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No Natal, presente é estar presente.

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Por Luiz Thadeu Nunes (*)

 

Todos corridos, parece que o tempo acelerou as horas, os dias, as semanas, os meses, os anos. Não temos tempo para nada. Estamos açambarcados de coisas quase sempre inócuas. Perdemos tempo com questiúnculas. Vivemos a época do descartável. Não precisa nem quebrar, basta avariar. Joga-se fora, troca-se, coloca outro no lugar. Isso serve para objetos, coisas e relacionamentos.

É Natal outra vez. Tempo de reunir, juntar, ajuntar, aglomerar, para celebrar. Mas celebrar o que mesmo? O Papai Noel e suas renas? O panetone e os presentes? Roupas novas e reluzentes?

Com o mundo cada vez mais mercantilista, onde o consumismo virou religião, falar em Jesus Cristo ficou quase démodé.

O número de agnósticos cresce no mundo todo, especialmente nos países ditos “desenvolvidos”.

A mídia nos bombardeia a cada segundo: compra, compra, compra.

Importamos novo modismo norte americano, mais um, a Black Friday, onde compramos o que não precisamos, gastando o que não temos, nos endividamos. Tempos em que tudo tem preço, nada tem valor.

Aprendi que o melhor desconto da tal Black Friday foi aquele que não comprei o que não precisava e economizei 100%.

Natal para mim remete ao tempo em que minha querida e saudosa mãe Dinha, com seu salário de professora primária, ia ao comércio, nos armazéns e comprava “pano”, como era chamado o tecido e seus aviamentos. Depois íamos todos na costureira, nossa vizinha, para tirar as medidas e fazer a roupa nova de toda a família para a noite de Natal. Nossa pequena casa, com piso em cimento corrido, vermelho, era encerrado com um escovão pesado e cera parquetina vermelha. A pequena árvore de Natal verde, com ponteira dourada, bolas que lembravam casca de ovo de tão frágeis, e pisca-pisca de frutinhas e Papai Noel a enfeitar nossa pequena casa. Na radiola Telefunken, pé de palito, madeira clara, tocava ‘Jingle  bell’.

Embaixo da árvore, os presentes que, por mágica, amanheciam debaixo de nossas camas de campanha no dia seguinte. Presentes de Papai Noel.

As melhores comidas que tenho registradas em minha memória gustativa vêm dessa época. Arroz com passas e abacaxi, farofa, pernil, torta de camarão, macarronada e peru. Detalhe, o peru era comprado vivo e morto na véspera. Nessa época não exista chester. Acompanhado de refrigerantes e espumante George Aubert, da garrafa verde, que à época era chamado de champanhe. E, o melhor, as sobremesas: pavê, bolos, torta fria e rabanadas. O Natal era a única época do ano que se comia nozes, tâmaras, damasco, castanhas portuguesas e queijo do reino Jong, o famoso queijo cuia.

Tudo tão simples, tão marcante. Antes da meia noite, íamos: mamãe e os filhos maiores, para a igreja do bairro assistir à Missa do Galo.

Hoje, fico a me perguntar como minha mãe, com seu minguado salário de professora primária fazia para nos sustentar. Milagre de mãe, bênçãos divinas.

Nos Natais eu ganhava carros de fricção ou de controle remoto. Tive carro de polícia, dos bombeiros, ambulância; além de Forte Apache. Quando o dinheiro dava, até autorama e ferrorama da marca Estrela, o maior fabricante de brinquedo da época, eu ganhava.

Hoje tudo mudou. Os brinquedos são eletrônicos e tecnológicos, de última geração. Crianças de dois anos se entretêm com celulares e tablets.

Naqueles natais não se via tantas pessoas passando fome em nosso entorno.

É vergonhoso e aviltante ver 30 milhões de pessoas passando fome, segundo o IBGE, em um país tão rico, um dos maiores produtores de alimentos do mundo.

O Brasil com enorme concentração de renda e má distribuição, nos torna iníquos e bestiais. Sai governo, entra governo, de todas as colorações partidárias, muitas promessas, e as coisas só pioram.

Se você não tem muito para dar, dê atenção e afeto neste Natal, são coisas que nunca envelhecem, não saem de moda. E lembre-se que celebramos o nascimento de Jesus Cristo, o filho de DEUS.

Mas é Natal, é nascimento, tempo de renovar a esperança de tempos melhores. Fico com a simplicidade da poetisa goiana Cora Coralina: “Enfeite a árvore de sua vida com guirlandas de gratidão! Coloque no coração laços de cetim rosa, amarelo, azul, carmim. Decore seu olhar com luzes brilhantes, estendendo as cores em seu semblante. Em sua lista de presentes em cada caixinha embrulhe um pedacinho de amor, carinho, ternura, reconciliação, perdão. Tem presente de montão no estoque do nosso coração e não custa um tostão”. E lembre-se: o Natal não é somente em dezembro, mas o ano todo.

Feliz Natal para todos, com saúde, fé, paz, amor, respeito e proteção divina.

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Luiz Thadeu Nunes

Engenheiro Agrônomo, escritor e globetrotter. Autor do livro “Das muletas fiz asas". E-mail: luiz.thadeu@uol.com.br

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