Os cardeais estarão reunidos na Capela Sistina para escolher o novo papa Imagem feita por IA
Prof. Dr. Claudefranklin Monteiro Santos (*)
“O Bispo de Roma está morto. Logo, outro será eleito para o seu lugar porque a Igreja permanece e está continuamente com Cristo. (…) O homem que for eleito será eleito para o futuro, mas está encarregado de tutelar o passado…” (Monsenhor Angel-Novalis).
Essa é uma fala de uma das personagens do livro “A Eminência”, do escritor Morris West. Se bem estou certo, ela ainda é válida para nosso tempo, em que pese a obra ter sido escrita entre os anos 1996-1998, quando, na vida real e neste espaço temporal de nossa história universal, governava o Vaticano o Papa João Paulo II. Embora, no ano de 1996, precisasse fazer uma cirurgia de apendicite, ainda não havia iniciado o seu calvário pessoal, às voltas com sérios problemas de saúde, que o levou a óbito no dia 2 de abril de 2005.
Para a escrita do presente texto, além da obra acima citada, valho-me também de antigas anotações que fiz da leitura do livro “As Sandálias do Pescador”, também de Morris West, publicado em janeiro de 1963. E mais recentemente, da leitura e impressões que fiz da obra “Conclave”, de autoria de Robert Harris, lançada em 2016, alcançando grande sucesso, sobretudo por ter roteiro adaptado, originalmente, para o cinema em 2024, do qual destaco a notável interpretação de Ralph Fiennes no papel principal da personagem Cardeal Lawrence Lomeli.
Mas antes de dizer-lhes o porquê de fazer uso da literatura (portanto, da ficção) para compreender e analisar a realidade que a Igreja Católica vive no tempo presente, de “sede vacante” e de todo o processo que envolve a escolha de um novo papa, permitam-me discorrer algumas palavras sobre Jorge Mario Bergoglio (1936-2025), o Papa Francisco, que encerrou sua jornada neste mundo no último dia 21 de abril, deixando órfã, ainda que momentaneamente, uma das maiores, mais antigas e mais sólidas instituições religiosas da história da humanidade.
Ainda lembro, em detalhes, do anúncio de sua eleição, no dia 13 de março de 2013. Confesso que quando vi aquele homem aproximar-se da sacada do Vaticano e dizer apenas uma saudação cordial às milhares de pessoas que haviam acorrido para a Praça de São Pedro, fiquei profundamente esperançoso. Não era alguém sisudo, com gestos protocolares, mas uma pessoa cordial, humana, e que pedia, humildemente, que rezasse por ele diante da responsabilidade que havia pesado sobre seus ombros.
O tempo apenas confirmou o que eu sentia, seja nas ações do então Papa Francisco, nome que muito me agradou, mas também em tudo que deixara escrito ou pronunciado, revelando-nos e apresentando-nos uma Igreja em saída, mais pastoral, peregrina e sinodal do que jamais fora desde São Pedro. Para tanto, colecionou desafetos, em particular, àqueles que não eram bons exemplos para os prelados da Santa Igreja, às voltas com escândalos sexuais e com corrupção moral e financeira. Também incomodou os que se julgam e se apresentam como “guardiões da fé e da ortodoxia”, que enxergam comunismo ou modernismo em gestos que Jesus fez, recorrentemente, em seus 30 anos de vida pública: ouvir, acolher, orar, sorrir, ter compaixão, compadecer, perdoar, curar e amar.
Por tais razões aqui expostas de forma sintética, é bem verdade, entendo que a passagem de Franciscus pela Igreja Católica foi muito saudável, durando apenas 12 anos, mas um tempo suficiente para chacoalhar a poeira de milênios, exaurir o mofo das batinas, coisas assentadas numa tradição que deixou seu rebanho à mercê de outros tipos de Cristianismo que, questionados ou nãos, cismados ou não, buscam preencher o vazio deixado pelo Catolicismo às voltas em ser mais norma do que amor, mas culto e louvor do que acolhimento, mais juíza do que advogada, como o é a Santa Virgem.
