Cultura Empresarial

Ausência presente: O caminho para uma sucessão eficaz nas empresas médias

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Por Juliano César Souto (*)

 

A sucessão nas empresas familiares de médio porte é uma das etapas mais sensíveis do ciclo empresarial. Muito além de um ato administrativo, é uma travessia emocional e estratégica que coloca à prova valores, disciplina, governança e, sobretudo, maturidade das gerações envolvidas.

Um artigo recentemente publicado na Exame — “Três formas de ajudar sua equipe sem parecer controlador — e gerar mais resultados” — traz uma mensagem essencial: ajudar não é controlar. Na liderança e na sucessão, essa regra é decisiva. A autonomia só floresce quando o apoio é dado na medida certa.

E poucas expressões traduzem esse equilíbrio tão bem quanto a noção de ausência presente: estar próximo para orientar, mas distante o bastante para permitir que o novo possa nascer.

Raymundo Juliano e a “ausência presente” como filosofia de gestão

No Grupo Raymundo Juliano, essa postura guiou décadas de construção empresarial.  Meu pai  não praticava ausência nem microgestão. Praticava observação, diálogo e confiança — uma liderança silenciosa, mas sempre atenta.

E sua frase mais repetida resume a essência da sucessão responsável:

“Sucessão é via de mão dupla: é preciso quem queira ceder e quem esteja preparado e disposto a assumir.”

Essa verdade simples explica por que tantas empresas familiares travam: há quem não queira abrir espaço; há quem queira assumir, mas ainda não esteja preparado; ou há quem esteja preparado, mas não receba a confiança necessária.

O artigo da Exame e a liderança moderna

A reflexão destaca três práticas essenciais ao líder contemporâneo:

  1. Entrar na hora certa

Intervir demais sufoca. Intervir de menos desorienta. É a prática da ausência presente: orientar sem impedir que o outro se desenvolva.

  1. Apoiar sem transformar ajuda em vigilância

A equipe precisa sentir suporte, não fiscalização. Na sucessão, isso vale para pais e filhos, sócios e sucessores, fundadores e executivos.

  1. Ajustar a intensidade da ajuda

Cada desafio exige um tipo de acompanhamento. A sabedoria está em calibrar presença e liberdade.

A travessia das empresas médias: profissionalizar sem perder identidade

A sucessão bem-sucedida segue alguns princípios universais:

– Profissionalização não substitui a família — qualifica a família.

– O fundador evolui para mentor, não para sombra.

– O sucessor precisa querer — e estar preparado.

– Cultura forte é a ponte entre gerações.

Empresário Raymundo Juliano

Um exemplo brasileiro que inspira

A história de grupos como a Fasouto mostra que a sucessão eficaz nasce de três pilares:

– Executivos capacitados.

– Sucessores engajados.

– Fundadores presentes, mas não invasivos.

É a prática viva da frase de Raymundo Juliano: ceder com sabedoria, assumir com responsabilidade.

Conclusão

A liderança moderna exige cuidado, presença e equilíbrio. A sucessão empresarial exige ainda mais: coragem para abrir espaço e competência para ocupar esse espaço.

“A verdadeira sucessão só acontece quando há quem ceda — e há quem esteja pronto para assumir. A ausência presente é a ponte que conecta esses dois lados.”

 

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Juliano César Faria Souto

Estanciano, 61 anos, Administrador de Empresas graduado pela Faculdade de Administração de Brasília, com MBA em Gestão Empresarial pela FGV. Atua como sócio-administrador da FASOUTO, empresa do setor atacadista distribuidor e autosserviço.

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