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Prof. Dr. Claudefranklin Monteiro Santos (*)

 

Na expectativa do lançamento da nova edição do documentário Anthology (1995), revisito minhas memórias e me reencontro com alguns dos momentos mais marcantes de minha adolescência e primeira parte da fase adulta. Naquele célebre ano, havia acabado de ingressar no mercado de trabalho, iniciando minha carreira docente. Tinha cerca de vinte a vinte um anos de idade, e desde os doze era fã da banda britânica The Beatles, que conheci acidentalmente, na casa de minha irmã mais velha, Claudineide, quando mexia em alguns vinis e me deparei com um que me chamou logo a atenção: Help (1965). Não demorou muito tempo e logo dividi a descoberta com o amigo Vicente Celestino de Souza Bezerra.

O grupo fez parte das melhores trilhas sonoras de minha vida, até a presente data, com destaque para a canção In My Life (1965), do álbum Rubber Soul. Música que, anos depois, mereceu uma versão em português, belissimamente interpretada por Rita Lee (2001). Ela tem uma letra formidável, que diz muito para mim e toca no mais profundo de minha essência, pois fala de memória e também da fluidez da existência humana, daquilo que passa e deixa de existir, mas permanece vivo em nossas lembranças.

Coincidência ou não, esta semana, a imprensa deu destaque ao assassino de Jonh Lennon e a sua décima quarta tentativa de se livrar da prisão perpétua, desde 1980, quando deixou órfãs milhões de pessoas do mundo e não somente a Julian e Sean, seus filhos, e um vazio no coração de Yoko Ono, sua viúva. Mark David Chapman jamais apagará a cena grotesca e odiosa que protagonizou naquele dia 8 de dezembro, à frente do edifício Dakota, em Nova Iorque. Além de encerrar de uma vez por todas a possibilidade de reunir, novamente, os quatro Beatles, também interrompeu a carreira de um dos maiores talentos musicais de todos os tempos, quando o assunto é Rock in roll.

Tavito morreu em 2019 Foto: Facebook / Reprodução

No ano anterior, o cantor Tavito (1948-2019) lançava a canção Rua Ramalhete, que fez muito sucesso, ao lado de Casa no campo, famosa na voz de Elis Regina. Num trecho de Rua Ramalhete, o artista mineiro, dizia:

Vamos deixar tudo rodar / E o som dos Beatles na vitrola / Será que algum dia eles vêm aí / Cantar as canções que a gente quer ouvir?

Porque esse era o sentimento de quem curtia a banda até 1980: a reunião de John, Paul, Harrison e Ringo, separados desde o final dos anos 70.

Segundo Tavito, a Rua Ramalhete, que de fato existia e ainda existe (bairro Anchieta, zona sul de Belo Horizonte-MG), era uma menção subjacente à Penny Lane, a famosa rua de Liverpool, onde os Beatles imortalizam na famosa imagem dos quatro atravessando uma faixa de pedestre e também na música de mesmo nome, em 1967.

O sonho de Tavito, para aquele distante 1979, estaria longe de acontecer. Não pela possibilidade de os Beatles voltarem a cantar juntos, novamente, nem que fosse para uma apresentação ou projeto especial; mas porque o regime militar jamais consentiria, como jamais consentiu. Se os rebeldes daqui eram obrigados a se exilarem, para sobreviverem, imaginem os quatro garotos de Liverpool em terras brasileiras?

No documentário Anthology, com os recursos já avançados daquela época, até que nos emocionamos, todos, com a regravação e remasterização do sucesso Free as a bird, como também com os efeitos visuais que traziam à tona os quatro juntos, novamente, pelo menos na arte gráfica e midiática. Sensação ainda maior e mais intensa, recentemente, já com a ajuda da Inteligência Artificial, com o clipe Now and then (2023), que levou fãs do mundo inteiro às lágrimas, inclusive este que vos escreve.

Fato é que, esta semana foi particularmente singular para mim, nesse sentido de nostalgia beatlemaníaca, não somente pelas razões acima mencionadas, mas por, como a um promissor e confortante gatilho de memória,  ter tido a oportunidade de ouvir, mais uma vez,  a canção Rua Ramalhete numa das minhas idas e vindas recorrentes entre Lagarto e Aracaju. E assim,

Sem querer fui me lembrar / De uma rua e seus ramalhetes / Do amor anotado em bilhetes / Daquelas tardes”…

 

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Claudefranklin Monteiro

Professor doutor do Departamento de História da Universidade Federal de Sergipe.

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