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Por Luciano Correia (*)

 

Como se estivéssemos bem servidos de muitos e bons jornalistas, Sergipe perdeu logo dois num dia só. Dois jovens que fizeram muito pelo desenvolvimento de nosso jornalismo e que certamente tinham muito a fazer na nossa imprensa. Mônica, carioca que chegou aqui como Dantas, e depois voltou a usar o sobrenome Pinto de solteira, teve longa carreira no extinto Cinform impresso, mas passou por outros jornais e fundou revista. Foi a editora da Sergipe +, uma publicação de variedades local infelizmente também extinta.

Assessorou a Fecomércio durante anos, construindo afetuosas relações de amizade com vários empresários locais. Era editora-chefe do portal F5 News, dos empresários Fernando Carvalho e Laércio Oliveira. Sou testemunha do carinho que os dois sentiam por ela. Sempre que me encontra, o senador Laércio sequer pergunta o tradicional “Tudo bem?”. A primeira coisa que diz é sempre: “Tem visto nossa Moniquita?” Era assim que eu a chamava.

Amigo íntimo do casal Mônica-Sidnei Xambu, frequentei suas variadas casas, aqui ou em Curitiba, como também fui frequentado por eles, fora os incontáveis almoços e cervejadas por aí, por aí. Perco uma grande amiga, Sergipe perde uma grande mulher, além da profissional competente que sempre foi. À certa altura da carreira, incorporou no seu currículo a função de biógrafa, tendo feito belíssimos trabalhos sobre empreendedores como Raimundo Souza (da antiga farmácia Galeno), Raymundo Luiz e tantos outros, incluindo o próprio comércio aracajuano, personagem de uma de suas sortidas biografias.

Mônica era uma mineira-carioca que jamais perdeu o sotaque, talvez para não se sentir tão estrangeira nos lugares onde viveu. Do Rio, conservava em Aracaju um grupo só de cariocas como ela e Xambu, aqui estabelecidos há décadas. Uma confraria de amigos muito queridos que se reuniam no seu fechado clube para falar reminiscências da cidade maravilhosa, todos, como ela, puxando até hoje aquele sotaque típico dos cariocáááxxx.

Justo quando deu por encerrada sua temporada no frio e insípido Paraná e recomeçar uma nova vida em marcha lenta na sua querida Aracaju, a doença apontou os primeiros sinais. Enfrentou o câncer com um destemor que nunca vi em ninguém mais. Uma leoa rugindo o tempo todo na resistência, pela vida, em alto astral. Foram inúmeras manhãs de sol nascendo e mergulhos na praia em frente à sua casa, que ela festejou como se fossem os últimos, pois que eram mesmos.

No último aniversário, em novembro, mesmo dia em que Mamãe completa anos, ela fez questão de minha presença, com um argumento inapelável: “Porque esse é meu último aniversário, Luc”. Tomei uma pancada com tamanha coragem. E voei de Itabaiana do meio do níver de Mamãe para a lendária Atalaia Nova a tempo de pegar a cachaça e a alegria de sua festinha entre amigos. Pouco mais de seis meses depois, ela cumpriu o aviso: nos deixou de novo perplexos, tristes, sem saber o que dizer com a falta que vai nos fazer. Voa feliz, Moniquita!

André Barros nunca foi um amigo íntimo. Vivemos de relações cordiais, mas de uma cordialidade que não é dessas que rolam por aí. Um gentleman, de tão educado, coisa rara em Sergipe dos muros baixos. Trabalhamos na CBN Aracaju, na primeira fase da CBN, quando fui encarregado da implantação do jornalismo. Ele, um âncora seguro, conhecedor como poucos da linguagem de rádio e TV, excelente texto. Era, disparadamente, o melhor jornalista e apresentador de rádio da província. Sua competência, lembre-se, nunca foi obra do acaso, senão pelos anos de estrada aqui e fora de Sergipe, nas TVs Globo e Manchete de Brasília, e em jornais.

André Barros

Quando âncora da CBN, eu fazia um comentário diário, num quadro chamado de Liberdade de Expressão. Ele, gentil, provocador, sempre me estimulava abrindo um ângulo novo, fazendo daquela dobradinha um raro momento criativo de jornalismo no rádio. Nos cargos públicos que exerci, sempre me entrevistou com honestidade, perguntando tudo, mas fazendo jornalismo com qualidade, sem ser chapa branca nem ser chancelado pelos pagadores de jabás públicos e privados. Estreitamos mais os laços num café em que ele batia ponto no Riomar. Outro dia, de passagem, eu comentei com ele: “Puxa, você abandonou o posto no café, rapaz? Vamos atualizar nossas conversas, fofocar um pouco”. Ele me contou de problemas de saúde, de forma apressada e superficial. Não me dei conta da gravidade. Esta semana é que vi que não vamos mais tomar nosso café.

 

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Luciano Correia

Jornalista e professor da Universidade Federal de Sergipe

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