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Por Manuel Luiz Figueiroa (*)

 

A minha verdade é uma hipótese no sentido cartesiano, isto é, já é aceita, pelo menos por mim, como verdadeira, sem dar margem à discussão. A questão proposta é o conhecimento das outras verdades: como um fato ocorreu, qual o pensamento preponderante sobre determinado assunto etc. Nas questões jurídicas, busca-se a verdade processual, simbolicamente representada por uma deusa da justiça de olhos vendados (indicando imparcialidade), com balança (simbolizando equidade) e espada (demonstrando força), sendo essa procura decisiva para os interesses das partes processuais.

Métodos de Busca da Verdade

A busca da verdade, ao longo da história, tem sido realizada por meio dos seguintes métodos: filosófico, científico, religioso e mitológico.

O método filosófico baseia-se na racionalidade, argumentação, lógica e crítica. Demanda o conhecimento sobre o ser, a verdade e a ética, sendo um método reflexivo, dialético e conceitual.

O método científico utiliza-se da observação, experimentação e comprovação. Procura explicar os fenômenos naturais e as leis do universo, utilizando hipótese, teste, análise e validação.

O método religioso apoia-se na fé, na revelação e na tradição do sagrado, buscando verdades em dogmas, textos sagrados, rituais e na autoridade espiritual. Fundamenta-se em livros como a Bíblia, o Alcorão, a Torá, e nas crenças sobre ressurreição, céu, inferno, entre outros.

O método mitológico fundamenta-se na narrativa simbólica, na tradição oral e nas alegorias. Trata de histórias com valor cultural, como a criação do mundo segundo os Tupis ou o mito de Prometeu, da mitologia grega, abordando temas como desobediência, sacrifício, progresso humano e punição divina.

Do Mito ao Logos

A transição do mito ao logos marca um momento histórico do pensamento ocidental, ocorrido na Grécia Antiga. Trata-se da passagem da explicação do mundo por meio de narrativas míticas para uma abordagem racional e argumentativa, que dá origem à filosofia.

O logos apresenta-se como razão e discurso racional, sustentado pelos filósofos pré-socráticos, no século VI a.C., que procuravam explicações lógicas, naturais e universais para os fenômenos. Dentre eles, destacam-se:

Tales de Mileto: tudo vem da água.

Anaximandro: o princípio de tudo é o ápeiron, concebido como o elemento primordial a partir do qual todos os seres foram gerados e para o qual retornam após sua dissolução.

Heráclito: tudo flui ou tudo muda (panta rhei); o fogo é o princípio.

Parmênides: “o ser é, o não-ser não é”, construindo um pensamento lógico puro.

A Verdade Maçônica

A Maçonaria pode ser definida como: “uma fraternidade iniciática, filosófica e filantrópica que busca o aperfeiçoamento moral, intelectual e espiritual do ser humano, utilizando-se de rituais simbólicos baseados na arte da construção.”

Outras definições:

“A Maçonaria é um sistema peculiar de moralidade, velado por alegorias e ilustrado por símbolos.” – Anderson (1723).

“A Maçonaria, em seu mais elevado sentido, é a busca pela verdade e pela perfeição do espírito humano.” – Albert Pike (1871).

“A Maçonaria é uma escola de mistérios, onde o homem aprende a construir o templo do seu próprio caráter.” – Manly P. Hall (1928).

“A Maçonaria é uma escola de virtude, onde cada um trabalha a pedra bruta de si mesmo para se aproximar da verdade.” – sem autor definido.

A “verdade maçônica” não é única, absoluta ou dogmática. Ela é compreendida como um ideal a ser buscado continuamente, um processo de aperfeiçoamento pessoal, moral, espiritual e intelectual.

Símbolos como Caminhos à Verdade

A Maçonaria utiliza símbolos, como o esquadro, o compasso, a pedra bruta, a pedra polida etc., para estimular a reflexão e apontar para verdades universais, como a justiça, a fraternidade, a liberdade, a tolerância e a igualdade. Esses símbolos não impõem verdades, mas provocam o encontro com elas.

