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Por Hernan Centurion (*)

 

Estamos  no segundo Domingo do mês de maio do corrente ano de 2025. Faltava pouco mais de 1 semana desde o dia em que escrevo esse singelo artigo, em pleno voo de regresso de uma inesquecível viagem turística à encantadora e aprazível região vitivinícola de Mendoza, terra dos nossos “hermanos” argentinos e do saudoso Papa Francisco que há pouco nos deixou.

Todavia, o que de fato representa de tão relevante este dia aparentemente banal? Comemora-se, pois, o Dia das Mães, de pleno conhecimento da imensa maioria dos leitores que agora nos prestigiam ao desfrutar desta coluna dominical.

Pois bem, antes mesmo de relatar sobre a data especial propriamente dita, gostaria de descrever brevemente o que representa a maternidade. Seria eu capaz? Obviamente, pelo fato de haver nascido com cromossomos sexuais XY, jamais poderia exercê-la na sua essência, tendo que embasar-me na literatura e na experiência observacional, as quais, com o auxílio do buscador Google ou Wikipédia e da vivência de 45 anos como filho e 20, como marido, respectivamente, talvez não encontraria grandes dificuldades.

Inicio, como de costume, pela semântica. A palavra mãe, biologicamente, caracteriza-se pela “figura da fêmea que deu a luz a filhos”; como também denota: “a representação da mulher que cria e cuida; a mulher que oferece cuidado e proteção; e aquela que é um ponto de referência”. Representa, indubitavelmente, parte indispensável para o sustento da célula primaz da sociedade: a família.

Na história mundial, tivemos diversas mulheres que bem retratam a maternidade no seu mais límpido entendimento, desde as mais conhecidas e veneradas como, por exemplo, Maria de Nazaré, a mãe de Jesus Cristo, referência de fidelidade inabalável, amor incondicional e indescritível resiliência, assim como milhões de anônimas genitoras mundo afora que, mesmo em tremenda adversidade sócio-econômica que nossa sociedade lhes impõe, conseguem prover seus filhos do mínimo necessário à sobrevivência, várias vezes doando-se sublimemente à sua prole, comprometendo, em alguns momentos, sua própria integridade física. Ser mãe transcende quaisquer palavras que tento agora adjetivar.  É doar o impossível… é amar sem limites.

Diante da breve e superficial descrição da maternidade, pela qual jamais poderia eu retratar em poucas e singelas palavras o que realmente significa, passarei, doravante, a explicar a origem do Dia das Mães e o porquê da escolha do segundo Domingo do mês de maio, celebrado em diversos países do mundo. Não se pode negar que, além do cunho comemorativo, há também um viés comercial, o qual em nada desmerece este momento de reconhecimento por todo legado que nossas queridas mães nos deixaram, mesmo entendendo que tal gesto valoroso deve ser praticado durante todos os 365 dias do ano.

Ana Jarvis Foto: Wikipedia

Então vejamos os fatos: toda essa narrativa começa em meados do século XIX, na América do Norte, quando à época inúmeras mães perdiam seus rebentos muito precocemente, vitimados por doenças infecto-contagiosas provenientes das condições sanitárias e de assistência à saúde extremamente precárias. Esta miserável realidade não foi diferente para Ann Maria Reeves Jarvis, a qual sepultara 9 de seus filhos em tenra idade, restando-lhe acompanhar o crescimento de apenas outros 4, numa época em que as taxas de natalidade e mortalidade infantil eram extremamente elevadas.

Tendo ela passado por tantos infortúnios pessoais e familiares, sendo de formação cristã metodista e sensibilizada, também, pelo sofrimento psicológico de outras mães enlutadas, decidiu criar uma associação beneficente, Mothers Days Works Clubs, que rapidamente ampliou-se. Eis que poucos anos depois, em 1861, deflagrou-se a Guerra Civil Americana, quando se multiplicaram as organizações com mais um novo propósito, Mother’s Friendship Days, composto por grupos de mães que lamentavam temporária ou definitivamente pelos percalços dos filhos nos campos de batalha e que puderam organizar, juntas de um mesmo lado, todas as genitoras inclusive aquelas cujos filhos guerreavam em frentes opostas.

Diante da repercussão positiva deste engajamento maternal em plena rivalidade entre o Norte, a União, e o Sul, os Confederados nos EEUU e mesmo em uma época na qual as mulheres detinham parcos direitos civis, estas agremiações femininas vieram a fortalecer-se cada vez mais, ganhando notoriedade político-social.

Mesmo após a morte de Ann em 9 de maio de 1905, sua filha Anna deu continuidade a este legado e, com a atuação massiva da Igreja Metodista, passou-se a comemorar, pela primeira vez, em maio de 1907 (data alusiva à morte de sua genitora), o Dia das Mães. Tal feito foi reproduzido nos anos seguintes quando, enfim, em 1914, o então presidente norte-americano Woodrow Wilson assinou a resolução do Congresso decretando, oficialmente, o segundo Domingo do mês de maio, como data em homenagem às mamães naquele país.

No Brasil, tal iniciativa chegara com forte motivação, inicialmente no Rio Grande do Sul, culminado mais tarde com o decreto de 1932 do então presidente Getúlio Vargas, instituindo o Dia das Mães também no segundo Domingo do mês de maio no calendário nacional.

Muito mais que uma data histórica ou do imenso apelo mercantilista atualmente nela embutido, este período festivo serve, contudo, para uma profunda reflexão acerca do papel da mulher como alicerce familiar e na sociedade, como também a relevância do carinho, afeto, dedicação, aconselhamento e proteção maternos responsáveis por nossa formação pessoal, física e emocionalmente, desde as primeiras mamadas do colostro repleto de anticorpos protetores no seio materno, até os ensinamentos e advertências despretensiosamente fornecidos, que muito nos auxiliaram e ainda auxiliam a encarar o desafios que a vida impiedosamente nos impõe.

Acordar na manhã de Domingo e poder almoçar em família, dar um beijo caloroso na face, bem como um abraço apertado na nossa mãe são, indiscutivelmente, as melhores formas de agradecer-lhe por todo amor dispensado aos filhos, sem distinção ou privilégios.

Para aqueles que, como eu, não poderão retribuir fisicamente, restam-lhes as dulcíssimas lembranças de um passado repleto de ternura, de tantos bons períodos que instantaneamente vêm-me à memória e, por conseguinte, fazem-me derramar lágrimas de imensa saudade. Como bem cantou Almir Sater: “a saudade é uma estrada longa, que começa e não tem mais fim…” Posso até visualizar, projetado na tela da minha mente, seu semblante cândido e radiante de contentamento. A sua presença em meu coração é tão real, intensa e constante, que por vezes custo acreditar que momentaneamente partiu. As chamas dos amores materno e filial não se consomem e jamais se apagarão, posto que são energia transmitida por gerações durante séculos e mais séculos, sem fim.

A todas as mamães vivas em matéria ou espírito, em nome de Ann Reeves Jarvis, nossa gratidão!

 

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Hernan Centurion

(*) Médico cirurgião e coloproctologista. Mestre maçom da Loja Maçônica Clodomir Silva 1477

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Hernan Centurion

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