Cotidiano

Positividade tóxica e a sociedade do cansaço

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Por Valtênio Paes (*)

 

O excesso de positividade ou positividade tóxica “é a prática de se forçar a ser positivo o tempo todo, reprimindo ou invalidando sentimentos negativos como tristeza, raiva ou frustração. Essa atitude pode ser prejudicial, pois nega a complexidade da experiência humana e a necessidade de processar emoções difíceis, impactando a saúde mental e emocional” conforme o site google.com. Da mesma fonte, pressão constante, invalidação de sentimentos, despreparo para adversidades, foco na negação, exaustão e estresse são sinais visíveis de novas doenças. No mundo atual, em especial, no ocidente, esse cenário resulta em agressividade e sofrimento pessoal ante a insatisfação pelo individualismo exacerbado por não atingir os anseios pessoais instantâneos. As redes sociais são o adubo perfeito para essa triste colheita humana.

Numa ótima análise, Byung-Chul Han em sua obra “Sociedade do Cansaço” editora Vozes, 3ª ed. -2025, com sabedoria, afirma nas pp. 51-52:

“A máquina não pode fazer pausas. Apesar de todo seu desempenho computacional. O computador é burro, na medida em que lhe falta a capacidade para hesitar. No empuxo da aceleração geral e da hiperatividade desprendemos também a ira”.

Vez por outra, a hesitação pode ser benéfica, à medida que permite vislumbrar mais de um cenário, e como tal fulmina o radicalismo irado abrindo caminho para a tolerância, respeito coletivo e produção de novos saberes. Setores da população na sociedade do cansaço desabam sem retorno, no individualismo, recepcionados na penumbra das redes sociais. Exacerbar positividade e rejeitar implacavelmente a hesitação bloqueia a criatividade levando à produção da Ira, tão maléfica à boa convivência social porque ninguém é feliz encastelado no âmago individualista. Os humanos são, por natureza, animais sociais.

A felicidade é uma busca constante pela harmonia do estado de espírito. Quando alguém se obriga a estar sempre “feliz” até em situações difíceis, busca invalidar o negativo e não encontra a felicidade. Assim, denuncia a fraqueza, rejeita o preparo para adversidades, nega tudo que não lhe convém e cai no estresse e/ou exaustão, cobrando-se até o esgotamento físico e mental. Ao aportar na sociedade do cansaço coisifica a felicidade e fere a verdadeira espiritualidade humana. Muitas pessoas, sem sucesso, tentam resolver o impasse separando o mundo terreno do espiritual, escondem-se na caridade, no “Deus lhe pague’ e aceleram na prática da ira, do individualismo, do imediatismo e do consumismo, aumentando a povoação da sociedade do cansaço.

A união do conservadorismo com o individualismo produz um discurso incoerente que pode enganar terceiros e falsear a verdade interior produzindo deslealdade contra outros e até consigo mesmo.  O exagero do individualista flerta com a ditadura e o insucesso ao distribuir ira contra tudo e todos, desde a família, outras instituições coletivas e amigos. Só aceita quem lhe aceita, arvora-se como dono da verdade, condena a tolerância, a diversidade, a harmonia social.  As tecnologias, se não usadas cautelarmente como ferramenta, podem provocar vícios irreversíveis.

Neste toar, cotidianamente, deparamos com pessoas cada vez mais agressivas que se dizem donas da verdade final. Escondidas nas redes sociais, atacam e divulgam sem qualquer critério respeitoso de convivência coletiva ou científico. Negacionistas, apresentam-se como atores induzindo inocentes a segui-los. Educação familiar, escolar e nas demais instituições sociais deve ser prioridade na formação da juventude enquanto futuro da humanidade.  Sem atitude educacional como respeito à diversidade, solidariedade, fraternidade, inclusão e harmonia social, a sociedade do cansaço aumentará seu fôlego impondo aos seus sujeitos, difícil retorno por estarem impregnados do vício do imediatismo, do poder, da ira e da insatisfação. Que se permita sentir todas as emoções, sejam elas boas ou ruins. É normal sentir tristeza, raiva ou frustração. Imprestável para boa convivência na sociedade são o ódio, e a ira como prioridade pessoal.

 

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Valtenio Paes de Oliveira

(*) Professor, advogado, especialista em educação, doutor em Ciências Jurídicas, autor de A LDBEN Comentada-Redes Editora, Derecho Educacional en el Mercosur- Editorial Dunken e Diálogos em 1970- J Andrade.

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