Pluralidade Religiosa e Espiritual

A Maçonaria regular adota a crença em um “Ser Supremo”, chamado de Grande Arquiteto do Universo. Essa conexão permite que pessoas de diferentes crenças e tradições se unam em torno de valores comuns. Assim, a verdade religiosa, para os maçons, é pessoal e deve ser respeitada em sua diversidade.

Liberdade de Pensamento

A Maçonaria preza a liberdade de consciência e de expressão. Cada maçom tem o direito e o dever de formar suas próprias ideias sobre o mundo, a ética, a vida e a espiritualidade. A verdade, nesse sentido, é um diálogo interior e coletivo constante, não uma imposição externa.

A Verdade como Princípio Ético

Para os maçons, viver na verdade significa viver com honestidade, integridade e retidão de caráter. A mentira, a dissimulação e a hipocrisia são vistas como obstáculos ao aperfeiçoamento humano.

Resumindo, a Verdade Maçônica é:

Iniciática: descoberta gradualmente, por graus de sabedoria; um rito de passagem e renascimento para uma nova vida.

Simbólica: representada por imagens e rituais.

Ética: ligada à prática do bem.

Espiritual: sem ser dogmática.

Relacional: cada um possui sua parte da verdade.

Fraterna: entre irmãos, com afeto, lealdade e união.

Filosófica: voltada à reflexão profunda, ao conhecimento, à moral e à razão.

Filantrópica: atua com solidariedade e ações sociais, educacionais e humanitárias.

Simbólica: inspirada nos antigos maçons operativos, utiliza ferramentas como o esquadro e o compasso para ensinar que o ser humano deve “lapidar-se” rumo à perfeição.

Reflexões Finais

À luz dos dias atuais, o mundo está em guerra, com os querelantes defendendo cada qual a sua própria verdade. E, nessa busca, utilizam todos os métodos filosóficos disponíveis, acrescido do decisório, o mais usual, o poder das armas.

Já se disse que “a história é escrita pelos vencedores”. Como exemplos, citam-se: os colonizadores que se intitulavam como “civilizadores”; os aliados julgando os nazistas em Nuremberg; regimes autoritários controlando narrativas, incinerando documentos, censurando testemunhos e promovendo “verdades” convenientes.

Diante disso, a verdade mostra-se relativa: depende do ponto de vista do analista. Segundo Foucault, quem controla o discurso controla a verdade socialmente aceita, sendo isso uma prática comum na política partidária.

A verdade deve ser vista como um objetivo a ser alcançado, e não como posse. A Maçonaria não impõe uma verdade final. Ao contrário, incentiva seus membros a buscarem por meio do estudo, do autoconhecimento, da reflexão filosófica e do diálogo fraterno, admitindo a diversidade da verdade, pois cada um deve descobrir a sua própria.

Apesar dos fatos, é necessário estar alerta para investigar outras versões, valorizando a memória dos vencidos, dos marginalizados e dos silenciados. Nem toda “verdade oficial” é, de fato, a verdade verdadeira.

 

Bibliografia

ANDERSON, James. Constituições dos Franco-Maçons (1723). Ed. Maçônica.

PIKE, Albert. Moral e Dogma do Antigo e Aceito Rito Escocês (1871).

HALL, Manly P. The Secret Teachings of All Ages, 1928.

REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia. São Paulo: Paulos, 1990.

ELIADE, Mircea. O Sagrado e o Profano. São Paulo: Martins Fontes, 1992.

FOUCAULT, Michel. A Ordem do Discurso. São Paulo: Loyola, 1996.

DESCARTES, René. Discurso do Método. São Paulo: Nova Cultural, 1999.

CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2000.

RICOEUR, Paul. A Memória, a História, o Esquecimento. Campinas: UNICAMP, 2007.

 

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Manuel Luiz Figueiroa

Professor Manuel Luiz Figueiroa é aprendiz maçom da Loja Maçônica Clodomir Silva

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