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Vinho, cultura e simplicidade: nasce a Bodega Vinho no Copo

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Por Antônio Carlos Garcia (*)

 

Foi inaugurada em Aracaju, no dia 22 de julho, a Bodega Vinho no Copo, empreendimento do crítico literário, ensaísta e intelectual sergipano Léo Mittaraquis. Localizada na Rua Capitão Benedito Teófilo Otoni, no bairro 13 de Julho — próximo ao Mangará —, a bodega surge como um espaço alternativo, despojado e cultural, onde o vinho é servido de forma simples e acessível, e a conversa flui como boa música em vinil.
Leo Mittaraquis e sua imperatriz, Iara Mittaraquis, apoio absoluto

“É bodega, não é restaurante”, avisa Léo, logo de início, com o bom humor que o caracteriza. A distinção é fundamental para entender o espírito do lugar: a inspiração vem das bodegas populares das décadas de 1970 e 80 em Aracaju — espaços modestos, mas acolhedores, onde se bebia bem, conversava-se melhor ainda, e não havia formalidade ou pressão estética. Era o lugar onde as pessoas se reuniam para beber vinho no copo e trocar ideias, sem ritual, sem pose. Assim nasceu a Vinho no Copo, um projeto gestado por pelo menos três anos e que agora ganha vida com a cara e a alma do seu idealizador.

A proposta é clara: oferecer vinho de qualidade, em doses de 150 ml, servidas em copo — e não em taça — a preços que variam entre R$ 15 e R$ 45. A escolha do copo, além de remeter à informalidade das antigas bodegas, representa também uma quebra simbólica com os protocolos que muitas vezes afastam o público mais espontâneo do universo do vinho. “Queremos atingir o público que ama vinho, mas não quer se submeter a exigências de ritual, sofisticação, etiqueta. Aqui o vinho é para ser bebido, saboreado e compartilhado, sem cerimônia”, explica Léo.

O ambiente segue esse mesmo espírito:  tonéis que viram mesas, bancos simples, uma lousa com cardápio escrito a giz e um atendimento feito, na maior parte do tempo, pelo próprio dono. A simplicidade é o charme. “Faço a tábua, sirvo o vinho e bato um papo com o cliente. Eles gostam disso. É um lugar onde o cliente conversa com o bodegário e pode ouvir Piazzolla na vitrola enquanto fala sobre cinema, poesia ou política. Ou simplesmente fica em silêncio apreciando o vinho”, conta.

Entre vinhos, ideias e silêncios — o bodegário Léo recebe os clientes

A carta de vinhos é sazonal, montada a partir do que há disponível no mercado, o que permite também manter os preços acessíveis. O mesmo vale para as tábuas de frios e embutidos, que são montadas de acordo com a oferta de ingredientes do dia — queijos, frutas secas, presuntos curados, pães artesanais. Tudo fresco, escolhido com cuidado. A adega da casa comporta cerca de 50 garrafas, organizadas de forma visível ao cliente. “Se o cliente quiser ver o rótulo, puxamos a gaveta e mostramos. Sem mistério.”

Servir de forma honesta

Transparência e honestidade

Transparência e honestidade são pontos que Léo faz questão de destacar. O vinho é sempre servido diante do cliente, medido com um béquer técnico certificado pelo Inmetro, garantindo os 150 ml exatos — seja em copo americano, bacia ou outro modelo. “Tem cliente que olha e pergunta: ‘Tem mesmo 150?’ Aí a gente devolve o vinho para o béquer e mostra. A pessoa fica até sem graça. Nosso compromisso é servir de forma honesta.”

Outro diferencial da bodega é o atendimento sem pressão comercial. Não há sugestões insistentes nem tentativas de aumentar o consumo. “A gente entrega o pedido e diz: ‘Se precisar de mais alguma coisa, é só chamar.’ Pronto. O cliente fica à vontade. Nada de empurrar sobremesa ou água a cada cinco minutos.”

Além da experiência sensorial com os vinhos e petiscos, a Bodega Vinho no Copo quer se firmar como espaço cultural. A trilha sonora, em grande parte executada em vinil, inclui jazz, blues, música brasileira de qualidade e tango. Os clientes podem levar seus próprios LPs para ouvir no local. “Teve gente que se emocionou com isso. É o charme do chiado do vinil. E quem quiser trazer seus discos, pode levar quantos quiser. A vitrola está à disposição.”

O ambiente também vem sendo palco para apresentações musicais ao vivo, sempre com entrada gratuita. O couvert dos artistas é negociado diretamente com o público por meio de Pix — a casa não cobra nem intermedia os pagamentos. Já passaram por lá nomes como Sílvio Biju, Zé Canto e Isaac Borges, que está confirmado para os próximos quatro sábados. “Os músicos têm cobrado menos para tocar aqui, entendendo que é um projeto que está começando, mas com muito valor cultural”, ressalta o proprietário.

A recepção do público tem sido calorosa. Intelectuais, escritores, jornalistas e artistas já passaram por lá. No dia da inauguração, o escritor Mateus Machado, vindo de São Paulo, marcou presença e rapidamente enturmou-se com o público local. “Ele ficou tão à vontade que saiu com um grupo de clientes para jantar após o evento. E isso sem nenhuma formalidade. É isso que a gente quer: que as pessoas se sintam em casa.”

A casa acomoda até 14 pessoas sentadas
Léo Mittaraquis, com a filha Álida e com Mayara esposa do filho Alisson

Artes e trocas afetivas

Mesmo em seus primeiros dias, a bodega já vem se firmando como um espaço de convivência, arte e trocas afetivas, onde o vinho é apenas o ponto de partida. “A ideia é que seja um local para se falar de cultura, sim, mas de forma leve, sem elitismo, sem hierarquia. Um espaço aberto para quem gosta de pensar, de conversar e de estar junto.”

Léo também faz questão de deixar claro que o espaço é pequeno — e, por isso mesmo, íntimo. A casa comporta cerca de 12 a 14 pessoas sentadas, mas há estrutura para atender em pé do lado de fora, com o apoio de tonéis e pallets. “Tem dias mais calmos, com três ou quatro clientes, e outros em que a casa enche. E tudo bem dos dois jeitos.”

O investimento no projeto foi feito com recursos próprios e apoio familiar. Depois de um período introspectivo, Léo decidiu que era hora de realizar um sonho antigo: “Minha esposa, Iara, disse que era hora de fazer algo que fosse a minha cara. E aqui está: uma bodega simples, honesta, onde a conversa vale tanto quanto o vinho”.

 

 

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