Entrevista

Allan Luz, presidente da Sociedade Sergipana de Oftalmologia: “Há número suficiente de oftalmologista para atender a população”

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Recentemente diversos órgãos públicos do Estado, município e da União desencadearam a Operação Ocularium, com o objetivo de combater o contrabando de óculos, armações e lentes que, se usadas pelos pacientes, colocam-nos em risco. Na oportunidade, 10 estabelecimentos foram fiscalizados. O presidente da Sociedade Sergipana de Oftalmologia, Allan Cezar da Luz Souza, alertou que a população deve ficar atenta a esse tipo de prática e denunciá-la às autoridades para que as providências sejam tomadas.

Ele ressalta que “a Sociedade Sergipana de Oftalmologia (SSO) está alinhada com o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) para discriminar estabelecimentos que adotem tais práticas que prejudicam a saúde ocular da população; ao tempo em que buscamos as providências cabíveis institucional e legalmente, recorrendo aos órgãos competentes.”

O censo do CBO, realizado em 2021, mostrou que naquela época, Sergipe contava com 269 oftalmologistas, um número suficiente para atender a população. Allan Luz observa que “a comunidade sergipana conta com especialistas renomados e preparados para zelar pela sua saúde ocular”. Ele observa que estes médicos podem indicar aos pacientes em que lojas podem providenciar os óculos prescritos, “sem, entretanto, ter ganhos financeiros sobre isso.”

O presidente da SSO frisa que as pessoas devem procurar um oftalmologista regularmente. “É justamente sobre prevenção da cegueira. O comprometimento visual – cegueira – pode ser de natureza reversível ou irreversível. A necessidade de consultas com o médico é sobre a percepção e o diagnóstico precoce, o que pode salvar sua visão, consequentemente sua vida”, disse.

Neste mês de maio, a SSO, juntamente com o CBO, trabalha para evitar o glaucoma. O Dia Nacional de Combate ao Glaucoma, 26 de maio,  foi instituído pela Lei nº 10.456/2002. A data tem o objetivo de chamar a atenção para a importância do acompanhamento oftalmológico adequado como forma de prevenir e tratar essa doença que é considerada a maior causa de cegueira irreversível no mundo.

Segundo estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS), a doença afeta entre 1% e 2% da população com mais de 40 anos de idade em todo o mundo, o que representa cerca de 3 milhões de pessoas.

“Muitas vezes, é na consulta com o médico oftalmologista que ele acaba descobrindo que tem hipertensão ou até mesmo diabetes através do exame do fundo do olho”, diz o presidente da SSO, cujo sobrenome – Luz – caiu como uma luva para a profissão.

Esta semana, Allan Luz conversou com o Só Sergipe. Confira.

 

SÓ SERGIPE – Em meados de abril, diversas instituições públicas desencadearam a Operação Ocularium, pois havia suspeita de que estavam sendo comercializados óculos, armações e lentes oriundas de contrabando. Foram fiscalizados 10 estabelecimentos. O número de lojas fiscalizadas foi significativo?

ALLAN LUZ: É um número interessante. A Sociedade Sergipana de Oftalmologia (SSO) está alinhada com o CBO (Conselho Brasileiro de Oftalmologia) para discriminar estabelecimentos que adotem tais práticas que prejudicam a saúde ocular da população; ao tempo em que buscamos as providências cabíveis institucional e legalmente, recorrendo aos órgãos competentes.

Além disso, a SSO tem solicitado a seus associados e profissionais da oftalmologia em geral ou até mesmo cidadãos que indiquem esse tipo de prática, de modo a ter subsídios para acionar os órgãos competentes e fiscalizadores, a exemplo do Ministério Público, órgãos municipais e estaduais, para que tudo seja feito de forma transparente e legal. Qualquer cidadão, também, notando irregularidades, pode acionar os órgãos públicos, o Ministério Público, a Delegacia de Polícia, que tem no seu escopo essa atuação de investigação legal.

SÓ SERGIPE – Que prejuízos poderá ter a visão de uma pessoa que utilizar esses materiais de procedência suspeita?

ALLAN LUZ: Perda de qualidade e acuidade visual, associado a dores de cabeça (cefaleia), tonturas e até causar quedas da própria altura, o que no idoso, pode causar outras lesões.

SÓ SERGIPE – Excetuando a Operação Ocularuim, que foi algo pontual, de quem é a responsabilidade para fiscalizar as óticas?

ALLAN LUZ: O município tem seus órgãos fiscalizadores de estabelecimentos comerciais e as regras para o correto funcionamento, tanto que o alvará de funcionamento tem validade e é revisto. A SSO pode e está mais atenta e mantendo diálogo sobre a necessidade de atenção a esses requisitos, tanto que já temos agendado reuniões com essa pauta, tanto com a diretoria local, quanto com a CBO e com a municipalidade. Qualquer cidadão, também, notando irregularidades pode acionar os órgãos públicos, o Ministério Público, a Delegacia de Polícia, que tem no seu escopo essa atuação de investigação legal.

