Jornalista e radialista, Raymundo Luiz, morreu aos 95 anos
Por Luciano Correia (*)
Desde que retomei escrever semanalmente no portal Só Sergipe, tenho assuntos acumulados para tratar nas próximas colunas. Alguns até ficando um pouco desatualizados, face ao frenesi que tem movimentado o obituário nas últimas semanas. Crônicas mundanas, filmes vistos e corrupção de antes e de agora ganham, pois, uma refrescante trégua, porque calhou de nos últimos meses uma lista de pessoas raras e fundamentais se despedirem desse mundo cada dia mais sem graça.
Essa semana Sergipe perdeu Raymundo Luiz, uma espécie de Papa da comunicação local, onde fez tudo e o fez com talento, arte e ética. Raymundo se confunde com a própria história do rádio sergipano, onde fez escola, dirigiu profissionais e programas, lançou ideias e colheu o reconhecimento de ter feito do rádio um instrumento da educação, da cultura e da informação. Onde pôs a mão, trabalhou com seriedade e elegância, um gentleman que jamais vi levantar a voz ou perder a paciência.
Conheci Raymundo ainda rapazinho, quando publicava em Itabaiana, no colégio Murilo Braga, um jornal com tiragem de 1.200 exemplares. Foi como fundador, editor e dono do Cebolão que, juntamente com meu colega Blanar Roberto, também fundador, editor e dono, que viemos conhecer os estúdios da velha Rádio Jornal AM na Rua da Frente, ao lado do Diário de Aracaju, jornal dos Diários Associados de Assis Chateaubriand.
Eram cerca de 10 da manhã e eu encontrei Raymundo, diretor da rádio, sozinho na redação, à frente de uma máquina, redigindo para os noticiários e programas da emissora. Raymundo é de uma época em que o rádio usava um negócio chamado roteiro. Mesmo quando predominava o improviso, ele estava dentro de um roteiro pré-estabelecido. Nada era por acaso, nem havia esse rádio feito da vaidade e dos intere$$e$ econômicos de proprietários e apresentadores de programas.
Muitos anos depois de minha aventura no Cebolão, quando eu já havia trocado o curso de Engenharia na UFS para fazer Jornalismo na UFBa, voltei a encontrá-lo no comecinho da fundação da Rádio e Televisão Aperipê, a RTA reconfigurada pelo então governador João Alves, que fez da velha Difusora AM, estatal, uma rede educativa com TV e rádios AM e FM. Recém-chegado de volta a Sergipe, fui a Raymundo pedir emprego na TV. Ele disse que já tinha o quadro completo, que lá não precisava de gente, mas que a Secom do Estado, que ele dirigia, precisava de um jornalista com conhecimento político.
Indicou uma máquina de escrever e pediu um editorial sobre a formação da Aliança Democrática em Sergipe. Tratava-se da composição nacional envolvendo PDS e Frente Liberal (PFL) para pôr fim ao regime militar e eleger Tancredo Neves presidente. Em Sergipe, a aliança envolvia a dissidência do PDS de Augusto Franco, comandada por João, e o líder das oposições no estado, Jackson Barreto. Sentei na máquina e em uns 10 minutos puxei o papel e entreguei a Raymundo o editorial que seria o passaporte para meu primeiro emprego, no governo de Sergipe. Raymundo leu, gostou e disse: “Tá contratado, você vai trabalhar comigo junto à Secom e produzir esses textos políticos”. Eu, tão imaturo quanto burro, bati o pé: “Mas eu queria na TV, Raimundo”. E segui desempregado. Sim, no dia seguinte, entre aborrecido/envaidecido, vejo meu editorial publicado na página de opinião do principal jornal do estado, o Jornal de Sergipe de Nazário Pimentel: “A Aliança Democrática em Sergipe”.
Esse episódio jamais turvou minha admiração e respeito por Raymundo, uma das poucas pessoas a quem atribuo o adjetivo de fidalgo. Raymundo era um doce de pessoa, mesmo vivendo a vida inteira no ninho pantanoso da política, com gente traiçoeira, arapucas e falsidades. Foi um homem autêntico e que viveu a vida numa plenitude que podemos dizer: foi um homem rico.
Invejava o carinho imenso que devotava à sua esposa Lurdinha quando ela já idosa e doente exigia cuidados. Seguramente, além de todos os cuidados que recebia, sua amada mulher ganhava diariamente um bálsamo ungido de um amor raro, profundo, a melhor de todas as provas de amor que alguém poderia dar. E ele, embora já bem idoso, passeava pelas redes sociais com a alegria de um menino brincando, exibindo orgulhosamente em textos e fotos sua grande paixão por Lurdinha. Era comovente.
Raymundo Luiz da Silva foi o profissional impecável, competente e cheio de realizações que outros tantos colegas registraram essa semana. Como homem foi ainda maior, da relação com os amigos à devoção à família, como mostra a maneira como tratou a esposa, na juventude e na velhice, na saúde e na doença. Mas tem outro dado da vida pessoal de Raymundo que talvez explique o ser humano especial que foi: sua paixão pelos curiós. Criou dezenas, tudo conforme a legislação, fazendo do canto desses bichinhos uma das trilhas musicais de sua vida. Desportista, comentarista esportivo dos melhores, também bateu uma bola na juventude, vestindo a camisa, nos anos de 1950, da minha querida e sofrida Associação Olímpica de Itabaiana, o Tremendão da Serra, campeão sergipano por onze vezes. Voa, Raymundo, meu velho e querido amigo, na trilha de seus amigos/amados curiós.
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