Passadas todas as homenagens fúnebres que recebeu e os nove dias de luto, a Igreja Católica se prepara para mais um Conclave, o terceiro deste novo milênio, em apenas vinte anos, nos quais testemunhamos a morte de três papas: São João Paulo II, Bento XVI e Francisco. Isto pode não dizer nada, dadas as circunstâncias que as envolveram: o peso da idade e o abatimento de corpos castigados pelo tempo e pela dureza da doença, mas ainda, em razão da renúncia do segundo, em 2013. Porém, tais fatos e circunstâncias dizem mais do que parecem e penso que a literatura da qual me vali aqui apontam, como já ocorrera com Júlio Verne, por exemplo, não somente sopra ventos “proféticos”, mas deixa mensagens que a Santa Igreja precisa estar atenta, em particular os Cardeais, nos próximos dias, mais de perto, a partir do próximo dia 7 de maio, quando se inicia o processo de discernimento (que desta forma seja) para a escolha do novo pontífice. Este que para além de governar uma instituição com mais de um bilhão de pessoas, tem pela frente um mundo dilacerado por guerras, mas também por relativismos perigosos, indiferentismos os mais cruéis e uma crescente falta de fé e de Deus nas mentes e corações das pessoas, que protagonizam, de tempos e tempos, com a maior brevidade possível, uma série de barbáries e desumanidades.
Assim posto, vejamos o que os livros aqui citados podem nos dizer sobre o passado, o presente e o futuro da Igreja Católica, que a exemplo do Papa Francisco, vem cambaleando, faltando ar, até, mas mantendo-se firme, perseverante, na esperança de seguir sendo peregrina, levando conforto para um mundo doente, carente de amor, paz e de dignidade. Como assim o quis Deus quando valeu-se da Criação da Terra, das coisas, dos animais e do ser humano, a quem amou e ama tanto a ponto de deixar render em sacrifício de cruz e sangue, seu filho unigênito, Jesus Cristo, que sob seu legado divino tem procurado se assentar a Igreja Católica, como continuadora das responsabilidades atribuídas e conferidas ao pescador, São Pedro.
Em conferência proferida por Roger Chartier, em 5 de novembro de 1999, no Salão Nobre do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, assim se expressou o historiador francês, atualmente com 79 anos:
A relação entre literatura e história pode ser entendida de duas maneiras. A primeira enfatiza o requisito de uma aproximação plenamente histórica dos textos. (…) Mas há uma segunda maneira talvez mais inesperada de considerar a relação entre literatura e história. Procede ao contrário, isto é, descobre em alguns textos literários uma representação aguda e original dos próprios mecanismos que regem a produção e transmissão do mistério estético. Semelhantes textos que fazem da escritura, do livro e da leitura o objeto mesmo da ficção, obrigam os historiadores a pensar de outra maneira as categorias mais fundamentais que caracterizam a “instituição literária”.
Com isto, quero dizer que a literatura faz mais bem à história do que o contrário. E, nesse sentido, pode ser um exponencial objeto, mas também uma preciosa fonte da pesquisa histórica. Ou ainda, capaz de lançar luzes sobre a realidade histórica e sobre o vir a ser. Tudo isso e mais um pouco pode-se depreender das leituras dos livros de Morris West e de Robert Harris no que diz respeito à Igreja Católica e à sucessão papal. Advirto que não são leituras “apropriadas” para quem não tem uma fé sedimentada e amadurecida e que estas têm deixado os mais puritanos dos católicos com nervos e julgamentos à flor da pele.
Embora ambos os autores nas três obras façam uso daquela máxima de que esta é uma obra de ficção, qualquer relação com a realidade é mera coincidência, devo dizer que há mais coincidências nelas do que possam os autores adverti-las. E nesse sentido, penso que as três não deixam de ser ou vir a ser uma espécie de teleologias da Igreja Católica, no que diz respeito aos potenciais eleitos papas ao longo dos últimos tempos. Em “Sandálias do Pescador”, não somente a ideia de um cardeal elegível e depois eleito papa, o fictício Kiril Lakota, que guarda uma singular relação com o papa da vida real, Karol Józef Wojtyła, eleito papa em 1978, sob a denominação de João Paulo II. Ou ainda, a Vossa Eminência, o cardeal Luca Rossini, argentino (filho de imigrantes italianos), de “A Eminência”, que antevê, de algum modo e sob inúmeras verossimilhanças, o papa Francisco. Ao contrário do primeiro, Kiril, Rossini é eleito papa, mas não aceita o cargo e o deixa a cargo do segundo mais votado, o cardeal de Milão.
