Domingo em Desbaste

Nosso hino, um canto de esperança coletiva

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Por  Heuller Roosewelt Silva Melo (*)

 

Neste 7 de Setembro, em meio às bandeiras e celebrações, somos convidados a um exercício profundo: ouvir nosso hino pátrio não como um eco distante de um passado imutável, mas como uma partitura aberta, operando em uma interpretação do nosso tempo. Nosso sentimento patriota, tantas vezes sequestrado por narrativas excludentes, pode e deve ser um sentimento que nos une na construção de um futuro coletivo. E se as respostas para esse futuro já estivessem sussurradas nos versos que cantamos desde a infância?

Quando a melodia começa, ouvimos algo sobre um marco fundador: “Ouviram do Ipiranga as margens plácidas / De um povo heroico o brado retumbante…” — já no primeiro verso, nosso hino nos lembra que a independência não nasceu do silêncio, mas de um grito coletivo. E gritar não é apenas romper correntes políticas: é também se erguer contra a indiferença, as desigualdades e as injustiças.

E que “brado” é esse? Esse conclamar não ecoa mais de uma única voz, mas da sinfonia uníssona de muitas vozes. É o grito das mulheres que lutam por equidade; dos povos originários que defendem suas terras e sua cultura; dos jovens da periferia que sonham com oportunidades; da comunidade LGBTQIAPN+ que clama por respeito.

O “povo heroico” não figura uma estátua; somos todos nós, em nossa luta diária e plural pela dignidade.

Quando o hino diz que “o sol da Liberdade, em raios fúlgidos, brilhou no céu da Pátria nesse instante”, ele nos convida a enxergar que liberdade não é um ponto de chegada, mas um processo vivo, que precisa ser cultivado todos os dias em cada espaço social, no trabalho, na família e na comunidade.

A partir daí ele prossegue com uma promessa que é, na verdade, um projeto em constante construção: “Se o penhor dessa igualdade / Conseguimos conquistar com braço forte”. Este trecho não celebra uma igualdade já alcançada, mas a busca incessante por ela. O “braço forte” aqui não é o da violência, mas o da resistência e da resiliência, da união e do trabalho coletivo. É a força dos movimentos sociais, dos educadores que transformam vidas, dos cientistas que buscam a cura, de cada cidadão que estende a mão ao próximo. A igualdade, essa joia rara, é uma conquista diária, e o hino nos lembra que a liberdade só é plena quando é para todos.

Em sua exaltação à nossa terra, o hino nos oferece uma das mais belas e atuais chaves para o futuro: ao afirmar que o Brasil é “gigante pela própria natureza, és belo, és forte, impávido colosso”, podemos ir além da retórica. A verdadeira grandeza do país não está apenas em sua terra ou riquezas, mas em sua pluralidade cultural, na diversidade de vozes que compõem este imenso território e que, juntas, constroem futuro.

E, quando ecoa que “nossos bosques têm mais vida, nossa vida no teu seio mais amores”, encontramos talvez a mensagem mais atual: precisamos cuidar da terra, das florestas, da vida que pulsa. O patriotismo do século XXI é também um ecopatriotismo, que reconhece que não há pátria sem meio ambiente saudável e sem relações humanas pautadas pelo respeito mútuo.

Entendemos essa grandeza não como um convite à exploração predatória, mas como um chamado à responsabilidade. Somos gigantes em biodiversidade, em recursos hídricos, em florestas que são o pulmão do mundo. Ser um “gigante” em 2025 é ser um verdadeiro líder em sustentabilidade

E talvez a mais acolhedora de todas as imagens abordadas seja a de um Brasil que é “mãe gentil” para os “filhos deste solo”. Uma mãe não diferencia seus filhos. Ela acolhe, nutre e deseja o bem de todos, sem distinção de cor, credo, gênero ou origem. Ser uma “mãe gentil” é a metáfora perfeita para um Estado de bem-estar social, que cuida dos seus, que oferece saúde, educação e segurança para que cada filho e filha possa florescer. É a antítese de um país que abandona os seus à própria sorte.

Por fim, o hino aponta para a frente, com uma visão de esperança e justiça. “Paz no futuro e glória no passado.” A paz que buscamos não é a do silêncio ou da omissão, mas a paz fruto da justiça. É por isso que o verso seguinte a condiciona: “Mas, se ergues da justiça a clava forte”. A paz duradoura só pode ser construída sobre alicerces sólidos de equidade e direitos garantidos.

Bandeira do Brasil Imagem: Pixabay

Este é o nosso horizonte: um futuro em que a justiça floresça, permitindo que a verdadeira paz se instale. Ainda assim, o hino nos convida a refletir: “Verás que um filho teu não foge à luta”. Essa luta de hoje não é armada, mas ética e cidadã: é a coragem de lutar por justiça social, igualdade de oportunidades, valorização do trabalho e dignidade para todos.

Neste Dia de Independência, que possamos nos reapropriar do nosso hino, não como um dogma, mas como um poema inspirador. Que o “sonho intenso” do Brasil que ele descreve seja o nosso projeto coletivo.

Ser patriota hoje é lutar ativamente pela igualdade que nosso hino promete. É proteger a natureza “gigante” que ele exalta. É trabalhar para que a “mãe gentil” acolha, de fato, todos os seus filhos. É erguer a “clava da justiça” contra toda forma de opressão.

A verdadeira independência se constrói a cada dia, em nossas atitudes, em nosso voto, em nossa solidariedade.

Que o brado retumbante que ecoe em nossos corações seja o da esperança, da pluralidade e da justiça social para todos os brasileiros.

Que o nosso patriotismo seja mais do que bandeiras ao vento: seja compromisso vivo com um Brasil mais justo, plural e sustentável.

Que cada gesto nosso reflita no sonho de uma nação que se reinventa não pela força, mas pelo afeto coletivo e pela consciência social.

Finalmente, que este seja o nosso verdadeiro brado retumbante: para que, juntos, construamos o Brasil que desejamos.

#ParaTodosVerem: A imagem deste texto apresenta uma representação artística do globo terrestre, com o continente sul-americano centralizado. O Brasil é o ponto focal da composição. O mapa do Brasil está preenchido com uma vibrante colagem de rostos de pessoas de diversas origens, idades e etnias, em diferentes tonalidades de pele e expressões felizes, sugerindo a riqueza da pluralidade do povo brasileiro. Linhas tênues e luminosas, em tons de dourado, irradiam do mapa do Brasil para diversas partes do globo, conectando-o globalmente e representando comunicação e intercâmbio de ideias. No topo da imagem, em destaque e curvado acima do globo, lê-se a frase “GIGANTE PELA PRÓPRIA NATUREZA” em letras maiúsculas douradas. A arte busca transmitir uma mensagem de união, diversidade, conexão global e a força que reside no povo brasileiro.

 

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Heuller Roosewelt Silva Melo

Um historiador, fazedor de contas; e um engenheiro, contador de histórias; progressista; bancário; esposo; pai ativo e presente. Sou do tipo que constrói templos à virtude e cava masmorras ao vício.

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