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Elucubrações de uma noite insone

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Luiz Thadeu (*)

É madrugada, os ponteiros do relógio na parede teimam em caminhar em círculos. O tempo não para. Sono escasso, pensamentos em profusão.

Quando nasci, na metade do século XX, ganhei um bilhete único chamado “vida”. Sem garantias, sem direito à troca, sem negociação.

Quando cheguei por aqui eu nada entendi. Não me foi dada ideia de quanto tempo irá durar essa viagem, e muito menos se teria que fazê-la sozinho ou se alguém iria sentar-se ao meu lado. Tudo que tenho é o meu corpo e os meus sonhos, assim como todas as outras pessoas que ganharam o mesmo bilhete. Apesar disso, há um segredo que quase ninguém nos conta; somos pessoas únicas, e isso significa que embora o destino final de todos seja o mesmo, o caminho que escolhemos para chegar até aqui é somente nosso.

Por isso, jamais me esqueço de dar o meu melhor, de olhar pra vida com os olhos da esperança, e de sair fora de lugares e de pessoas que não se acomodam à imensidão que sou; pois, no fim, serei apenas eu e os meus sonhos que luto para realizá-los. Procuro fazer valer essa viagem. Por mim, pra mim. Sempre. Aprendi, muito cedo, a olhar o lado belo da vida. Eduquei meus olhos para isso. O feio e o belo convivem lado a lado. O belo me atrai.

A vida é uma viagem que não acaba nunca. Só os viajantes acabam. E mesmo estes podem prolongar-se em lembranças, em sensações, em novas emoções. Quando alguém, certa vez, sentou ao meu lado e me disse: “Não há mais o que ver”, eu saiba que não era bem assim. O fim de uma viagem é apenas o começo de outra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que já se viu. Ver na primavera o que se vira no verão, ver de dia o que se viu de noite, com o sol onde primeiramente a chuva caía, ver a relva verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para repeti-los, e também traçar caminhos novos. Há sempre novos caminhos a serem percorridos. É preciso recomeçar a viagem. Sempre.

Para aqueles que estão dispostos a aprender, a vida ensina. Mas só aprende aquele que quer.

A vida e o tempo são os dois maiores professores. A vida nos ensina fazer bom uso do tempo, enquanto o tempo nos ensina o real valor da vida. Lembrando sempre que “a vida não é breve. Ela é suficiente. Nós que perdemos tempo com coisas inúteis”, ensinou Sêneca, há muitos anos.

Desperdiçar tempo é esbanjar o patrimônio divino. “Quem mata o tempo, não é assassino, mas suicida”, escreveu Millôr Fernandes.

Feliz quem não exige da Vida mais do que ela espontaneamente lhe dá, guiando-se pelo instinto das borboletas, que buscam o sol quando há sol.

É importante sabermos respeitar nosso tempo… às vezes precisamos ficar quietos por um tempo, nos fazendo companhia, nos dando colo, alento, nos ouvindo, nos protegendo… E, depois, tudo se renova, renasce. A vida é rasgar-se e cerzir-se continuamente.

É fundamental saber respeitar os momentos. Os silêncios. As vontades. O não acontecer das coisas. Apenas respeitar, não brigar, não obrigar, não forçar. Viver é saber se equilibrar entre aspirações, frustrações e ressentimentos. Saborear todos os momentos. Viver é saber guardar sons, cheiros, imagens, criar memórias afetivas, que nutrem o caminhar.

Para não ser o escravo ou mártir do Tempo, embriague-se; embriague-se sem parar! De vinho, de poesia ou de virtude, como quiser”. Charles Baudelaire.

Embriagar-me de vida é o que me apaixona. Como bem descreveu Schopenhauer, “A vida é uma constante oscilação entre a ânsia de ter e o tédio de possuir.”

De todas as lições que a vida tem me ensinado, as principais são essas: há decisões que tenho que tomar, há mudanças que precisam acontecer, tudo muda constantemente… há medos que preciso enfrentar… há solidões que preciso suportar… há lágrimas que preciso derramar… há recomeços que precisam florecer… em mim. Porque mesmo quando penso que não sou capaz de suportar algo, o tempo me mostrou, pelas porradas que levei, que sou mais forte do que penso e mais corajoso que imagino. A vida tem me ensinado que é premente criar bons momentos, porque os ruins aparecem sozinhos.

Por isso, a vida não me cansa, ainda tenho muito que aprender. Sou, e serei sempre, um eterno aprendiz.

O sono chegou, melhor não desperdiçá-lo.

 

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Eng. Agrônomo, Palestrante, cronista e viajante. Autor do livro “Das muletas fiz asas”, o latino americano mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 151 países em todos os continentes.

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Luiz Thadeu Nunes

Engenheiro Agrônomo, escritor e globetrotter. Autor do livro “Das muletas fiz asas". E-mail: luiz.thadeu@uol.com.br

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