando seu poder e impedindo alinhação estratégica plena com Pequim.
No Oriente Médio: Israel x Irã serve para desestabilizar um dos principais fornecedores energéticos alternativos à China.
Se o Brasil permanecer inerte, as consequências são claras: instabilidade alimentar e energética afetará nossa segurança e nossa economia; perda de protagonismo comercial e diplomático nos grandes acordos multilaterais; dependência externa em temas como cibersegurança, regulação de IA, e cadeias de suprimento.
O Brasil corre o risco de perder espaço nos mercados globais devido à sua forte dependência da exportação de commodities, especialmente para a China, enquanto enfrenta crescentes barreiras comerciais e ambientais impostas por Estados Unidos e União Europeia.
A relação com o Ocidente tem sido marcada por gestos diplomáticos protocolares, mas com resultados limitados. O Brasil segue sendo tratado como parceiro secundário, alvo frequente de exigências ambientais e medidas protecionistas.
Na prática, temos desperdiçado oportunidades concretas de inserção internacional. Um exemplo emblemático é o Acordo de Associação entre Mercosul e União Europeia, em negociação há mais de duas décadas e ainda não ratificado, reflexo da falta de articulação política e de alinhamento estratégico. Enquanto isso, países como Chile, Vietnã e México avançam em tratados bilaterais que ampliam o acesso a mercados e garantem segurança regulatória às suas cadeias produtivas.
Outro caso ilustrativo é a neutralidade mal compreendida do Brasil diante da guerra na Ucrânia: sem aplicar sanções, sem propor mediações e sem apresentar iniciativas concretas, o país viu seu espaço diplomático ser ocupado por nações como Turquia e Índia, que, mesmo fora dos polos hegemônicos, atuaram como interlocutores relevantes.
Mesmo em temas que o Brasil detém vantagens comparativas — como biodiversidade, matriz energética limpa e potencial agrícola — o país ainda não conseguiu transformar seus atributos em liderança geopolítica. Fóruns sobre clima, transição energética e desenvolvimento sustentável têm sido oportunidades perdidas para exercer protagonismo.
Em contrapartida, a China tem adotado uma estratégia consistente e pragmática. Mais do que negociar, tem se posicionado como parceira estratégica da América Latina, com foco em interesses mútuos de longo prazo: investe em infraestrutura, realiza compras de commodities com previsibilidade e firma parcerias tecnológicas e energéticas relevantes.
Essa falta de posicionamento estratégico expõe o Brasil ao risco de um duplo isolamento — tecnológico, energético e diplomático.
Assumir protagonismo no diálogo Sul-Sul e no BRICS ampliado.
Atuar como ponte entre Ocidente e Oriente, com autonomia e equilíbrio.
Explorar seu diferencial em estabilidade institucional, segurança alimentar, matriz energética limpa e capacidade diplomática ambiental.
O primeiro passo é reativar nossa diplomacia como instrumento de Estado:
Reprofissionalizar o Itamaraty, resgatando sua autonomia e capacidade técnica a serviço de um projeto de Estado e não de governo.
Propor iniciativas regionais realistas, voltadas à América do Sul e à cooperação Atlântica Sul.
Incentivar o debate estratégico nacional, projeto de Estado , sobre temas que hoje nos atingem: segurança cibernética, transição energética, política industrial e papel do Brasil no novo G20.
Os conflitos em curso, especialmente Israel X Irã, podem escalar a qualquer momento. Se o Brasil continuar calado, outros falarão e decidirão por nós. Mas se recuperarmos nossa altivez estratégica, podemos deixar de ser plateia e voltar a ser ponte.
Mais do que isso: podemos sonhar grande novamente. O Brasil tem potencial humano, territorial, energético e diplomático para se tornar uma terceira força global, liderando um bloco Sul-Sul mais integrado, soberano e pragmático.
Um bloco que não seja condicionado pelos conflitos e interesses externos, mas que construa alternativas para um desenvolvimento inclusivo e sustentável.
Esse é o desafio. Essa é a oportunidade. Essa pode ser a nossa missão.
Te convido, leitor, a refletir comigo: que nação queremos deixar para nossos netos?
Uma pátria subdesenvolvida, assistencialista e satélite opaco das potências — ou um Brasil protagonista do seu destino, inclusivo e empreendedor?
Leia o artigo 1 da série:
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