Que Morris West se tornou célebre por sua genial escrita, também o é por esse dom “profético” de uma literatura que anda de braços dados com a história e com os fatos históricos. Não parecendo ser diferente, o já também célebre, Robert Harris, com “O Conclave”, que traz à tona, ainda que ficticiamente, a eleição de um filipino (na versão do cinema, um mexicano), o cardeal de Bagdá, Vicent Benítez. Devo ressaltar que entre os “favoritos” para a sucessão de São Pedro/Franciscus está um cardeal filipino, Luis Antonio Gokim Tagle, 67 anos. Depois de dois papas longevos em idade e não necessariamente em pontificado, como fora São João Paulo II, não estaria a Igreja, novamente, sob a inspiração do Espírito Santo, à procura de um reinado que alcance ainda mais as periferias do mundo e tenha saúde suficiente para isto e para enfrentar com coragem as demandas do tempo presente? Aguardemos as próximas páginas e capítulos de um grande best-seller que é a vida real.
Em comum, as três obras apresentam uma Igreja a partir de uma metáfora muito significativa: uma grande barca, singrando os mares bravios, seguindo firme, ainda que com suas estruturas gastas pelo tempo, para o caminho que o Cristo apontou e aponta, qual seja, o Reino de Deus. E, nesse sentido, seja no contexto dos anos 60, seja no contexto dos anos 90 e seja no tempo mais recente, à necessidade de dar respostas ao mundo, sem deixar de firmar-se sobre a pedra sob a qual Jesus edificou a sua Igreja. Desafios e perfis de Igreja e pessoas que conduzam o timoneiro com segurança, mas também com ousadia, destemor e, acima de tudo, com amor, muito amor.
Vejamos…
O espírito doente é um instrumento desafinado na grande sinfonia que é o diálogo de Deus com homem. Aqui, talvez, possamos ver a revelação mais perfeita do significado da responsabilidade humana e da compaixão de Deus pelas suas criaturas. (Kiril I – As Sandálias do Pescador – Morris West).
(…) essa eleição pode ser… a meu ver ela precisa ser… um novo começo para a Igreja. (…) Roma está perdendo a relevância, porque as pessoas não estão sendo ouvidas. (…) As ovelhas famintas olham para cima e não são alimentadas. (…) Elas estão sendo alimentadas, disse ele, mas nós as estamos alimentando com papel em vez do pão da vida! (Cardeal Turi – A Eminência – Morris West).
O dom de Deus para a Igreja é a sua variedade (…). Nenhuma pessoa ou nenhuma facção deve procurar submeter as demais. ´Sede submissos uns aos outros no temor de Cristo´, é o que Paulo exorta aos fiéis em outra parte da mesma Epístola (…). Nossa fé é uma coisa viva precisamente porque ela caminha de mãos dadas com a dúvida. Se existisse apenas a certeza, e não houvesse dúvida alguma, não haveria mistério, não haveria necessidade da fé. (Cardeal Rossini – O Conclave – Robert Harris).
A esta altura do século XXI, quem calçará às Sandálias do Pescador? Qual, das 133 Eminências, após o Conclave de maio de 2025, deixará de ser o Príncipe para ser o novo Papa da Igreja Católica? Melhor do que fazer suas apostas, apelo que rezem pelo seu futuro, o porvir de uma instituição tão combalida nos últimos séculos, tão longe de Deus e de seu rebanho, esperançoso que o afeto de Franciscus persevere e faça brotar do seu coração, mais do que um soberano, alguém que tenha o cheiro das ovelhas, mais conciliador do que conservador ou liberal, mais sob a condução constante do Espírito Santo e Imitação do Cristo do que tão somente da Cúria, da compreensão de Igreja A, B e até C e de alguns de seus rígidos e nada cristãos ditames e preceitos. O amor segue sendo a razão de tudo. “Só o amor, só o amor. O amor é tudo. Viverei o amor” (Santa Teresinha).
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