SÓ SERGIPE – Não é difícil encontrar nas ruas de Aracaju, pequenas lojas e pessoas que consertam armações de óculos, também pegando um receituário e confeccionando os óculos para o cliente. Qual critério o paciente deve ter na hora de escolher o local para fazer os óculos prescritos pelo médico?

ALLAN LUZ: O paciente deve procurar estabelecimentos que sejam de sua confiança, que trabalhem com materiais que possam te dar garantia na fabricação e no direito de troca e que sejam recomendados pelo seu médico. Estabelecimentos que não façam troca daquilo que foi prescrito pelo seu oftalmologista.

SÓ SERGIPE – O médico oftalmologista pode sugerir determinada ótica ou mesmo ter uma ótica ou isso fere a ética da categoria?

ALLAN LUZ: O médico pode sugerir estabelecimentos de sua confiança sem, entretanto, ter ganhos financeiros sobre isso.

SÓ SERGIPE – Estava lendo num site especializado que o olho pode ser acometido por 3.982 doenças. É um número expressivo, não é?

ALLAN LUZ: Dentro da oftalmologia como ciência médica, como especialidade médica, existem mais de dez subdivisões para poder abordar, diagnosticar e tratar adequadamente essas doenças. Não há mais espaço para aquele médico oftalmologista que “faz” tudo. O oftalmologista bem formado com título de especialista e formação em determinada área precisa de pelo menos 5 a 6 anos de estudo, isso após a faculdade de medicina.

SÓ SERGIPE – É importante que uma pessoa, logo ao nascer, passe pelo teste do olhinho e daí em diante, deve visitar o oftalmologista, pelo menos uma vez por ano.  Evita muitos problemas, não é?

ALLAN LUZ: É justamente sobre prevenção da cegueira. O comprometimento visual – cegueira – pode ser de natureza reversível ou irreversível. A necessidade de consultas com o médico é sobre a percepção e diagnóstico precoce, o que pode salvar sua visão, consequentemente sua vida.

SÓ SERGIPE – A entidade que o senhor preside acompanha os transplantes de córneas do Estado?

ALLAN LUZ: Sim. Particularmente sou também um médico transplantador. Hoje há uma fila de espera de 26 meses para um paciente receber uma doação. Há esforços da competente Central de Transplante do Estado, mas precisamos da conscientização da população em doar.

SÓ SERGIPE – O censo do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), de 2021, mostrou que Sergipe tinha, naquela ocasião, 269 oftalmos. Temos profissionais suficientes?

ALLAN LUZ – Temos profissionais tanto na capital quanto no interior. Sem dúvida que a concentração maior de oftalmologistas é na capital, mas nas grandes cidades do interior existe assistência. Em Sergipe também existe curso credenciado para formação de médicos oftalmologistas. A comunidade sergipana conta com especialistas renomados e preparados para zelar pela sua saúde ocular.

SÓ SERGIPE: O mês de maio é dedicado ao alerta sobre o glaucoma, uma doença silenciosa e uma das principais causas de cegueira. Cerca de 64 milhões de pessoas no mundo tem glaucoma, segundo a OMS. O que causa o problema?

 ALLAN LUZ: O glaucoma é causado por lesões no nervo óptico provocadas pelo aumento da pressão intraocular, consequentemente o campo visual é afetado. Ele não tem sintomas, mas tem sinais. Quando eu vejo o paciente no consultório, um dos primeiros sinais de glaucoma pode ser a pressão intraocular elevada. Zelar pela pressão intraocular adequada evita a progressão da doença e, por consequência, a cegueira irreversível. Mas isso requer um diagnóstico, o que reforça mais uma vez a importância de procurar o oftalmologista regularmente, principalmente se a pessoa apresenta os fatores de risco.

SÓ SERGIPE: Como prevenir o glaucoma?

ALLAN LUZ:  A partir dos 40 anos de idade a consulta oftalmológica regular se torna ainda mais importante, não só para medir a pressão intraocular, mas também para medir o campo visual e realizar outros exames específicos.

Doenças sistêmicas como hipertensão arterial e diabetes também podem causar cegueira. Muitas vezes, é na consulta com o médico oftalmologista que ele acaba descobrindo que tem hipertensão ou até mesmo diabetes, através do exame do fundo do olho.

Às vezes ele já sabe que tem essas doenças e acaba indo ao médico para saber se elas já estão causando lesão, porque pode ser feito tratamento para remediar esse quadro. Por isso, a consulta anual ao oftalmologista é tão importante.

 

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Antonio Carlos Garcia

Editor do Portal Só Sergipe

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